Marinha quer lançar, ainda este mês, edital para construir estação antártica
Eduardo Carvalho
Do G1, em São Paulo
A Marinha do Brasil recebeu nesta quinta-feira (10) o projeto executivo da nova estação antártica Comandante Ferraz e anunciou que vai lançar até o fim deste mês o edital para escolher a empresa que vai construir o novo complexo, utilizado por cientistas e militares no continente gelado.
O projeto, elaborado pelo escritório de arquitetura Estúdio 41, de Curitiba, levou em conta considerações da Marinha e dos ministérios do Meio Ambiente e da Ciência, Tecnologia e Inovação para ser preparado. O escritório venceu em abril um concurso promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Uma animação divulgada pela corporação nesta quinta mostra como ficarão os ambientes externo e interno da nova estação antártica, que vai substituir as instalações destruídas por um incêndio em fevereiro de 2012, que matou dois militares.
Cronograma
Segundo o projeto executivo, o custo estimado para a construção do complexo será de R$ 110 milhões. O edifício principal terá uma área total de 4.500 m² e as unidades isoladas, como as torres de energia eólica e a área para helicópteros, somarão outros 500 m². A nova estação terá capacidade para abrigar 64 pessoas, segundo a Marinha.
O complexo terá 18 laboratórios internos, mais sete unidades isoladas para pesquisas de meteorologia, ozônio, da atmosfera.
De acordo com a corporação, entre dezembro deste ano e janeiro de 2014 serão feitos o levantamento geotécnico do solo e iniciado o plano de remediação da área afetada pelo incêndio, no intuito de descontaminar o solo do local.
Segundo um estudo feito pelas universidades Federal de Viçosa (UFV) e Federal de São Carlos (Ufscar), o solo da antiga estação Comandante Ferraz estaria contaminado por metais pesados como cobre, chumbo e zinco em níveis muito acima dos valores permitidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Por isso a necessidade de procedimento para que os contaminantes sejam removidos de forma eficaz e não prejudique a biodiversidade do local.
Em março de 2014 será iniciada a instalação das fundações da nova estação científica. De março a outubro do próximo ano serão construídos os módulos do complexo, adquiridos os equipamentos e realizada a pré-montagem da estação — procedimento será realizado no Brasil ou fora do país, definição que depende da empresa que ganhar a licitação da Marinha.
Em novembro do próximo ano, as peças já pré-montadas serão transportadas de navio até a Baía do Almirantado, onde fica a estação brasileira, e será iniciada a montagem da nova estação na Antártica. A previsão é que em março de 2015 a obra será concluída e entregue.
Módulo provisório substitui estação oficial
No fim de fevereiro, a Marinha terminou a retirada dos destroços, ação que foi acompanhada pela reportagem do G1, que viajou até a Antártica entre os dias 03 e 12 de fevereiro, durante 31ª edição da Operação Antártica (Operantar).
Desde março, militares e poucos cientistas que seguem para lá utilizam um complexo provisório chamado de Módulos Antárticos Emergenciais (MAEs), compostos por seis dormitórios, uma enfermaria, uma cozinha, além de refeitório, escritório e um laboratório.
Há ainda dois contêineres destinados para o tratamento de esgoto, três para geração e distribuição de energia e mais um para o fornecimento de água potável. De fabricação canadense, os módulos foram adquiridos por licitação emergencial e custaram R$ 14 milhões, montante que serviu para cobrir os produtos e a operação logística.
Incêndio destruiu parte de pesquisas
De acordo com o coordenador de projetos científicos do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), Jefferson Simões, 40% das investigações brasileiras realizadas na estação foram destruídas pelo incêndio. Com as instalações provisórias, é provável que as pesquisas sejam integralmente retomadas na partir da 32ª Operantar, que teve início neste mês e deve durar até março de 2014.
As investigações científicas realizadas pelo Brasil na Antártica podem ajudar no serviço de meteorologia, na previsão de frentes frias e no impacto que elas causam em atividades agropecuárias do país.
Ao mesmo tempo, os estudos ajudam a entender os efeitos da mudança climática global, provocada pelo excessivo lançamento de gases causadores do efeito estufa, responsáveis por aquecer o planeta e provocar um acelerado degelo da região.
Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), são atendidos atualmente 21 projetos de pesquisa. Entre 2000 e 2012, foram destinados ao Proantar pela pasta de ciência o montante de R$ 144 milhões.
FONTE: G1