17 de Outubro, Dia do Maquinista
COMANDO DA FORÇA DE SUPERFÍCIE
Assunto: Dia do Maquinista
A transição da propulsão a vela para a propulsão a vapor foi uma marco tecnológico ímpar na história da construção naval. Com ela, novas necessidades foram introduzidas, como aquelas relacionadas ao apoio logístico e, também, à formação de pessoal para a operação e manutenção dos novos sistemas de máquinas embarcados. Na Marinha do Brasil, as iniciativas que decorreram da introdução da máquina a vapor em nossos navios foram formalizadas em 1857, com a criação do Corpo de Maquinistas para o Serviço de Vapores da Armada.
O primeiro navio a vapor em nossa Marinha foi a Fragata Dom Afonso. Era um navio de propulsão mista, que empregava velas e rodas de água laterais, acionadas a vapor. Construída na Inglaterra, foi comissionada em 1848. Tinha 60 metros de comprimento, deslocava 900 toneladas e suas máquinas desenvolviam até 300 HP. Seu primeiro comandante foi o então Capitão-de-Fragata Joaquim Marques Lisboa, futuro Marques de Tamandaré e Patrono da Marinha do Brasil.
As rodas de água utilizadas para a propulsão fizeram a diferença na Guerra da Tríplice Aliança, proporcionando ao Almirante Barroso vantagem tática decisiva na Batalha Naval do Riachuelo. Com o passar do tempo, entretanto, elas foram substituídas pelo hélice em parafuso, mais eficiente, menor, mais simples e menos susceptível a avarias em combate.
Paulatinamente, a propulsão a vapor, que foi dominante na Marinha até a década de 70, passou a conviver com outros sistemas de propulsão, baseados em motores de combustão interna. Com a incorporação das Fragatas Classe Niterói, na década de 80, novos e sofisticados equipamentos e sistemas foram introduzidos, como as turbinas a gás; sistemas hidráulicos e pneumáticos; e os sistemas eletrônicos para controle e monitoração das máquinas. Na Corveta Barroso e nos Navios de Patrulha Oceânico Classe Amazonas, o automatismo alcança patamares sem precedentes na história da MB e prenunciam os desafios do futuro.
Um aspecto comum, nesse processo de evolução tecnológica, é a presença indispensável de marinheiros, oficiais e praças, operando e mantendo os sistemas de máquinas. Foguistas no início, graxeiros desde sempre, lendários “bodes pretos”, cabem aos valorosos maquinistas da Marinha a nobre missão de prontificar as máquinas e fazer o navio navegar e combater. Pois, indiscutível e efetivamente, toda operação começa com a ordem de máquinas adiante, terminando ao soar do apito no encapelar da primeira espia no porto sede, à ordem de parar máquinas. E todos sabemos que, em combate no mar, a disponibilidade, o bom funcionamento e a rápida recuperação, em caso de avaria, dos sistemas de máquinas, sejam eles afetos à propulsão, à geração de energia elétrica, à navegação, à estabilização da plataforma e aos sistemas de controle de avarias, é condição vital ao pleno êxito no cumprimento da missão.
É, pois, com grande satisfação, que reconhecemos, no dia de hoje, o valor dos nossos maquinistas. A data é uma reverência ao nascimento do V Alte Ary Parreiras, ilustre chefe naval e patrono dos maquinistas da Marinha do Brasil.
Niteroiense, nasceu em 17 de outubro de 1890. Firmou-se praça da Marinha do Brasil em 1907, quando se matriculou no curso de máquinas da Escola Naval, formando-se em 1911. Integrou a Divisão Naval de Operações de Guerra (DNOG), a bordo do Contratorpedeiro “Piuahy”, durante a Primeira Guerra Mundial. A operação no teatro marítimo do Atlântico Sul, em zona de conflito, foi reconhecida, em 1923, quando foi condecorado com a Cruz de Campanha e, em 1928, com a Medalha da Vitória.
Atuante oficial tenentista, foi nomeado, em dezembro de 1931, ainda como Capitão-Tenente, pelo Presidente Getúlio Vargas, para o cargo de Interventor Federal do Estado do Rio de Janeiro, a fim de saneá-lo financeiramente. Oficial íntegro, austero e empreendedor, Ary Parreiras governou o estado e realizou importantes obras de infraestrutura, edificando escolas, abrindo estradas e construindo pontes. Em novembro de 1935, com as finanças do estado em melhor situação, deixou a interventoria e voltou ao serviço ativo na Marinha.
Em seu retorno, assumiu a Chefia do Departamento de Máquinas do Encouraçado “Minas Gerais”, no período de remodelação do navio, retomando, a partir daí, sua carreira naval. Posteriormente, foi instrutor do Curso Especial de Aperfeiçoamento de Máquinas para Oficiais, serviu no Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras e exerceu a Chefia da Divisão de Serviços de Máquinas da Diretoria de Engenharia Naval.
Em 1941, durante a II Grande Guerra, com a decisão da Marinha de instalar, na costa nordeste do país, uma base para apoio dos navios em operação no Atlântico Sul, o Almirante Ary Parreiras, mercê de sua reconhecida liderança, capacidade técnica, probidade administrativa e extremada dedicação ao serviço, foi designado chefe da Comissão de Instalação da Base Naval de Natal. O local escolhido para a construção da futura base localizava-se às margens do rio Potengi, na cidade do Natal-RN. A magnitude do desafio era gigantesca, pois, naquela época, a região não dispunha de facilidades e estrutura para suportar o empreendimento. Faltava tudo: mão de obra, estradas, maquinarias, energia, combustível e matérias primas básicas.
Em agosto de 1942, quando o Brasil declarou guerra ao Eixo, a nova base sediou o grupo dos novos Caças-Submarinos e, depois, os Contratorpedeiros de Escolta. Além das facilidades logísticas aos navios, foram construídas residências para o pessoal, locais para armazenamento de sobressalentes e um pequeno centro de adestramento. Câmara Cascudo resume bem os atributos do ilustre chefe, que resultaram no sucesso de tão difícil empreitada: “obstinação, ditadura da honestidade, mítica do sacrifício silencioso, discreto e diário”.
Os atributos do Almirante Ary Parreiras o distinguem, de maneira indelével, em nossa Marinha. Não obstante o reconhecimento institucional, o seu nome está eternizado em dezenas de logradouros e instituições públicas e privadas. Dentre as diversas homenagens oferecidas, é relevante registrar a que o povo de Niterói lhe concedeu após o seu falecimento, em 9 de julho de 1945, com a instalação de uma estátua de corpo inteiro, custeada por subscrição popular, no bairro de Icaraí.
Podemos dizer que os valores do insigne patrono se alinham com o cerne das atividades dos maquinistas em nossa Marinha. Nas praças de máquinas, em cobertas abaixo, eles atuam de maneira dedicada, silente, discreta e com extremado amor, buscando dar ao seu Comandante a flexidade e a segurança operacional necessárias, tirando de lá, com o sacrifício que for necessário, o milagroso “vento de porão”.
O exemplo do Almirante Ary Parreiras é inspirador. Ele nos ensina o valor da obstinação, da coerência de atitudes e do emprego da máxima energia em prol do serviço. O enfrentamento da adversidade com energia e honestidade, que marcou a trajetória militar e política do ilustre chefe naval, é um valor atual, que merece ser diariamente lembrado. E, com satisfação e extremo orgulho, podemos dizer que nossos maquinistas têm sabido honrar o legado de seu Patrono. E assim o continuarão fazendo, pois é da índole desses nobres marinheiros prestar, sempre, o melhor serviço aos seus navios e à nossa querida Marinha.
Maquinistas, foguistas, graxeiros e “bodes pretos”, parabéns pelo seu dia!
BRAVO ZULU!
Senhor Comandante-em-Chefe, permissão para dispensar as máquinas!)
JOSÉ RENATO DE OLIVEIRA
Contra-Almirante
Comandante