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Por Daniel Rittner | De Brasília

Há quase três anos, o governo anunciou um pacote de obras para acabar com uma cena explícita de desorganização nos portos brasileiros: navios de cruzeiros atracavam em áreas improvisadas e passageiros desembarcavam em meio à movimentação de cargas comerciais.

Usando a Copa do Mundo como pretexto, um conjunto de grandes intervenções em sete cidades-sede foi anunciado pela Secretaria de Portos. A promessa de novos terminais de passageiros, píeres modernos e cais mais extensos vinha embalada em um contexto de reurbanização das áreas portuárias e de reforço no sistema hoteleiro, com a criação de leitos temporários nos navios. E tinha um prazo claro: todas as obras deveriam estar prontas ao longo do segundo semestre de 2013.

A três meses do pontapé inicial da Copa, o quadro é muito diferente do prometido. Um dos projetos – o novo terminal de passageiros de Recife – foi inaugurado no ano passado. O edifício, com uma fachada de alumínio que remete à figura de um barco de papel, impressiona os turistas e mudou a recepção para quem chega à capital pernambucana. Só que é a única obra pronta até agora.

Outras duas, apesar de atrasadas, estão sob controle e devem ter suas fitas de inauguração cortadas até o fim de abril: a construção de um terminal em Salvador e o alinhamento do cais de Outeirinhos, em Santos, que aumentará o espaço para a atracação de navios no porto mais movimentado – e com a maior demanda de cruzeiros – do país.

Píer-Rj-formato-Y-foto-Divulgação

No Rio, a construção de um píer em forma de Y foi tão questionada, devido ao seu projeto arquitetônico, que saiu da matriz de responsabilidades da Copa do Mundo e é dúvida para a Olimpíada de 2016. Arquitetos e urbanistas se opõem à construção de um novo atracadouro, em pleno Porto Maravilha, com espaço para receber até seis transatlânticos que podem fechar a paisagem.

Em Manaus, os recursos judiciais e contestações do Tribunal de Contas da União (TCU) no processo licitatório foram tantos que a adaptação de dois armazéns como terminais de passageiros – além de ampliação do cais e uma passarela climatizada – vai ficar pronta apenas entre maio e junho de 2015. A empreiteira responsável foi contratada em novembro do ano passado e ganhou prazo de 540 dias do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável por essa licitação, para concluir todos os trabalhos.

Nenhuma correria é tão grande, no entanto, como a que acontece nas obras dos novos terminais de passageiros nos portos de Fortaleza e Natal. Elas estão no limite máximo para entrega até a Copa do Mundo e recebem atenção especial do ministro-chefe da Secretaria de Portos, Antônio Henrique Silveira, que foi inspecioná-las pessoalmente nas últimas semanas. Silveira, que assumiu o cargo com as obras em curso, cobrou agilidade das construtoras envolvidas e das companhias docas responsáveis pelas obras. Ele recebeu a garantia de que tudo ficará pronto antes da Copa do Mundo, mas o assunto ainda é monitorado com cuidado extremo em Brasília.

Na verdade, já não se pode dizer nem que elas ficaram para os 45 minutos do segundo tempo – hoje correm o risco de entrar na prorrogação. A expectativa da Companhia Docas do Ceará (CDC) é que o novo terminal de passageiros em Fortaleza só esteja concluído em 4 de junho – a apenas oito dias do início do evento. No dia 17 de junho, a seleção brasileira enfrenta o México, no estádio do Castelão. E mais de 4.000 passageiros mexicanos são esperados na véspera, a bordo do navio MSC Divina, que marcará a estreia oficial do novo terminal portuário.

Além do atraso, o terminal, que tem desenho arquitetônico arrojado, teve uma explosão de custos: o orçamento original, de R$ 149 milhões, subiu para R$ 205 milhões – quase 38%. Já a execução das obras, que tinha prazo inicial de 21 meses, acabará tomando cerca de 27 meses.

FORTALEZA

A CDC e a Constremac Construções, empreiteira responsável pelas obras, atribuem o atraso a mudanças na metodologia de construção, devido a um fenômeno natural conhecido como “swell” – ondas muito fortes que são provocadas por ventanias no Caribe. “A linha de preamar foi alterada, ou seja, o mar avançou para o continente e o projeto, que seria executado em solo firme, teve que ser executado totalmente sobre o mar, utilizando equipamentos flutuantes, diferentes dos mobilizados inicialmente”, diz o vice-presidente da Constremac, Fernando Graziano.

“Casualmente, em 2013, esse fenômeno teve sua ação atípica, com tanta intensidade que paralisou a obra por vários meses, chegando a danificar parte já construída. Por essa razão, houve a necessidade de adequar tanto o método construtivo quanto os novos prazos”, afirma Graziano.

O presidente das Docas do Ceará, Paulo André Holanda, adota o mesmo discurso e culpa as ondas pela reprogramação no cronograma. “Houve meses em que, em vez de 90 estacas, a construtora só conseguiu 5 “, explica. Além disso, segundo ele, houve 21 dias de greve – no total, 45 dias, quando se somam as operações-tartaruga.

De acordo com Holanda, 545 trabalhadores atuam atualmente nos canteiros, em três turnos. Ele garante que o cais e a retroárea serão entregues no dia 30 de março. Em 30 de abril, será concluída a parte operacional, permitindo a instalação de guichês da Polícia Federal e da Receita Federal. “Vai ser a melhor, mais bonita e mais moderna estação portuária de passageiros do país. Eu garanto que tudo vai estar funcionando na Copa, sem gambiarra. O importante é que vamos deixar um legado para a sociedade”, afirma.

Holanda reconhece, no entanto, que apenas o piso principal do terminal será inaugurado em junho. Esse pavimento inclui, além da área de imigração e alfândega, o check-in e retirada de bagagem. O mezanino, com lojas e restaurantes, ficará para depois. Afora o navio mexicano, um cruzeiro de Gana já demonstrou interesse em atracar em Fortaleza. O time africano joga dia 21 contra a Alemanha.

Em Natal, outra cidade-sede onde o governo corre contra o relógio, a promessa é abrir o novo terminal de passageiros entre os dias 20 e 30 de maio. O diretor-técnico da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), Hanna Youssef, diz que houve “surpresas” durante as obras com escavações na retroárea. A Constremac, que também toca o empreendimento, precisou usar estacas-raízes, em cima de pedras graníticas, em vez de estacas pré-moldadas. “Agora não temos mais nenhuma razão para novos atrasos”, diz Youssef, assegurando a inauguração antes da Copa.

FONTE: Valor Econômico via Resenha do Exército

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