Parado há mais de cinco anos, navio da USP deve ser doado ao Uruguai
GIULIANA MIRANDA
EDUARDO GERAQUE
DE SÃO PAULO
Primeiro navio brasileiro a participar de uma operação na Antártida e uma das embarcações com mais história na oceanografia nacional, o Professor W. Besnard deve virar, em breve, propriedade do Uruguai. A reitoria da USP já está analisando a doação para o governo do país vizinho.
Sem condições físicas e de segurança para navegar após ser atingido por um incêndio no fim de 2008, a embarcação, construída em 1966, está parada há mais de cinco anos no porto de Santos.
Desde então, estuda-se o que fazer com o navio que, mesmo parado, gera custos com manutenção e com sua tripulação, que permanece recebendo salário.
Em 2009, a então reitora da USP, Suely Vilela, liberou R$ 2 milhões para o conserto da embarcação. Segundo o pedido de verba feito pelo Instituto Oceanográfico, o dinheiro serviria para reparos e aquisição de equipamentos.
O montante, porém, nunca chegou a ser usado no Besnard. Segundo a assessoria de imprensa da USP, o dinheiro serviu para reformas na embarcação mais nova da USP, o Alpha Crucis, e em equipamentos para um barco menor, o Alpha Delphini.
Apesar de ter usado a verba do Prof. Besnard, o próprio Alpha Crucis também enfrenta problemas.
Em maio, a Folha revelou que o novo navio, que recebeu um investimento de cerca de R$ 23 milhões, com verbas da USP e da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), estava parado havia mais de seis meses também no porto de Santos, com problemas para voltar a realizar atividades de pesquisa.
O orçamento oficial da USP prevê gastos de mais de R$ 800 mil com as embarcações neste ano.
Devido ao alto custo da manutenção e do preço que uma eventual obra de reparo (que incluiria refazer todo o quadro elétrico e repor diversos componentes do motor principal), tem ganhado força o movimento para dar uma destinação ao velho navio.
CONTROVÉRSIA
Entre as opções de destino do navio estava sua conversão em museu, uma doação e até mesmo um afundamento controlado, para fazer dele um recife artificial.
No entanto, o que prevaleceu foi a vontade de alguns setores, que preferiam a doação para o Uruguai. Fontes ligadas ao Instituto Oceanográfico disseram que a transferência para o Uruguai foi discutida em reunião da congregação do instituto.
A razão da escolha do país vizinho e outros pormenores técnicos não foram explicados pela USP.
A reportagem entrou em contato com o vice-diretor do Instituto Oceanográfico, Michel Mahiques, em busca de esclarecimentos. Após reportagem sobre o estado do Alpha Crucis, ele disse que não falaria com a Folha.
Em maio, no entanto, Mahiques já havia mencionado a predileção pela doação. “Desde 2010, têm sido feitas gestões para um fim nobre para o Besnard e estamos tentando conseguir viabilizar, juridicamente, uma doação”, disse em um e-mail.
A assessoria da USP confirma que a universidade está analisando a doação para o governo do Uruguai.
“Processos desse gênero precisam passar pela aprovação das comissões do Conselho Universitário e, posteriormente, do próprio Conselho Universitário. No momento, a doação do navio está sendo analisada na Comissão de Orçamento e Patrimônio e não há prazo para conclusão do processo”, afirmou.
Apesar da concentração aparente de muita ferrugem e de outros pequenos danos no casco, a USP nega que o navio esteja abandonado.
Professores da USP que preferiram não se identificar criticaram a maneira “sigilosa” como o processo tem sido conduzido. Eles afirmam que, diante da situação de endividamento da universidade, seria difícil viabilizar dinheiro para a reforma do Professor W. Besnard.
A Prefeitura de Santos, que já disse querer ficar com o navio para transformá-lo em museu, afirmou que ainda tem interesse na embarcação e busca recursos e parcerias para viabilizar o projeto.
FONTE: Folha de São Paulo / FOTOS: Davi Ribeiro-Folhapress