Em crise EISA tenta voltar a operar
O empresário Germán Efromovich e os administradores do Estaleiro Ilha S.A. (EISA) tentam encontrar uma saída para a grave crise financeira da empresa, dona de uma das mais tradicionais instalações da construção naval fluminense. A situação do EISA é delicada. O estaleiro, situado na Praia da Rosa, no bairro da Ilha do Governador, no Rio, está com as operações paralisadas há 30 dias e as perspectivas de retorno são incertas. No mercado, as informações são de que Efromovich, que controla o EISA via Synergy Group, estaria buscando compradores para o estaleiro.
Mas fonte próxima das discussões disse que qualquer negociação de venda neste momento é difícil. E que a saída para o EISA passaria por encontrar algum meio de obter capital de giro para voltar a operar. Essa solução poderia envolver participação de armadores que são também clientes do estaleiro. Os esforços buscam evitar uma quebra do EISA, situação não completamente descartada. A crise no EISA também deixa dúvidas no mercado sobre a competitividade da construção naval no país, indústria retomada como política de Estado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Embora tenha uma das maiores carteiras entre os estaleiros nacionais, com 26 contratos, o EISA tem problemas de produtividade e não investiu para atender a essa grande demanda. Josuan Moraes Junior, presidente do EISA, disse que o valor dos contratos em carteira no estaleiro soma US$ 1,6 bilhão. Moraes afirmou que o estaleiro não investiu porque houve “morosidade” de agente financeiro do Fundo da Marinha Mercante (FMM), linha de financiamento para o setor, em aprovar empréstimo para o estaleiro se modernizar. O Valor apurou que o EISA obteve em outubro de 2012 “prioridade” do FMM de R$ 208 milhões, mas essa autorização terminou cancelada em outubro de 2013 depois que o estaleiro não conseguiu aprovar o empréstimo junto à Caixa.
Um dos maiores interessados em uma solução para o EISA é a Log-In Logística Intermodal, que tem plano de investimentos de cerca R$ 1 bilhão envolvendo a construção de sete navios encomendados ao EISA. São cinco navios porta-contêineres e dois graneleiros para transporte de bauxita. Deste total, três embarcações (duas de contêineres e um graneleiro) foram entregues e um barco bauxiteiro tem previsão de ficar pronto até o fim do ano. Há ainda outros três navios de contêineres em construção cujas entregas foram reprogramadas a partir de meados de 2015 e até 2016.
Ontem a Log-In divulgou comunicado no qual disse que vai acompanhar os desdobramentos do caso e tomará as medidas necessárias com o objetivo de manter a construção das embarcações por meio de garantias contratuais e de assessoria técnica especializada para contínua identificação de alternativas estratégicas de longo prazo.
As embarcações da Log-In são financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O BNDES corre o risco da própria Log-In, que está em dia com as suas obrigações com o banco. Fonte do setor disse que os contratos de construção dos navios da Log-In contam com seguro-garantia que cobre uma parte do valor contratado. Caso o estaleiro não entregue os navios, seguradoras envolvidas na apólice poderiam ter de assumir a conclusão da obra. Procurada pelo Valor, a Log-in não quis se pronunciar.
Moraes, do EISA, disse ainda que alguns clientes ficaram inadimplentes com o estaleiro. Citou a PDVSA, que tem um navio-tanque no EISA, e a Astromarítima Navegação, da área de apoio marítimo, com três barcos com obras paralisadas. Procurada, a Astromarítima não retornou a ligação.
Alex Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio, disse que a situação do EISA criou grande insegurança aos 3,2 mil trabalhadores do estaleiro. Eles foram colocados em licença remunerada, a qual foi prorrogada até 28 de julho. Hoje haverá uma manifestação dos empregados do EISA no centro do Rio. Santos avaliou que a crise do estaleiro se relaciona com problemas administrativos e de gestão. Disse que o estaleiro assumiu encomendas com prazos de entrega semelhantes, o que dificultou ainda mais a situação.
FONTE: Valor Econômico