Centenário-da-Força-de-SubmarinosUm submarino de propulsão convencional como o Tapajó tem um funcionamento parecido com um telefone celular: de tempos em tempos ele precisa recarregar as baterias.
As baterias são usadas para mover o motor elétrico quando o submarino está sob a água. Para recarregá-las, emprega-se motores movidos a diesel que necessitam de ar para funcionar.

O esnorquel, uma invenção holandesa aperfeiçoada pelos alemães na época da Segunda Guerra Mundial, resolveu parcialmente o problema: o submarino não precisa mais ir totalmente à superfície para fazer funcionar os motores diesel. Ele só precisa ir até a cota periscópica (cerca de 15m de profundidade), onde é içado um mastro para aspirar o ar que alimenta os motores e renova o ar ambiente, expelindo também os gases da exaustão dos motores diesel.

Porém, o esnorquel pode ser detectado por radar, sensores infravermelhos e visualmente (com o primitivo e confiável “Eyeball Mk.1”), pois deixa esteira no mar e sua descarga produz fumaça e calor.

Equipe de ataque treinando no Tapajó
Equipe de ataque treinando no Tapajó

Para minimizar o problema, o submarino possui outro mastro com uma antena de ESM (Electronic Support Measures) ou MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica), que nada mais é que um RWR (Radar Warning Receiver – Receptor de Alerta Radar) que avisa ao comandante do submarino sobre ondas de radar hostis na área. Ele pode então interromper o processo, recolhendo os mastros antes que sua presença seja detectada.

Conversando com os tripulantes do Tapajó, eles nos disseram que ao usar o esnorquel, os tripulantes sentem a mudança de pressão nos ouvidos, a mesma sensação que temos quando mudamos de altitude quando subimos uma serra ou voamos de avião.

Sentimos a mesma pressão nos ouvidos quando o submarino voltou à superfície e abriu as escotilhas, trazendo ar fresco novamente para o interior.

Espaço e conforto limitados

Embarque no submarino Tapajó - 10 Embarque no submarino Tapajó - 11
Embarque no submarino Tapajó - 12 Embarque no submarino Tapajó - 13

Os submarinos IKL-209 como o Tapajó são pequenos, bem menores que os classe “Guppy” e “Oberon” que a Marinha incorporou antes deles.

Diferentemente dos antigos, provavelmente para ser mais simples, mais barato e mais leve, o IKL-209 não possui compartimentos estanques, sendo possível andar por um corredor de proa a popa, com exceção da praça de máquinas, separada por uma antepara para abafar o calor e o som dos motores diesel.

A cozinha

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O cozinheiro é de importância fundamental para o submarino, pois dele depende o moral elevado da tripulação, principalmente em missões de longa duração. Na nossa visita ao Tapajó tivemos o prazer de almoçar a bordo e o cardápio estava ótimo: “salada Tapajó” de entrada e  filé mignon ao molho madeira, com arroz à piamontese e batatas coradas. Se depender da qualidade da equipe da cozinha, o Tapajó pode ir tranquilamente à guerra.

Os tubos de torpedos

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O submarino é sobretudo uma plataforma furtiva (a única verdadeiramente “stealth”) de armas para caçar e destruir alvos navais inimigos. Sua tripulação treina constantemente para levar o submarino a uma posição de vantagem para que possa afundar navios e outros submarinos.

O Tapajó, assim como seus irmãos da classe “Tupi”, é equipado com 8 tubos lança-torpedos na proa, de 533mm (21 polegadas). Até 14 torpedos podem ser carregados a bordo, incluindo os dos tubos.

Após a modernização com o novo sistema de combate da Lockheed, os tubos foram modificados para disparar o torpedo americano Mk.48, que originalmente na US Navy é lançado por tubos “pump-out”, que empregam um pistão para empurrar o torpedo antes que ele acione seu próprio sistema de propulsão. Os torpedos Mk.48 comprados pela Marinha do Brasil receberam uma modificação para serem lançados dos tubos “swim-out” dos submarinos classe “Tupi”, nos quais os torpedos saem do tubo usando seu próprio sistema de propulsão.

Entrada na Baía de Guanabara, com visão privilegiada

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De volta à superfície, tivemos o prazer de adentrar a Baía de Guanabara ao lado do comandante e do imediato no alto da “vela” do submarino.

Mas antes precisamos subir as escadas internas até chegar lá e constatamos que a altura é maior do que imaginávamos. Quem tem medo de altura, fica com frio na barriga.
De qualquer forma, vale a pena o risco, pois a visão do submarino cortando as ondas e a paisagem do Rio de Janeiro não têm preço, sem contar o refresco da brisa do mar (ver o vídeo abaixo).

Manobra de atracação na Base de Submarinos

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Normalmente, quem é ligado aos temas militares se concentra nos detalhes “Super Trunfo” dos equipamentos e sistemas de combate, esquecendo que existem outras questões fundamentais como a atracação e desatracação de um navio de guerra, por exemplo.

No caso de um submarino com apenas um eixo propulsor, como o Tapajó, a manobra de atracação é complicada, pois o desenho do casco não ajuda. O submarino, quanto à sua capacidade de manobrar na superfície, é considerado “queixo duro”, necessitando da ajuda de rebocadores para conseguir atracar no cais da Base.

Na atracação que assistimos, para piorar a situação, a maré e o vento estavam empurrando o submarino para a ponte Rio-Niterói. Mas o experiente comandante Cartier manobrou com precisão com a ajuda dos rebocadores da BNRJ e conseguiu atracar com sucesso, sem avarias no submarino.

Embarque no submarino Tapajó - 19

Embarque no submarino Tapajó - 20

A terceira parte da reportagem continua em próximo post…

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phacsantos

OFFTOPIC:

Cancelar ou não cancelar os Mistral para a Rússia?

http://www.ft.com/cms/s/0/f5156478-125c-11e4-93a5-00144feabdc0.html#axzz38OgaMGSP

fragatamendes

GALANTE, só existe uma palavra para dizer SHOWWWWWWWWWWWWWWWWWW.

Blind Man's Bluff

Excelente!
Artigo 5 estrelas!

Adam Foerster

Impressionante. Parabéns pelo artigo.

Sobre o design do IKL-209 (e de muitos outros submarinos) alguém poderia me tirar uma dúvida?
Qual a utilidade de ter tantos tubos de torpedos?
Em que cenário todos esses torpedos teriam que ser disparados ao mesmo tempo (ou em um curto espaço de tempo)?
Porque não fazer apenas 2 ou 4 tubos e deixar mais espaço para recargas?

Adam Foerster

Obrigado pela resposta Galante.
Abraços.

GUPPY

Prezado Galante, Vi muitas vezes submarinos GUPPYs e OBERONs atracarem sem auxílio de rebocadores. Simplesmente aproximavam-se da borda de outro, lançavam os cabos para que alguém de outro submarino ajudasse e pronto. Era relativamente fácil. Nunca vi alguém errar. Era comum ver três submarinos, um a contrabordo do outro. O único erro que presenciei foi o que contei aqui sobre a desastrada atracação do então Navio de Salvamento Submarino Gastão Moutinho -K10, que avariou o casco do Submarino Rio Grande do Sul – S11 comigo a bordo. Mas se é mais conviniente usar rebocadores, que se use rebocadores. Isto não… Read more »

joseboscojr

Galante,
Quando o submarino está usando os motores diesel na cota periscópica o eixo do hélice é movido diretamente pelos motores através de uma caixa de redução ou mesmo usando os motores o eixo é movido por motores elétricos?
Antecipadamente agradeço.
Um abraço.

Leonardo Araujo Poppius

Bosco,

o eixo dos nossos submarinos são movimentados por um motor elétrico principal (MEP). A energia deste é provida pelas baterias. Mesmo em snorkel, os motores diesel apenas carregam as baterias. Somente em emergência os motores fornecem energia elétrica diretamente ao MEP.

Espero ter ajudado.

Fernando "Nunão" De Martini

Prezado Leonardo,

Aproveito seu comentário para responder ao seu e-mail sobre entrega de revista, já que sua conta de e-mail cadastrada está devolvendo minhas respostas sem lhe entregar as mensagens: a questão foi repassada ao pessoal responsável, que já me disse ter entrado em contato para resolver o problema com você.

joseboscojr

Valeu Leonardo.
Obrigado!

Blind Man's Bluff

Os nossos IKLs possuem sistemas de ar condicionado?

Leonardo Araujo Poppius

Já entraram em contato sim Nunão.

Obrigado.

GUPPY

Obrigado, Galante.

De fato, o texto menciona eixo único, faltou uma uma leitura mais acurada da minha parte.

Na manhã de hoje, vi dois submarinos na baía de Guanabara, um deles sendo rebocado, próximo à BACS. O outro estava próximo à Escola Naval.

joseboscojr

Blind,
Essa até eu respondo! rrsssss
Com certeza tem ar condicionado (aquecimento (?)) senão eles iriam morrer de frio (?).
Complementando sua pergunta eu acho que seria interessante se alguém pudesse falar sobre o sistema de suporte de vida do submarino, tipo o sistema que gera o O2 e dessaliniza a água.
Um abraço Blind.

Blind Man's Bluff

Bosco, acredito que seja ao contrario. Reparei que todos os tripulantes das fotos usam aquela jaqueta azul marinho submarinista da MB e me fez lembrar de alguns livros que li sobre os submarinistas da 2a guerra, inclusive o filme Das Boot, onde todos oa tripulantes estao constantemente suando. Naquela epoca porem os submarinos operavam grande parte do tempo submersos, ao sol, porem nao contavam com a aparelhagem eletronica de hje. Acredito eu que sem ar condicionado, operar um diesel eletrico na costa brasilera seja como viver dentro de uma sauna. Porem ao mesmo tempo acredito que numa situacao de guerra,… Read more »

joseboscojr

Blind,
Pode ser que sim!
Vamos ver o que os especialistas têm a dizer.

joseboscojr

Salvo engano a temperatura média da água no Atlântico Sul é de 2º C e se o submarino fosse um corpo inerte e ficasse sempre debaixo d’água sem receber a luz solar ele iria se resfriar, mas como lá há dezenas de seres humanos e de equipamentos, além dos motores, ou seja, não tem nada de inerte, ele esquenta e precisa ser refrigerado.
Você estava certo Blind.

joseboscojr

Esqueçam a temperatura média de 2ºC, é bem mais alta e é dependente, claro, da profundidade. Deletem, pelo amor de Deus.

joseboscojr

Depende também da profundidade, da época do ano (estações climáticas), localização geográfica e se é dia ou noite.

jacubao

Galante, meu fio… rsrsrsrs…
Show de bola essa reportagem amigo, a melhor que li até hoje e imagino que a concorrência deve estar se rasgando de inveja, hehehe…
Um forte abraço amigo.

GUPPY

Perfeito o comment do Galante sobre a necessidade do ar condicionado no submarino. É o mesmo que me foi dito quando embarquei.

Mauricio Veiga

O fato de não ter compartimentos “estanque” não torna o SUB extremamente vulnerável, um único acerto ou avaria no casco seria fatal, correto ?

Ótima matéria, abraço.

Francisco

Lixo sucata

MO

Opa, começaram a aparecer novos JENIUS, este “sabe tudo ” pelo comentário …. kkkkk