Um dia a bordo do submarino ‘Tapajó’ – parte 2
Um submarino de propulsão convencional como o Tapajó tem um funcionamento parecido com um telefone celular: de tempos em tempos ele precisa recarregar as baterias.
As baterias são usadas para mover o motor elétrico quando o submarino está sob a água. Para recarregá-las, emprega-se motores movidos a diesel que necessitam de ar para funcionar.
O esnorquel, uma invenção holandesa aperfeiçoada pelos alemães na época da Segunda Guerra Mundial, resolveu parcialmente o problema: o submarino não precisa mais ir totalmente à superfície para fazer funcionar os motores diesel. Ele só precisa ir até a cota periscópica (cerca de 15m de profundidade), onde é içado um mastro para aspirar o ar que alimenta os motores e renova o ar ambiente, expelindo também os gases da exaustão dos motores diesel.
Porém, o esnorquel pode ser detectado por radar, sensores infravermelhos e visualmente (com o primitivo e confiável “Eyeball Mk.1”), pois deixa esteira no mar e sua descarga produz fumaça e calor.
Para minimizar o problema, o submarino possui outro mastro com uma antena de ESM (Electronic Support Measures) ou MAGE (Medidas de Apoio à Guerra Eletrônica), que nada mais é que um RWR (Radar Warning Receiver – Receptor de Alerta Radar) que avisa ao comandante do submarino sobre ondas de radar hostis na área. Ele pode então interromper o processo, recolhendo os mastros antes que sua presença seja detectada.
Conversando com os tripulantes do Tapajó, eles nos disseram que ao usar o esnorquel, os tripulantes sentem a mudança de pressão nos ouvidos, a mesma sensação que temos quando mudamos de altitude quando subimos uma serra ou voamos de avião.
Sentimos a mesma pressão nos ouvidos quando o submarino voltou à superfície e abriu as escotilhas, trazendo ar fresco novamente para o interior.
Espaço e conforto limitados
Os submarinos IKL-209 como o Tapajó são pequenos, bem menores que os classe “Guppy” e “Oberon” que a Marinha incorporou antes deles.
Diferentemente dos antigos, provavelmente para ser mais simples, mais barato e mais leve, o IKL-209 não possui compartimentos estanques, sendo possível andar por um corredor de proa a popa, com exceção da praça de máquinas, separada por uma antepara para abafar o calor e o som dos motores diesel.
A cozinha
O cozinheiro é de importância fundamental para o submarino, pois dele depende o moral elevado da tripulação, principalmente em missões de longa duração. Na nossa visita ao Tapajó tivemos o prazer de almoçar a bordo e o cardápio estava ótimo: “salada Tapajó” de entrada e filé mignon ao molho madeira, com arroz à piamontese e batatas coradas. Se depender da qualidade da equipe da cozinha, o Tapajó pode ir tranquilamente à guerra.
Os tubos de torpedos
O submarino é sobretudo uma plataforma furtiva (a única verdadeiramente “stealth”) de armas para caçar e destruir alvos navais inimigos. Sua tripulação treina constantemente para levar o submarino a uma posição de vantagem para que possa afundar navios e outros submarinos.
O Tapajó, assim como seus irmãos da classe “Tupi”, é equipado com 8 tubos lança-torpedos na proa, de 533mm (21 polegadas). Até 14 torpedos podem ser carregados a bordo, incluindo os dos tubos.
Após a modernização com o novo sistema de combate da Lockheed, os tubos foram modificados para disparar o torpedo americano Mk.48, que originalmente na US Navy é lançado por tubos “pump-out”, que empregam um pistão para empurrar o torpedo antes que ele acione seu próprio sistema de propulsão. Os torpedos Mk.48 comprados pela Marinha do Brasil receberam uma modificação para serem lançados dos tubos “swim-out” dos submarinos classe “Tupi”, nos quais os torpedos saem do tubo usando seu próprio sistema de propulsão.
Entrada na Baía de Guanabara, com visão privilegiada
De volta à superfície, tivemos o prazer de adentrar a Baía de Guanabara ao lado do comandante e do imediato no alto da “vela” do submarino.
Mas antes precisamos subir as escadas internas até chegar lá e constatamos que a altura é maior do que imaginávamos. Quem tem medo de altura, fica com frio na barriga.
De qualquer forma, vale a pena o risco, pois a visão do submarino cortando as ondas e a paisagem do Rio de Janeiro não têm preço, sem contar o refresco da brisa do mar (ver o vídeo abaixo).
Manobra de atracação na Base de Submarinos
Normalmente, quem é ligado aos temas militares se concentra nos detalhes “Super Trunfo” dos equipamentos e sistemas de combate, esquecendo que existem outras questões fundamentais como a atracação e desatracação de um navio de guerra, por exemplo.
No caso de um submarino com apenas um eixo propulsor, como o Tapajó, a manobra de atracação é complicada, pois o desenho do casco não ajuda. O submarino, quanto à sua capacidade de manobrar na superfície, é considerado “queixo duro”, necessitando da ajuda de rebocadores para conseguir atracar no cais da Base.
Na atracação que assistimos, para piorar a situação, a maré e o vento estavam empurrando o submarino para a ponte Rio-Niterói. Mas o experiente comandante Cartier manobrou com precisão com a ajuda dos rebocadores da BNRJ e conseguiu atracar com sucesso, sem avarias no submarino.
A terceira parte da reportagem continua em próximo post…