A participação da Marinha do Brasil na I Guerra Mundial

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Navio-auxiliar Belmonte

A segunda-feira, dia 28, marca os 100 anos da I Guerra Mundial. Você sabia que o Brasil enviou oito navios de guerra para o conflito no Mediterrâneo e na Costa da África?

A Marinha do Brasil criou a Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG) especificamente para atender a missão de patrulhamento do Oceano Atlântico, evitando a ação dos submarinos alemães (U-boats) durante a Primeira Guerra Mundial.

A partir de 1917, o Império Alemão ampliou as operações de guerra submarina, que se tornaram irrestritas nas águas européias. Com isso, os navios brasileiros, que transportavam gêneros alimentícios, passaram a ser passíveis de sofrer ataques, o que se registrou em 5 de abril desse mesmo ano, quando o vapor Paraná foi torpedeado, registrando-se três vítimas. Desse modo, a 11 de abril, o país rompeu relações diplomáticas com os países da Tríplice Aliança.

A 20 de abril o vapor Tijuca, navegando próximo à França, também foi torpedeado. Em função dos ataques, nos meses seguintes, o governo brasileiro arrestou quarenta e dois navios alemães em portos brasileiros, visando assegurar indenizações de guerra. Uma relação de embarcações brasileiras atacadas no período, inclui ainda os navios:

  • Vapor Alegrette;
  • Vapor Baependi;
  • Vapor Bagé;
  • Vapor Barbacena;
  • Vapor Cabedello
  • Vapor Campos;
  • Vapor Lages;
  • Vapor Parnaíba;
  • Vapor Macau (ex-vapor Palatia), afundado ao largo da costa da Espanha a 23 de outubro de 1917.

Diante da pressão da opinião pública, o governo brasileiro declarou guerra aos países da Tríplice Aliança no dia 26 de outubro de 1917.

Contratorpedeiro Piauí

A DNOG

A DNOG consistia, num primeiro momento, em três divisões navais, Norte, Centro e Sul, vindo a ser, posteriormente, agrupada em uma única divisão.
Era composta pelos seguintes navios:

  • Cruzador Rio Grande do Sul, capitânia, sob o comando de José Machado de Castro Silva;
  • Cruzador Bahia, sob o comando de Tancredo de Gomensoro;
  • CT Piauhy (CT-3), sob o comando de Alfredo de Andrada Dodsworth;
  • CT Rio Grande do Norte (CT-4), sob o comando de José Felix da Cunha Menezes;
  • CT Parahyba (CT-5), sob o comando de Manoel José Nogueira Gama;
  • CT Santa Catarina (CT-9), sob o comando de Adalberto Guimarães Bastos;
  • Tender Belmonte, sob o comando de Benjamin Goulart, ex-Valésia, navio alemão arrestado, popularmente conhecido à época pelo apelido de Guiomar Novais, pois como a famosa pianista, em cada porto fazia um conserto; e o
  • Rebocador Laurindo Pitta, sob o comando de Nelson Simas de Sousa.

Rebocador Laurindo Pitta

Ações realizadas

Os navios envolvidos concentraram-se na baía de Guanabara, onde receberam rápidos reparos, embora não adequados à missão que iriam desempenhar: não havia os materiais necessários no país, não existiam técnicos qualificados e nem maquinaria pesada. O Contra-Almirante Frontin, junto com o seu Estado-Maior, desenvolveu uma tarefa hercúlea, incluindo diversos e exaustivos exercícios de tiro real ao largo da Ilha Grande e na baía de Jacuecanga, no litoral Sul do Estado do Rio de Janeiro.

A partir de 7 de maio, a Esquadra da DNOG iniciou a viagem rumo ao litoral Nordeste do Brasil. Pelo Aviso Secreto nº 235 do Ministro da Marinha, datado de 14 de maio, o Contra-Almirante Frontin achava-se investido de poderes excepcionais, dos quais nunca abusou. Aportaram em Salvador, Recife e Natal, aproveitando, o seu comandante, para prosseguir exercitando os seus subordinados, cumprindo um programa de adestramento previamente traçado em diversas fainas de guerra.

No final de julho, os navios agruparam-se em Fernando de Noronha. Cada homem em cada navio sabia exatamente o que fazer em qualquer emergência que adviesse. Finalmente, em 1 de agosto de 1918, às 8 horas da manhã, a DNOG suspendeu ferros com destino a Gibraltar, objetivando varrer os mares de embarcações inimigas em seu percurso.

A possibilidade desses navios depararem com submarinos constituía motivo de preocupação permanente. Em uma época em que apenas se podia saber da presença do inimigo submerso quando se avistava o seu periscópio, os homens encontravam-se tensos, especialmente durante a vigília noturna. Acrescentem-se as diversas pausas em alto-mar como resultados de defeitos os mais diversos.

No dia 9 de agosto, a DNOG aportou a Freetown, tendo o seu comandante se apresentado ao Almirante Sheppard, sob cujo comando ficava a força brasileira. Os navios brasileiros permaneceram nesse porto por quatorze dias. Em uma das fainas de abastecimento, uma bomba de profundidade desprendeu-se da popa do Paraíba caindo ao mar; com rapidez, o Cabo José de Sousa Oliveira atirou-se à água, segurando a bomba e impedindo que ela chegasse ao fundo e explodisse, danificando o navio e ceifando vidas. Durante essa estadia em Freetown, os brasileiros começaram a contrair o vírus da Gripe Espanhola, moléstia ainda desconhecida no Brasil e que vitimava os nativos.

Em 23 de agosto, a DNOG suspendeu com destino a Dacar, navegação realizada com muito mau tempo.

Contratorpedeiro Paraíba

O batismo de fogo

Na noite de 25 para 26 de agosto, prestes a aportar a Dacar, torpedos provenientes de um submarino inimigo passaram por entre a formação dos navios brasileiros. As embarcações brasileiras, assim que o avistaram em fase de submersão, lançaram bombas de profundidade. Embora não tenha havido certeza da destruição, o Almirantado Britânico homologou a perda inimiga, creditando-a aos brasileiros. Finalmente, a 26, a Divisão fundeou em Dacar.

A permanência neste porto africano previa ser rápida, limitando-se ao reabastecimento e alguns reparos. Estendeu-se, porém, por causa da Gripe Espanhola que se alastrava entre os brasileiros, contagiando a quase todos, paralisando os serviços e descontrolando os planos. Faleceram 464 homens. Atendendo ao imperativo desejo do Almirantado Britânico, o Piauí partiu a 9 de setembro para as ilhas de Cabo Verde, levando oito doentes a bordo. Na altura de São Vicente a situação sanitária se agravou diante da disseminação da gripe; contudo, o ar mais salubre contribuiu para o restabelecimento de muitos. Algumas patrulhas foram executadas. Em 19 de outubro, o Piauí regressou a Dacar, deixando sepultados, naquela possessão portuguesa, quatro elementos de sua tripulação.

Somente a 3 de novembro, a DNOG’ pôde reiniciar a viagem para Gibraltar com oficiais e praças vindos do Brasil para completarem os claros. Permaneceram em Dacar os seguintes navios: o Rio Grande do Sul, que precisava mudar a tubulação dos condensadores; o Rio Grande do Norte, com vários problemas nas máquinas; o Belmonte, com um carregamento de trigo para o governo francês; e o Laurindo Pitta, que se aprestava para retornar ao Brasil.

No dia 10 de novembro, a DNOG, assim desfalcada, fundeou em Gibraltar; no dia seguinte, era assinado o armistício.

Cruzador Rio Grande do Sul

Contratorpedeiro Santa Catarina

Contratorpedeiro Rio Grande do Norte

FONTE: Wikipedia / FOTOS: DPHDM – Marinha do Brasil

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fragatamendes

Os amigos que gostam do assunto “NAVIOS DA MB”, devem me achar um CHATO, mas mais uma vez vou bater na mesma tecla. As fotografias postadas acima provam o que eu vivo falando que os nossos ALMIRANTES não dão a mínima para divulgação da história da nossa gloriosa MB através das suas fotos, pois este grande e raro acervo de fotos da DPHDM, continua a não ser divulgado para nós colecionadores e para os que gostam do assunto, seja através do site oficial ou do FACEBOOK e do FLICKR. Até quando teremos que esperar?

Rafael M. F.

A foto do Santa Catarina é da época da IIGM, não?

daltonl

É sim Rafael…dá para perceber pelo indicativo, mas fora
isso não houveram modificações ou nada muito significativo na aparência que permita distinguir um periodo do outro, ao menos nessa foto.

Já a foto do cruzador é da época da I Guerra que para quem não sabe, eram apenas duas as chaminés, só
alguns anos mais tarde ele seria modernizado quando
então uma terceira chaminé seria adicionada além de
todas terem a altura aumentada.

Rafael M. F.

Qual era o avião da foto? Macchi? Curtiss?

daltonl

Parece um hidroaviao Curtiss N9,e pode ser dos EUA pois
não encontrei nada que diga que adquirimos esse modelo, apenas outros também fabricados pela Curtiss.

daltonl

Acabei de encontrar a fonte…o Brasil operou sim com
o Curtiss N-9H !

“Case closed “

Guilherme Poggio

Acabei de encontrar a fonte…o Brasil operou sim com
o Curtiss N-9H !

Com certeza! Quase uma dezena. É só olhar aqui mesmo no Poder Naval

http://www.naval.com.br/anb/ANB-aeronaves/Curtiss_N-9H/Curtiss_N-9H.htm

Antonio M

Pouco sabemos sobre as participações do Brasil na I e II WW e mesmo na época da ditadura militar quando estudava o primário e colegial não lembro de aulas a respeito mas, foi um dos erros nesse período, não terem dado atenção à educação deixando-a nas mão dos “pedagogos do bem” e estamos onde estamos nessa área básica e para manter nossa imagem de país pacífico etc etc, onde morrem mais de 50mil pessoas por causa de acidente de trânsito! Tenho inclusive a publicação com as matérias de Júlio de Mesquita que esteve cobrindo a IWW (http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,livro-reune-relatos-de-julio-mesquita-sobre-a-1-guerra,20021031p2677) mas ainda não… Read more »

MO

Existem dois livros do Almte Saldanha da Gama ‘A marinha do Brasil na Primeira guerra Mundial’ and “A Marinha do Brasil na II Guera Mundial” editora Capemi, alem dos “Historia Naval Brasileira” do na época SDGM – O meu da II GM comprei no CTE Bauru, por ocasião de sua very first call em Santos em 1982, os outros depois

Fernando "Nunão" De Martini

MO,

Atualmente, é mais fácil encontrar os livros como parte dos volumes da História Marítima Brasileira, publicada pelo SDM / SDGM / DPHDM (conforme a data, muda a sigla…).

A quem interessar, estão disponíveis nesse link, a preços bem camaradas:

https://www.mar.mil.br/dphdm/

(clicar em publicações e divulgação, nos links da coluna da esquerda, e depois no link catálogo)

Guilherme Poggio

Caro Antonio M. acredito que a participação do Brasil na IIGM seja mais conhecida.

Ainda sobre a IGM segue um post que está no FORTE.

http://www.forte.jor.br/2014/07/29/unico-latino-americano-a-participar-da-1a-guerra-brasil-mostrou-despreparo/

daltonl

Excelente Poggio !

até havia colocado aqui no campo de busca “hidroavioes da marinha”, deveria ter pesquisado como Curtiss, então
cheguei ao resultado por um caminho um pouco mais longo.

Conforme o link que vc postou, os N-9Hs chegaram em 1919 que foi quando o cruzador Rio Grande do Sul retornou
da Europa.

abraços

MO
Guilherme Poggio

Conforme o link que vc postou, os N-9Hs chegaram em 1919 que foi quando o cruzador Rio Grande do Sul retornou
da Europa.

Não lembro quando o o RS voltou para o Brasil, mas imagino que sejam eventos totalmente desconexos.

Com o fim a I Guerra Mundial, sobraram muitos aviões nos EUA e na Europa. A AvN adquiriu vários nesta época. No final de 1919 a frota de aeronaves praticamente dobrou.

Além disso, a AvN mantinha boas relações com a Curtiss (fabricante dos N-9H) e pilotos brasileiros faziam estágio nos EUA.

daltonl

Poggio…

a legenda da foto menciona que a mesma teria sido tirada quando do retorno do Rio Grande do Sul. Se em novembro de 1918 ele chegou ao mediterraneo, deduzo que após passar um tempo por lá mais a viagem de volta ele retornou ao Brasil no inicio de 1919 portanto compatível
com a aeronave que aparece na foto que devia ter sido recém entregue pela Curtiss.

abs

Guilherme Poggio

Entendi a comparação agora Daltonl.

Pena que eu não tenha mais detalhes dessa compra dos N-9H.

Rafael M. F.

A DNOG retornou ao Rio de Janeiro em 25 de junho de 1919. A foto do Rio Grande do Sul com o Curtiss sobrevoando-o é do dia do regresso.

daltonl

Em uma revista T&D de alguns anos atrás consta que a data do retorno foi 19 de junho de 1919 , por algum motivo pensei que tivesse sido fevereiro, mas, de qualquer forma
coincidiu com a recém incorporação dos Curtiss.

Rafael M. F.

Correto, Dalton!

25 de junho foi a data da dissolução da DNOG. Faglia mia…

Carlos Alberto Soares

Muito boa matéria e comentários …. gostei.

Antonio M