‘Efeito Gripen’ alcança a Força de Minagem e Varredura
Roberto Lopes
Exclusivo para o Poder Naval
A visibilidade adquirida no Brasil pela indústria de material de Defesa da Suécia, após a vitória do caça Gripen NG na concorrência FX-2, da Aeronáutica, pode representar um ganho real para a Força de Minagem e Varredura, sediada na Bahia.
A Marinha encontrou, nos mais recentes modelos de navios de contramedidas de minagem fabricados no país escandinavo, uma identidade que há muito procurava com o porte da embarcação que julga ser adequada para renovar sua flotilha destinada à guerra de minas.
O estaleiro Kokums AB, da cidade de Malmo, na Suécia – empresa do grupo SAAB –, produz um pequeno conjunto de barcos com deslocamento entre 205 e 360 toneladas, cuja eventual adoção pela Esquadra brasileira não representaria impacto demasiadamente grande em relação à classe “Aratu” (Schültze, alemã), que há mais de 40 anos equipa a Força de Minagem e Varredura.
Os chefes navais brasileiros já examinaram as características das unidades suecas de contraminagem por duas vezes este ano.
A primeira em abril, quando o diretor de Engenharia Naval da Marinha, vice-almirante Francisco Roberto Portella Deiana visitou a Suécia. E a segunda na última semana de novembro, quando Deiana – acompanhado de oficiais e engenheiros brasileiros – recepcionou, no Rio, altas patentes da força naval sueca e representantes da indústria de Material de Defesa local – grupo que incluía a Kokums AB.
Tecnologia – A matriz da fase mais recente do desenvolvimento sueco nesse segmento de embarcações, iniciada em 2005, foi a classe “Landsort”, uma unidade de 270 toneladas (360 carregada), que mede os mesmos 47,5m de comprimento dos navios “Schültze”, tem estabilidade garantida pela boca de 9,6m (contra os 7,2m do barco alemão), e apesar de maior e muito mais bem equipada do ponto de vista de sensores e sistemas eletrônicos, exige uma tripulação 20% menor que a “Aratu”.
O casco é feito de um composto de fibra de vidro reforçado por plástico de alta rigidez. Esse amálgama de materiais ajuda a reduzir as assinaturas acústica e magnética da embarcação. E ainda confere certa resistência à estrutura da embarcação, no caso de uma eventual onda de choque causada por explosões próximas do casco.
Outros dois dados que impressionaram bem os especialistas brasileiros: os navios suecos usam plataformas marítimas controladas à distância para penetrar áreas marítimas minadas pelo inimigo, e também trabalham com os chamados ROVs – sigla em inglês de “veículos operados remotamente” (remotely operated vehicles).
A Força de Minagem e Varredura tem estimulado as pesquisas de universidades com robôs submarinos, buscando identificar um modelo com aptidões para a guerra de minas.
Nos últimos seis anos, estudos do Estado-Maior da Armada e do Comando de Operações Navais, que motivaram a organização de seminários sobre guerra de minas, vêm recomendando a transformação da atual Força de Minagem e Varredura em Força de Contramedidas de Minagem. A medida importaria, claro, na substituição das embarcações classe “Schültze”, e de preferência por uma classe que possa ser fabricada em estaleiros nacionais.
Desde a década de 1990, o Comando da Marinha tem autorizado a viagem de oficiais especialistas em guerra de minas para atender cursos e estágios nas unidades de contramedidas de minagem das marinhas da Bélgica, da Itália e dos Estados Unidos.
As forças belga e italiana estão incumbidas de fornecer boa parte da proteção anti-minas requerida pelos navios da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no norte da Europa e no Mar Mediterrâneo. Ocorre que os navios que essas esquadras adotam são bem mais pesados (e onerosos) que as unidades suecas: mais de 500 toneladas, no caso das embarcações belgas, e mais de 600 toneladas no caso dos barcos italianos.