Nome do novo Comandante da Marinha deve ser anunciado nos próximos dias
Modernização do ‘São Paulo’ separa Barbosa Guerra de Leal Ferreira
Roberto Lopes
Exclusivo para o Poder Naval
Os almirantes Wilson Barbosa Guerra, chefe do Estado-Maior da Armada, e Eduardo Bacellar Leal Ferreira, comandante da Escola Superior de Guerra (ESG), chegaram ao final da primeira semana de janeiro de 2015 como os mais fortes candidatos ao posto de comandante da Marinha do Brasil para o quadriênio 2015-2018. Mas atingiram esse ponto das suas carreiras separados por uma divergência: Barbosa Guerra é favorável ao investimento de recursos da Marinha em uma extensa reforma no porta-aviões “São Paulo”, Leal Ferreira é contrário a esse gasto.
Nas últimas horas, ambos tiveram a oportunidade de dizer isso, pessoalmente, ao novo ministro da Defesa, Jaques Wagner.
O titular da Defesa recebeu os três oficiais-generais mais antigos de cada Força, separadamente, para conversas de 30minutos de duração. Os encontros aconteceram em Brasília, e os últimos a serem recebidos foram os da Marinha, que não se encontravam todos em Brasília.
O ministro pretende anunciar os nomes dos novos comandantes das Forças Singulares até a próxima sexta-feira, dia 9 – desde que consiga abrir um espaço na agenda da presidenta Dilma Roussef, para despachar com ela o assunto.
No domingo Wagner conversou com Barbosa Guerra – nome da preferência do atual comandante da Marinha, almirante Moura Neto –, e ontem, segunda (05.01), recebeu primeiro Leal Ferreira, e depois o atual diretor-geral do Pessoal da Força Naval, Elis Treidler Öberg.
A ideia de Moura Neto sempre foi encaminhar a sucessão na Marinha por meio do critério da antiguidade. Sua expectativa era, por esse raciocínio, transmitir o cargo ao almirante Carlos Augusto de Sousa, um alagoano que, surpreendentemente, ainda no ano passado, pediu para deixar a chefia do Estado-Maior da Armada e ocupar uma vaga no Superior Tribunal Militar (STM).
Em maio de 2014 Moura Neto ofereceu a próxima vaga da Marinha no STM (a ser preenchida no primeiro semestre deste ano) ao almirante Leal Ferreira, que não respondeu de imediato se a aceitava. Com essa postura, o comandante da ESG sinalizou que abrigava a esperança de, mesmo não sendo o mais antigo da Força – ele é o nº 2 –, vir a ser escolhido para liderar sua corporação.
Almirantado – No último trimestre de 2014 aconteceu, entretanto, um episódio, que iria marcar o processo sucessório na Marinha.
Durante uma reunião do Almirantado, Leal Ferreira manifestou-se contrário ao alto investimento que será necessário fazer para a modernização do navio-aeródromo “São Paulo”.
Na opinião do comandante da ESG, o gasto (estimado nos bastidores de US$ 400 milhões a US$ 450 milhões) irá sacrificar muito a aquisição de sobressalentes e suprimentos para a Força de Superfície – já que o PROSUB (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), por ser um projeto de governo a governo (Brasil-França), precisa ter os seus recursos resguardados.
A postura de Leal Ferreira não esmoreceu o ânimo de Moura Neto em favor da reforma do porta-aviões. Tanto que, nos últimos meses, a Diretoria-Geral do Material da Marinha, procedeu a uma série de medidas administrativas no sentido de organizar a contratação de serviços e equipamentos para o serviço no “São Paulo”. Contudo, ao que se sabe, nenhuma dessas providências redundou, ainda, em assinatura de contratos.
O mais curioso, é que tanto Leal Ferreira quanto Barbosa Guerra construíram suas carreiras a bordo de navios de escolta, isto é, nos tombadilhos da Força de Superfície.
Leal Ferreira comandou a corveta “Frontin” (recentemente removida do serviço ativo da Esquadra), a fragata “Bosísio” e o 2º Esquadrão de Escolta. Barbosa Guerra foi oficial de Logística da (hoje extinta) Força de Contratorpedeiros, comandante da fragata “Liberal”, do 1º Esquadrão de Escolta e da própria Força de Superfície.
Apoios – Sabe-se, portanto, que, na hipótese de Moura Neto vir a ter voz ativa na escolha de seu sucessor, o nome que ele indicará será o do chefe do Estado-Maior da Armada.
Não obstante isso, nos meios navais circula a informação de que o ministro Jaques Wagner foi aconselhado por um diplomata do Ministério das Relações Exteriores de bom trânsito na cúpula do governo, a optar pelo nome de Leal Ferreira.
Outro que apoiaria essa escolha seria o ex-ministro da Defesa, Celso Amorim, que é embaixador aposentado e, nos últimos meses, quase toda a sexta-feira despachava em seu gabinete do Rio de Janeiro, instalado dentro da ESG.
É preciso dizer, entretanto, que, recentemente, o almirante Leal Ferreira comunicou a Moura Neto: no caso de não ser escolhido para comandar a Marinha, aceita a indicação ao STM.
Precedentes – Uma eventual opção de Wagner pelo nº 2 em antiguidade na Marinha não abriria, propriamente, um precedente.
Em janeiro de 1951 o presidente eleito Getúlio Vargas escolheu o então contra-almirante Renato de Almeida Guillobel, chefe de gabinete do almirante Jorge Dodsworth Martins (ministro da Marinha do governo Dutra), para comandar a Marinha; e o mesmo aconteceu, em setembro de 1961, com o contra-amirante Ângelo Nolasco de Almeida.
Em 1984, quando o então presidente João Batista de Oliveira Figueiredo decidiu substituir o almirante Maximiano da Fonseca no cargo de ministro da Marinha, ele optou pelo almirante de esquadra Alfredo Karam, submarinista que era apenas o terceiro mais antigo em uma lista de cinco nomes levados ao Palácio do Planalto.