Dilma surpreende e pula mais antigos ao escolher comandantes do Exército e da Marinha
Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A presidenta Dilma Roussef surpreendeu positivamente o meio militar ao escolher oficiais-generais para o comando do Exército e da Marinha que, apesar de possuírem sólida reputação profissional, não eram os mais antigos – e, portanto, os favoritos – nas suas corporações. Seus nomes devem aparecer na edição de amanhã, quinta (8/1), do Diário Oficial.
Para a Força Terrestre a chefe suprema das Forças Armadas fixou-se no atual Comandante de Operações Terrestres, general de exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, de 63 anos. Ele era apenas a terceira opção pelo critério da antiguidade, e ganhou a oportunidade de liderar sua Instituição por causa do conceito sólido que firmou, no início da década de 2010, à frente do Comando Militar da Amazônia.
A Marinha ficou para o atual comandante da Escola Superior de Guerra, almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, nome que era da predileção do ex-ministro da Defesa Celso Amorim, do ex-ministro da Marinha, almirante (reformado) Alfredo Karam, e de vários diplomatas do Ministério das Relações Exteriores.
Na lista apresentada à Dilma, Leal Ferreira era o segundo mais antigo, depois do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Wilson Barbosa Guerra, que aceitou ser indicado para a vaga que a Marinha terá, em março, no Superior Tribunal Militar.
O atual comandante da Marinha, almirante Moura Neto, pretendia que o seu sucessor fosse escolhido pelo critério da antiguidade, mas por volta das 18h de hoje (quarta, 7/1) telefonou para Karam e comunicou: “seu amigo foi o escolhido”.
Leal Ferreira e Karam são vizinhos, no bairro carioca da Barra da Tijuca. Eles são tão íntimos que Karam, de 89 anos – o decano dos submarinistas brasileiros –, chama Leal Ferreira de “meu sobrinho”.
A sucessão do brigadeiro Juniti Saito, da Força Aérea, está entre dois oficiais que o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma conhecem pessoalmente: o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, Nivaldo Luiz Rossato, e o brigadeiro Joseli Parente Camelo, que trabalha no Palácio do Planalto como Secretário de Coordenação e Acompanhamento de Assuntos Militares do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
Exército – Gaúcho de Cruz Alta, Villas Bôas serviu por vários anos na Amazônia – primeiro como comandante de um batalhão de Infantaria, e depois como titular do próprio Comando Militar da Amazônia. Ele tem fama de ser um oficial franco e objetivo, que expõe os problemas do trabalho com clareza e praticidade.
Além das experiências nas selvas do Norte do país, o general Villas Bôas teve a chance de, na condição de assistente do Adido Militar brasileiro na China, conhecer de perto as numerosas e bem equipadas Forças Armadas chinesas; e também de lidar com os políticos de Brasília, já que serviu na Assessoria Parlamentar do Exército no Congresso.
À frente da Força Terrestre ele será confrontado com os integrantes da Comissão Nacional da Verdade, que exigem a revogação da Lei de Anistia para a responsabilização criminal de oficiais e subalternos responsáveis por violações dos direitos humanos à época do Regime Militar.
Outro desafio será manter a implantação do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), em meio aos cortes orçamentários já anunciados pela nova equipe econômica do governo. Também caberá a Villas Bôas continuar a transformação das brigadas de Infantaria Motorizada em unidades mecanizadas, a organização de Pelotões Especiais de Fronteiras na Região Norte e de uma brigada no Amapá, para guarnecer a fronteira com a Guiana Francesa.
Em termos de reaparelhamento, a grande notícia – veiculada com exclusividade, na última segunda-feira, pelo ForTe – Forças Terrestres – são as providências para a aquisição, pela Aviação do Exército, de uma dúzia de helicópteros de ataque.
Por meio dos chamados Requisitos Operacionais Básicos, os oficiais do Grupo de Ensaios e Avaliações do CAVEX (Comando de Aviação do Exército) chegaram a uma lista com três opções: os modelos europeus T129 Mangusta e Mi-28NE (russo), e o AH-1Z americano – uma evolução do festejado Super Cobra.
A fase dos Requisitos Operacionais Básicos precede as depurações do processo de seleção, que serão feitas por intermédio dos Requisitos Técnicos, Logísticos e Industriais (RTLI) e do conhecido “Request for Proposal” – pedido de proposta oficial aos fabricantes das aeronaves.
Essa solicitação deverá enfatizar a necessidade de transferências de tecnologias, de linhas de montagem – total ou parcial – em território nacional e de simuladores modernos.
Segundo o ForTe apurou, a qualidade e funcionalidade dos simuladores será um dos fatores decisivos na escolha do novo helicóptero de combate do Exército.
Marinha – A tarefa do almirante Leal Ferreira à frente da Marinha não será fácil.
O componente mais pesado da Frota de Superfície – formado por fragatas de origem britânica – está envelhecido, e a presidenta Dilma vem evitando escolher um dos sete estaleiros estrangeiros que, no âmbito do PROSUPER (Programa de Obtenção de Meios de Superfície), oferecem projetos de fragatas multifunção para serem construídas em território nacional.
O problema, como sempre, são os recursos.
Uma das possibilidades é que o novo ministro da Defesa, Jaques Wagner, obtenha da presidenta uma definição sobre o vencedor do PROSUPER, sem que isso gere gastos significativos para a União nos exercícios fiscais de 2015 e 2016.
Leal Ferreira também precisará demonstrar habilidade para tratar do caso da extensa modernização prevista para acontecer, nos próximos quatro anos, no porta-aviões “São Paulo”.
O tema é caro ao almirante Moura Neto, mas Leal Ferreira diverge da conveniência de autorizar o investimento de várias centenas de milhões de dólares nesse planejamento, já que a Esquadra se ressente fortemente da falta de sobressalentes e de suprimentos.
Nas últimas horas, o Comando da Marinha preparou um esforço de comunicação junto aos públicos interno e externo, para provar que a corporação tem sim condições de investir na renovação dos seus meios, enquanto realiza a demorada remodelação do “São Paulo”.
A injeção de recursos no programa de submarinos convencionais classe “Humaitá” – projeto em conjunto com a DCNS francesa – deve ser mantida, ainda que possam ocorrer alguns atrasos em pagamentos. O programa do submarino nuclear “Álvaro Alberto” não exigirá, nos próximos dois anos, gastos importantes.
Força Aérea – Nos próximos quatro anos caberá ao novo comandante da Aeronáutica – brigadeiro Rossato – conduzir a modernização da frota da FAB.
Entre os pontos-chave dessa renovação está o recebimento, pelas unidades aéreas, dos primeiros jatos cargueiros Embraer KC-390 e dos caças Gripen C – que chegarão à Base Aérea de Anápolis (GO) no segundo semestre de 2016. Essas aeronaves virão por empréstimo, procedentes dos estoques da Força Aérea da Suécia, numa versão ainda menos sofisticada que a NG, adquirida pelo Brasil por meio do Programa FX-2.
Dois desafios aguardam o novo chefe da aviação militar brasileira: conduzir a concorrência que dotará a FAB de um novo jato de treinamento de pilotos de combate – embate que deve reunir o modelo italiano Aermacchi M-346 e o russo Yakovlev YAK-130 –, e dar um novo rumo ao programa nacional de desenvolvimento de foguetes espaciais.
A pesquisa e construção do chamado Veículo Lançador de Satélites concentrou esforços da FAB e do Ministério da Ciência e Tecnologia nas décadas de 1980 e 1990. Entretanto, durante o segundo mandato do presidente Lula e na primeira gestão de Dilma Roussef elas perderam prioridade, recursos, e vários dos prazos estabelecidos para novos lançamentos a partir do território nacional.