Posse do novo Comandante da Marinha, almirante Leal Ferreira, está marcada para 6 de fevereiro

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Roberto Lopes
Enviado Especial ao Rio

A Era Moura Neto na Marinha do Brasil se encerrará às 11h de 6 de fevereiro próximo, uma sexta-feira.
Nessa data, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, presidirá a cerimônia de posse do novo comandante da Força Naval, almirante Eduardo Leal Ferreira, de 62 anos.
O sucessor de Moura Neto permaneceu embarcado por mais de 16 anos – acumulou cerca de 1.300 dias de mar –, tendo exercido, ao longo de 40 anos, o comando da corveta “Frontin”, da fragata “Bosísio”, do 2º Esquadrão de Escolta e o cargo de comandante-em-chefe da Esquadra, entre outras atribuições.

No curto prazo Leal Ferreira irá priorizar (1) o reforço dos estoques de suprimentos e de sobressalentes da Esquadra (aí incluídos o recompletamento da munição e a normalização do abastecimento de itens para a Força Aeronaval); (2) a continuidade das medidas de implantação do projeto CV 03 (corvetas classe “Tamandaré”); (3) o apoio ao programa de construção de submarinos classe “Riachuelo” (Scorpène), que vem registrando pequenos atrasos; (4) as providências necessárias ao início da construção do primeiro submarino de propulsão nuclear, previsto para 2016 (mas que se encontra em estágio ainda muito embrionário); e (5) uma gestão junto à Presidência da República, por meio do ministro da Defesa, capaz de obter da presidenta Dilma Roussef (comandante suprema das Forças Armadas), ao menos, a definição do estaleiro estrangeiro que irá atender o Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper) da Marinha.

NAe São Paulo A12 - 3

“São Paulo” – Nesse conjunto de tarefas inadiáveis, que precisarão ser enfrentadas e equacionadas pelo novo comandante já em 2015, surge também a questão espinhosa da modernização do porta-aviões “São Paulo” – remodelação que começou a ser preparada ainda no ano passado, pelo almirante Moura Neto.

No fim de 2014, durante uma reunião do Almirantado, tanto Leal Ferreira como o então diretor-geral de Pessoal da Marinha – hoje Comandante de Operações Navais –, almirante Treidler Öberg, se declararam contrários ao gasto de aproximadamente US$ 400 milhões na troca da motorização do navio e em outras reformas, que visam melhorar o funcionamento da catapulta e a distribuição interna de energia.

A primeira decisão a ser tomada é se haverá, ou não, a troca da propulsão a vapor pela propulsão por máquinas a diesel.
Em caso afirmativo, parece certo que o cronograma de investimentos nesse serviço precisará radicalmente ser alterado, porque, no orçamento da Marinha de 2015, não haverá dinheiro para aplicar no “São Paulo” e, ao mesmo tempo, adquirir os sobressalentes que os meios da Esquadra requerem.
A questão do Programa de Obtenção de Meios de Superfície é muito mais ampla.

Fragatas FREMM italianas - foto Marinha Italiana

Prosuper – Grupos industriais da Alemanha, França, Espanha, Holanda, Itália e Coreia do Sul mantém-se na expectativa, desde 2011, por uma decisão do governo brasileiro, já que o Prosuper irá representar, num prazo de 12 anos, o desembolso de quase R$ 7 bilhões. E eles agora ainda têm a companhia da indústria naval da China – país sócio do Brasil no grupo dos BRICs.

O “guarda-chuva” do Prosuper abriga 5 fragatas polivalentes de 6.000 toneladas, 5 navios-patrulha oceânicos de 1.800 toneladas e um navio de apoio logístico – navios que deverão ser construídos no Brasil, favorecendo a geração de, aproximadamente, 13.000 empregos diretos no país.

O caso mais grave é o do cansaço das fragatas que atendem comissões longe das costas brasileiras, em cooperação com marinhas estrangeiras. Com a paralisia, há quase quatro anos, do Prosuper, oficiais da Marinha estudaram a possibilidade de serem adquiridas embarcações usadas por “compra de oportunidade”.

Em 2013 foram analisadas as unidades das classes Oliver Hazard Perry (americanas), de 4.100 toneladas, e Maestrale (italianas), de 3.000 toneladas.

As Perry foram consideradas de operação problemática por causa de seu alto custo de manutenção e do gasto que exigiriam na modernização de sistemas (de propulsão e de combate); as Maestrales, fabricadas na década de 1980, pareceram inadequadas para atender requisitos básicos da modernização dos meios da Esquadra, como as características de furtividade.

“Bom Princípio” – Uma forma de contornar os claros que, ainda na gestão do almirante Leal Ferreira, irão se abrir na força de superfície – em conseqüência da inevitável aposentadoria das fragatas mais desgastadas –, seria apressar a construção das corvetas “Tamandaré”. Projetada para deslocar 2.480 toneladas – praticamente uma fragata leve –, essa embarcação será dotada de dois sistemas de mísseis (antiaéreo e superfície-superfície) e poderá transportar um helicóptero de até 10 toneladas.

Mas também nessa hipótese as previsões não são animadoras.

corveta classe barroso 4
Concepção da classe Tamandaré – Arte: Jacubão

 

A construção da cabeça de série – “Tamandaré” (V35) – deveria ter começado em dezembro de 2014, para que o navio pudesse estar pronto em 2019, ao custo (aproximado) de US$ 430 milhões.
Como o serviço está atrasado, e com prognóstico ainda incerto para sua implementação (a Marinha fará um esforço para iniciá-lo até junho) parece óbvio que desatar o nó do Prosuper seria a melhor notícia desse início de ano – ou, como dizem as crianças que (especialmente no interior do Brasil) correm atrás de balas e moedas no 1º de janeiro, um verdadeiro “Bom Princípio de Ano Novo”.

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