Argentina escolhe a China como parceira para seus OPV
O Ministério da Defesa argentino escolheu a indústria naval da China como sua parceira no programa de construção de navios-patrulha oceânicos (OPV, na sigla em inglês) para a Flota de Mar – como a Esquadra platina é chamada.
O acordo entre as partes fará parte do amplo documento sobre cooperação militar nos campos industrial e científico-tecnológico que será assinado na semana que vem, em Pequim, durante a visita oficial de dois dias (3 e 4) que a presidente Cristina Kirchner fará à China – uma retribuição à rápida passagem do presidente chinês Xi Jinping por Buenos Aires, em julho do ano passado.
Os almirantes argentinos fixaram em cinco o número de patrulheiros de alto-mar que sua frota necessita, mas o contrato a ser assinado prevê, inicialmente, apenas três unidades. A negociação em torno desses navios acontece há mais de um ano, e intensificou-se depois que o governo de Buenos Aires deixou de lado a opção alemã, que contemplava a construção, em seu país, de quatro unidades OPV-80 Fassmer, já adotada pelas Armadas do Chile e da Colômbia.
A contratação da classe alemã estava tão certa que, até hoje, o site da Fassmer GmbH & Co. KG (www.fassmer.de) inclui a Armada Argentina como usuária do navio, ao lado das Marinhas do Chile e da Colômbia…
A 7 de janeiro último, na matéria “Armada argentina tentará, pela 3ª vez, obter os seus navios-patrulha oceânicos”, o Poder Naval adiantou aos internautas que a alternativa representada pelo navio patrulha tipo P-18N chinês, de 1.700 toneladas, ganhara “força, nos últimos meses”, entre as autoridades de Buenos Aires.
Na sexta-feira passada (23.01), uma reunião do ministro da Defesa argentino, Agustín Rossi, com a chefe do Departamento de Comércio Militar do governo chinês, Zhang Chunli, realizada na capital bonaerense, sacramentou as parcerias a serem consagradas nessa nova etapa das relações bilaterais sino-argentinas.
Confusão – O comunicado oficial sobre a reunião, emitido pelo Ministério da Defesa argentino, criou confusão ao listar, na pauta do encontro, a “modernização de OPV”. Como a Marinha argentina nunca chegou a possuir um OPV, ficava impossível imaginar a reforma de algo que não existia…
A explicação só veio esta semana, quando funcionários da Pasta da Defesa esclareceram que haviam tentado interessar os chineses numa modificação do projeto OPV-80, cujo detalhamento técnico o governo argentino adquiriu ao estaleiro chileno Asmar, ainda em 2012, por 3 milhões de dólares. Os asiáticos, porém, rejeitaram a ideia, por considerarem os planos de fabricação do modelo alemão incompatíveis com a sua metodologia de produção.
Os argentinos se deixaram seduzir pela ideia de obter os patrulheiros P-18N, depois que representantes do estaleiro Wuchan, da cidade chinesa de Wuhan, apresentaram dois argumentos relevantes em favor dos seus barcos, recentemente fornecidos à Marinha da Nigéria.
A primeira dessas alegações versou sobre uma oferta de condições de financiamento embutida no atual panorama geral de trocas comerciais entre Pequim e Buenos Aires, onde os débitos assumidos pelos argentinos serão, em parte, quitados por meio de fornecimentos de commodities.
Furtividade – O segundo trunfo jogado pelos asiáticos à mesa de negociação foi de caráter estratégico-militar: a chance de a Armada Argentina obter o seu primeiro navio de combate stealth – ou seja, com características efetivas de furtividade –, e, dessa forma, escalar um degrau tecnológico.
De acordo com as explicações de construtores e de militares chineses, graças às técnicas construtivas e ao material usado na fabricação do navio, a assinatura radar de um P-18N aparecerá nas telas de um eventual inimigo como a de uma embarcação de 500 toneladas, e não de um navio de 1.700 toneladas. As dimensões reais da embarcação só poderão ser detectadas quando o navio estiver a pequena distância.
Outro fator decisivo na escolha feita pelos argentinos foi, claro, o preço.
Apesar desse item ainda não estar fechado – em função dos equipamentos que irão a bordo dos navios argentinos –, os chineses acenam com um preço unitário por seus patrulheiros bem abaixo dos 70 milhões de dólares que cada OPV-80 custaria.
Ano passado eles entregaram dois P-18N aos nigerianos – acompanhados de um helicóptero Z-9 (cópia chinesa do Dauphin navalisado) e sobressalentes – por 48,5 milhões de dólares cada um. E o governo de Lagos ainda pagará a maior parte do valor da encomenda com petróleo.
Flexibilidade – O modelo P-18N é uma variante da corveta rápida porta-mísseis Tipo 056 chinesa, um navio muito leve (1.300 toneladas) cuja velocidade (mantida em segredo) pode ser estimada em torno dos 30 nós.
O P-18N a ser fornecido aos argentinos será, possivelmente, diferente do navio entregue à Marinha nigeriana, da mesma forma que o barco nigeriano era diferente do modelo P-18N de apenas 1.450 toneladas que, em 2005, constituiu a classe Pattani, da Marinha da Tailândia.
Para os argentinos, o lado desfavorável dessa negociação é que os chineses resistem a habilitar o estaleiro Tandanor na construção do modelo P-18N. Por enquanto, é certo que ao menos os dois primeiros navios dessa classe serão construídos em Wuhan.
Ao Poder Naval, o representante de uma indústria naval europeia avaliou que os chineses tendem a construir navios militares muito grandes e que exigem tripulações numerosas, o que, possivelmente, reflete sua baixa automação e grande disponibilidade de pessoal. Ele lembrou, por exemplo, que a Guarda-Costeira da China acaba de incorporar um navio de controle de área de 10.000 toneladas…
O P-18N mede 95,5 m de comprimento, contra 80,6 m do OPV-80 alemão. O modelo chinês requer 70 tripulantes, enquanto o OPV-80 pode ser manobrado com até 30 oficiais e subalternos.
Outro dado relevante na aquisição do barco chinês diz respeito à flexibilidade do fabricante em relação ao armamento. Na Marinha chinesa o P-18N é equipado com um canhão HPJ26, de 76mm, e dois modernos HPJ14, de 30mm, controlados por sensor eletro-óptico. Mas isso pode ser mudado.
O “Pattani” tailandês foi dotado de armamento ocidental: um canhão Oto Melara 76/62 Super Rapid, dois canhões de 20mm da Denel sul-africana e duas metralhadoras pesadas US Ordnance M2HB calibre .50.