O monitor Parnaíba e a Base Fluvial de Ladário – parte 1

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Parnaíba - perfil a boreste na Base Fluvial de Ladário - foto Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Nova série de matérias do Poder Naval começa mostrando o armamento principal do monitor Parnaíba

 

Por Fernando “Nunão” De Martini

Vinheta ExclusivoHá um mês, no final de 2014, foi lançado o livro “Monitor Parnaíba 75 anos: mais do que um navio, uma história da Marinha“, publicação da Aeronaval Comunicação a partir de uma encomenda do 6º Distrito Naval (6º DN). Para sua produção, realizada entre o final de 2012 e início de 2013, os editores Fernando De Martini (autor) e Alexandre Galante (diagramador) viajaram a Ladário a convite do 6º DN em 10 de novembro de 2012, poucos dias após o monitor Parnaíba ter celebrado seu 75º aniversário de incorporação à Esquadra (6 de novembro de 1937). Nos dias em que lá permanecemos, além de informações preciosas obtidas em pesquisas nos livros do navio e seu acervo, nos arquivos do  6º DN e em entrevistas com tripulantes atuais e do passado do navio, tiramos centenas e centenas de fotos do navio e da base, das quais uma parte ilustrou os capítulos do livro que tratam das atividades mais recentes do monitor.

Porém, como muitas dessas imagens não puderam ser aproveitadas no espaço restrito de um livro (que, afinal, tem uma longa história para condensar em suas páginas), e atendendo a pedidos de leitores do Poder Naval para que compartilhássemos essas fotos que tiramos naqueles dias, decidimos publicar aqui boa parte dessas imagens que incluem não só o monitor em todos os seus detalhes, mas também as instalações da Base Fluvial de Ladário, a Flotilha de Mato Grosso e seus outros navios, além de temas relacionados. Assim, tanto as pessoas que já receberam seus exemplares do livro dos 75 anos do Parnaíba poderão complementar as informações e imagens da obra com o material mostrado a partir de agora, quanto os que ainda não adquiriram o livro poderão ter uma amostra dessa história, principalmente da fase recente.

Nossa série começa com o armamento principal do monitor: seu canhão de 76mm, instalado no convés de proa, visto à vante do passadiço na foto do alto (que mostra o Parnaíba atracado à Base Fluvial de Ladário, tendo ao fundo o edifício do Comando da Flotilha de Mato Grosso) e na imagem abaixo.

Parnaíba - convés de proa com canhão 76mm - foto Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Para compreender o porquê dessa peça equipar o navio, é preciso voltar sete décadas na história. Concepções e especificações preliminares mostravam, em meados da década de 1930, que aquele monitor que inaugurava uma nova fase de construção naval no Brasil, no ainda incompleto AMIC ( Arsenal de Marinha da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro) seria equipado com dois canhões de 120mm (4,7 polegadas). Tratava-se basicamente do mesmo armamento de seu predecessor construído no velho Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, o Pernambuco – incorporado em 1910 e equipado com uma torre dupla sobre o convés de proa.

Concepções mostravam o novo monitor tanto com o armamento principal dividido em dois reparos (parcialmente protegidos) de 120mm na proa e na popa, quanto concentrado à proa numa torre dupla fechada semelhante à do Pernambuco, um pouco mais alta para permitir maior elevação das armas. Porém, naquela época já havia sido desativado o cruzador Barroso, cujo armamento principal compreendia 6 canhões de 152mm (6 polegadas), e que assim estavam disponíveis para reaproveitamento em outros navios.

Foi decidido que o monitor em construção no AMIC receberia uma única peça de 152mm sobre uma plataforma circular no convés de proa, protegida por uma torreta blindada semi-aberta (conferindo proteção frontal, lateral e superior, aberta na parte de trás), conjunto proveniente do velho cruzador incorporado 40 anos antes (em 1896). O reparo de 152mm pode ser visto no Parnaíba na imagem abaixo, que mostra uma das páginas do livro de 75 anos do monitor.

reprodução página 48 do livro Monitor Parnaíba 75 anos

Os motivos exatos da escolha desse canhão não são explicitados em detalhes nos documentos da época, mas o fato é que se tratava de um equipamento disponível – e canhões navais eram, e ainda são, itens relativamente caros, tanto que outros navios construídos em seguida no AMIC também aproveitaram armas de embarcações retiradas de serviço. Mas deve-se se destacar, também, que era uma peça bastante poderosa e superior em alcance e peso de fogo às das bem-armadas canhoneiras incorporadas pelo vizinho Paraguai no início da década de 1930, Humaitá e Paraguay, equipadas com quatro canhões de 120mm cada uma (navios e armamentos construídos na Itália).

Por cinco anos, entre março de 1938 (quando foi incorporado à Flotilha de Mato Grosso) e abril de 1943, o Parnaíba operou em Ladário equipado com o canhão de 152mm, formando um trio de monitores com o já citado Pernambuco e com o Paraguassu, navio cuja construção foi iniciada justamente com a do Pernambuco no final do século XIX mas que, após décadas de paralisação, só foi finalizada em 1940 – o Paraguassu era equipado com uma peça de 120mm no convés de proa.

Obra com os três monitores da Flotilha de Mato Grosso de Izulina Gomes Xavier na Base Fluvial de Ladário - foto Nunão - Forças de Defesa

A época em que os três navios operavam juntos é homenageada em uma grande e bela escultura, em alto relevo, da artista Izulina Gomes Xavier, exposta na Base Fluvial de Ladário e vista na foto acima. Mostraremos mais detalhes desta e de outra obra da artista numa das próximas matérias desta série, dedicada à base. Por hora, voltemos ao armamento do Parnaíba.

Com a Segunda Guerra Mundial e a grande carência de navios para missões de escolta a comboios costeiros e proteção dos nossos principais portos frente à ameaça submarina do Eixo, o Parnaíba e o Paraguassu deixaram Ladário (onde ficou o Pernambuco) e foram modificados no AMIC para atuar na guerra antissubmarino. Receberam calhas de lançamento de bombas de profundidade à popa, metralhadoras de 20mm e, no caso do Parnaíba, seu canhão principal foi substituído por uma peça mais leve, adequada a um eventual engajamento com um submarino na superfície, e padronizada com o calibre utilizado pela maior parte dos navios da Esquadra: uma peça de 120mm igual à que já equipava o Paraguassu.

O navio é visto com esse armamento na reprodução abaixo das páginas de abertura de matéria especial, sobre o navio e os 70 anos de sua participação na Segunda Guerra Mundial, publicada na revista Forças de Defesa número 8. A foto da direita, do final daquele conflito, pode ser comparada à configuração atual, da imagem da esquerda. Já quando se compara com a reprodução mais acima, das páginas do livro, pode-se perceber que a peça de 120mm (4,7 polegadas) é claramente de porte menor, especialmente seu tubo, em relação à de 152mm. Assim como a arma anterior de 6 polegadas, o canhão instalado era proveniente do armamento original do desativado cruzador Barroso, e contava com uma torreta com proteção frontal e lateral, aberta na parte de trás.

Imagem abertura matéria monitor Parnaíba revista Forças de Defesa 8

Com o fim da guerra, o Parnaíba voltou a Ladário e operou equipado com o canhão de 120mm até o fim da década de 1950, época em que esse calibre, antes tão comum nos navios da MB, estava em desuso. Fatores como o desgaste da arma, sua obsolescência e perda de eficiência, somados à diminuição e envelhecimento dos estoques de projéteis e aos benefícios de padronização com outros meios distritais que vinham sendo equipados com canhões de 76mm (3 polegadas), levaram à adoção destes últimos tanto no Parnaíba quanto no Paraguassu.

Parnaíba - canhão de 76mm - foto Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 2 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Naquela época, a MB havia incorporado dez corvetas classe “Imperial Marinheiro” equipadas com peças de 76mm, ao mesmo tempo em que desativava navios que participaram incessantemente de missões na Segunda Guerra Mundial, como pequenos caça-submarinos e corvetas (estas originariamente navios mineiros varredores construídos na década de 1930, e inicialmente equipados com canhões de 4 polegadas / 101mm), dotados de peças de 76mm L/50 (tubo com 50 calibres de comprimento) recebidas dos Estados Unidos.

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 4 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 10 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 5 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 3 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Essas armas fabricadas em grande quantidade no início da década de 1940 ainda eram bastante modernas e dotadas de farta munição – que não tem faltado até hoje. Uma delas é a que equipa desde 1959 o monitor Parnaíba, mantendo hoje praticamente a mesma eficiência e precisão da época em que foi construída, e que pode ser vista em vários detalhes nas fotos acima e abaixo. Clique nas imagens para ampliar.

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 9 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 8 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 7 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - canhão de 76mm - foto 6 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Esse canhão, empregado no monitor principalmente em apoio de fogo naval em operações ribeirinhas (sendo exercitado tanto o tiro direto quanto o indireto) e as outras armas que o equipam fazem do Parnaíba o navio de terceira classe (classificação que leva em conta o porte) mais bem armado da MB, e também o mais poderoso do teatro de operações da Fronteira Oeste do Brasil, onde o “Jaú do Pantanal” reina absoluto há mais de sete décadas.

Por fim, mostramos aqui duas fotos das munições empregadas operacionalmente pelo monitor Parnaíba (o cartucho “chato” sem projétil é dos canhões de salva de 47mm, utilizados em cerimônias), sendo a maior delas a de 76mm, seguida das de 40mm e 20mm – para se ter uma ideia dos tamanhos comparados, o comprimento total da munição de 76mm, incluindo projétil e cartucho (como é visto na foto) varia entre 85 e 88cm, conforme o tipo.

Futuramente, continuaremos mostrando detalhes do monitor Parnaíba, além de outros navios e a Base Fluvial de Ladário, em novas matérias da série. A próxima vai abordar o armamento secundário do navio, composto de canhões de 40mm e metralhadoras de 20mm.

Parnaíba - munições 76mm - 40mm - 47mm salva - 20mm - foto Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Parnaíba - munições 76mm - 40mm - 47mm salva - 20mm - foto 2 Nunão - Poder Naval - Forças de Defesa

Gostou? Quer conhecer ainda mais sobre o navio? Compre seu livro ‘Monitor Parnaíba – 75 anos’

A editora Aeronaval Comunicação, que produz a revista Forças de Defesa, lançou aprimeira edição do livro “Monitor Parnaíba – 75 anos”, feito a partir de encomenda do 6° Distrito Naval.

Escrito pelo historiador e integrante do corpo editorial de Forças de Defesa, Fernando De Martini, o livro “Monitor Parnaíba – 75 anos” tem capa dura, 80 páginas e 100 fotos e ilustrações, sendo que a grande maioria delas é inédita. O livro tem 28cm de largura e 21cm de altura (quando aberto, 56cm de largura, para exibir as imagens com riqueza de detalhes).

Livro Monitor Parnaíba - 75 anos - Capas - WEB

A narrativa mostra a evolução da construção naval militar brasileira desde a época da Guerra do Paraguai até a incorporação do Parnaíba, marco da retomada dessa atividade na década de 1930, além da operação do navio desde então até os dias atuais, contando também muito da história da própria Marinha em todo esse longo período.

Além de entregar os exemplares encomendados pelo 6º DN, a editora Aeronaval Comunicação está disponibilizando uma quantidade limitada de livros desta primeira edição para seus leitores.

No Rio de Janeiro é possível compra o Livro “Monitor Parnaíba – 75 anos” diretamente na Banca do Osny na Rua São José, em frente ao nº 90 – Centro – RJ, Telefone (21) 2220-0553, já em São Paulo é possível adquirir o livro diretamente da Agência Look  na Av. São Luiz 258 Loja 27 – República, Telefone (11) 3256-0435.

 

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