Argentinos vão à Rússia receber os seus super-rebocadores
Está marcado para a última semana deste mês, o embarque para a Rússia de, aproximadamente, 70 oficiais e subalternos da Flota de Mar (Esquadra) argentina. No porto de Murmansk (1.486 km ao norte de Moscou) esse pessoal receberá os quatro grandes rebocadores classe Neftegaz comprados, no início do ano passado, por sua Marinha, a uma empresa russa de serviços navais offshore.
Uma equipe de militares argentinos já está em território russo, acompanhando de perto a vistoria que, desde a metade final de 2014, vem sendo feita especialmente nos setores de propulsão e do casco das embarcações, de forma a permitir que elas cumpram em segurança a travessia de cerca de 40 dias até a Base Naval de Puerto Belgrano (uns 650 km ao sul de Buenos Aires), seu destino inicial.
Além de serem “apresentados” aos seus novos barcos – de mais de 81 m de comprimento, 16,3 m de boca e 2.723 toneladas de deslocamento –, os tripulantes sul-americanos serão empenhados em navegações de curta distância misturados ao pessoal russo, para que se acostumem a manobrar as unidades.
Plataformas – Os classe Neftegaz são maiores – ou mais pesados – que a maior parte dos navios da frota de combate argentina (corvetas e submarinos), perdendo apenas para o destróier de origem britânica tipo 42 “Hércules” (hoje convertido em navio transporte de fuzileiros) e para as fragatas Meko 360, de procedência alemã, que na Armada platina foram reclassificadas como destructores.
A viagem da flotilha de rebocadores para a Argentina também será feita por tripulações mistas (de argentinos e russos). A expectativa é de que os barcos alcancem Puerto Belgrano até o fim deste semestre.
Construídos por um estaleiro polonês entre a metade final dos anos de 1980 e o início da década seguinte, os Neftegaz estão, há cerca de dez meses, no centro de uma polêmica internacional, por causa do mistério que o Ministério da Defesa argentino insiste em fazer acerca dos reais propósitos de sua aquisição.
Dotados de casco reforçado, que os habilita a operar em mares gelados, os navios foram projetados para mover e posicionar plataformas de petróleo. A venda deles à Marinha argentina, logo fez surgir, na Inglaterra, a suspeita de que os militares sul-americanos possam, eventualmente, vir a empregá-los para tentar interceptar e capturar as plataformas de exploração petrolífera que os ingleses pretendem deslocar para o litoral norte das Ilhas Malvinas (Falkland para os ingleses), a fim de iniciar a extração de óleo localizado no leito submarino.
Investigação – O Ministério da Defesa do Brasil acompanha esse assunto dos super-rebocadores desde a metade final de 2013, quando os argentinos ainda negociavam a transferência das embarcações. Em Brasília a investigação ficou a cargo da Subchefia de Inteligência Estratégica (SCIE) do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, à época comandada pelo almirante de esquadra Carlos Augusto de Souza (mais tarde chefe do Estado-Maior da Armada).
A equipe do almirante Carlos Augusto – que hoje serve no Superior Tribunal Militar – chegou à conclusão de que os argentinos queriam esses barcos para, efetivamente, operar em águas próximas à zona de exclusão marítima definida pelos ingleses em torno do arquipélago malvinense.
Ainda em 2013, o governo da presidenta Cristina deu início a diversos levantamentos dos recursos biológicos e geológicos de zonas marítimas ao largo do litoral patagônico.
No segundo semestre do ano passado, depois de, com o seu silêncio, contribuir para um verdadeiro tiroteio internacional de versões e acusações, o ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi, declarou que os rebocadores serão utilizados, tão somente, como unidades de apoio logístico, patrulha naval e salvaguarda da vida humana, em substituição a quatro velhos avisos (todos eles muito menores que os barcos russos) construídos nos Estados Unidos à época da 2ª Guerra Mundial.
Segundo uma fonte argentina ouvida pelo Poder Naval, os classe Neftegaz serão destacados para reforçar a campanha de aprovisionamento das bases argentinas durante o verão antártico, e, sobretudo, para patrulhar o eixo Ushuaia (capital da Província Terra do Fogo, Antártida e Ilhas do Atlântico Sul)-Base Petrel, na Ilha de Dundee, no Pólo Sul.
Ushuaia fica a 770 km de Port Stanley, a capital malvinense; Petrel a 600 km. Petrel, que estava fechada e possui duas pistas de pouso (uma com mais de mil metros de extensão), parece aos argentinos especialmente importante. Tanto que o próprio ministro Rossi anunciou sua reabertura, em dezembro passado.
Baixa velocidade – Um pedido de esclarecimentos à Presidência da República sobre a importação dos Neftegaz foi apresentado, ano passado, no Congresso argentino, pelo deputado Julio Cesar Martínez, do partido opositor Unión Cívica Radical, e devidamente bloqueado pela bancada situacionista nesse Parlamento. Petição no mesmo sentido, encaminhada diretamente por Martínez a Jorge Capitanich, presidente do Gabinete de Ministros do governo Cristina Kirchner, sequer mereceu resposta.
Em todas as suas interpelações (mesmo sem insinuar que os navios possam vir a ser empregados para interceptar plataformas a serviço de empresas petrolíferas britânicas), Martínez menciona que as características dos barcos russos nem de longe lembram os requisitos exigidos a um moderno navio de vigilância em águas azuis, ou salvamento.
Segundo o político radical, as embarcações não possuem facilidades para receber armamento (mesmo leve, como metralhadoras), ou convés de voo para helicópteros, e muito menos acomodações para recolher, abrigar e, eventualmente, medicar vítimas de sinistros no mar.
Além disso, há o problema da velocidade das unidades russas, alarmantemente baixa para uma embarcação de patrulha, ou de socorro marítimo.
Os pequenos navios de 70 anos atrás que os argentinos usam, hoje, para patrulhar suas águas austrais têm, nominalmente, a condição de alcançar velocidades que ou marcam 12,5 nós, ou chegam a 14 nós ou, quando muito, atingem os 16 nós. Os barcos russos podem atingir, com seus motores a toda força, a marcha de 15 nós, mas seu regime de navegação de cruzeiro é de apenas 8,5 nós…
Apesar de pertencerem à mesma classe, os quatro super-rebocadores não são perfeitamente iguais.
O Neftegaz 51” e o “Neftegaz 57” são classificados como navios do Projeto V92/II; o “Neftegaz 61” e o “Tumcha” (ex-“Neftegaz 71”) resultam do Projeto V92/II modificado. Todos, porém, são impulsionados por um par de motores diesel Sulzer-Zgoda 6ZL 40/48, com potência total de 7.200 hp. E apesar de não serem barcos novos, estão bem equipados no tocante a equipamentos de navegação e de comunicações.
Segundo o Poder Naval pode apurar, quando alcançarem a costa argentina, ao menos dois desses quatro navios precisarão ser levados a um dique seco para serem submetidos a um período suplementar de manutenção.
Como o próprio autor destaca, a velocidade no navio é muito baixa para realizar a atividade de patrulha marítima.
Tenho dúvidas também quanto à manutenção do navio ser realizada a contento pela Argentina.
No final das contas, é uma compra dentro do que a Argentina tem condições de fazer.