Marinha já tem defensores do desmembramento do PROSUPER
Roberto Lopes
Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa e
autor do livro “As Garras do Cisne”
A falta de uma perspectiva concreta para a definição, pela Presidência da República, da empresa que fornecerá os 11 navios do Programa de Obtenção de Meios de Superfície (PROSUPER) da Marinha, e a grande preocupação dos chefes navais com o desgaste acentuado de 12 dos 13 escoltas da Esquadra – que até 2026 precisarão ser retirados do serviço ativo –, está levando parte dos oficiais com responsabilidades na renovação da força de superfície da Esquadra a uma mudança de comportamento.
Eles já começam a manifestar, aos seus superiores, a opinião de que o PROSUPER – iniciativa de custo elevado, estimado entre 6 e 8 bilhões de dólares – talvez devesse ser desmembrado, no sentido de facilitar a encomenda das cinco fragatas de 6.000 toneladas previstas no programa (ideia que, no atual cenário de indefinição, tem frequentado, até mesmo, o debate de comentaristas do Poder Naval).
Na Marinha, os defensores do desmembramento argumentam, inclusive, que talvez pudesse ser examinada a conveniência de a primeira fragata ser parcial ou totalmente construída no exterior.
O objetivo de todas essas considerações é só um: garantir que o grupamento de escoltas comece a ser modernizado antes que seja necessário desincorporar os navios mais antigos em ritmo acelerado.
O estaleiro espanhol Navantia apresentou uma proposta de remotorização das corvetas classe Inhaúma e das fragatas Niterói. A oferta foi aceita no caso de uma Inhaúma, mas não há previsão de que esse serviço seja estendido às outras unidades.
Prazos – A cúpula da Marinha do Brasil considera que a Esquadra deve possuir, no mínimo, 18 escoltas.
Caso seja mantido o plano de se obter todos os cinco escoltas do PROSUPER e mais as quatro corvetas tipo “Tamandaré” (classe Barroso modificada) – que não estão sob o guarda-chuva do PROSUPER – por meio de construções em território nacional, a conclusão dessa renovação poderá consumir mais de duas décadas.
Explica-se: segundo pudemos apurar, a primeira fragata do PROSUPER demorará sete anos para ser prontificada. E as demais unidades, 5 anos cada uma.
O início da construção ocorrerá um ano após a celebração do contrato, o que implica dizer que o escolta cabeça-de-série do PROSUPER só será entregue ao setor operativo da Esquadra oito anos (!) após a assinatura do contrato. O motivo desse prazo longo é a necessidade de se fazer a adequação tecnológica do estaleiro escolhido para construir as embarcações.
Também é preciso levar em conta que cada corveta Barroso modificada levará cinco anos sendo construída, e que, conforme o Poder Naval informou com exclusividade aos internautas no último dia 21 de fevereiro, a primeira só será entregue à Esquadra em 2021.
No atual quadro de incertezas, a maior parte dos almirantes só evita admitir a opção representada por fragatas usadas.
Eles acham que a admissão dessa hipótese abriria a porta para o sepultamento do PROSUPER da maneira como ele foi concebido: o estímulo a um salto tecnológico na construção naval militar brasileira.
Ainda não há planejamento para a importação de fragatas usadas por meio das chamadas “compras de oportunidade”, mas a verdade é que essa possibilidade não pode ser descartada. Em 2013, uma reportagem do grupo britânico Jane’s, especializado em assuntos militares, mencionou os navios italianos classe “Maestrale” como unidades que poderiam ser avaliadas pelos chefes navais brasileiros.
China – Seis grandes corporações estrangeiras – da Espanha, Alemanha, França, Coreia do Sul, Holanda e Itália – disputam o PROSUPER, que, além das fragatas, também estabelece a aquisição de cinco navios-patrulha e de um navio de apoio logístico de porte em torno das 20.000 toneladas.
Conforme o Poder Naval noticiou, a 2 de fevereiro, as propostas que, nesse momento, parecem reunir as preferências do oficialato, são as do grupo espanhol Navantia e a da corporação alemã TKMS (Thyssen Krupp Marine System).
Em 2014 a Marinha abriu à indústria naval da China a oportunidade de participar do certame. Os chineses ainda não propuseram o fornecimento de navios (como fizeram os demais competidores), mas, recentemente, realizaram sondagens sobre os planos da Esquadra em relação à renovação de sua flotilha de escoltas.
Como se sabe, um estaleiro da China construiu o navio hidroceanográfico “Vital de Oliveira” para a Marinha (que se encontra em provas de mar), e, há pouco tempo, os chineses começaram a entregar os dez catamarãs encomendados pelo governo do Rio de Janeiro – sete deles com capacidade de transportar 2.000 passageiros.
Contudo, a presença da China no PROSUPER desperta uma expectativa apenas moderada, porque – premida pela necessidade de gerar postos de trabalho – a indústria naval chinesa não tem a reputação de construir navios militares fora de seus estaleiros.
Arsenal e “Siroco” – Na verdade, a paralisia no PROSUPER, que já dura mais de um ano e meio, não é a única questão prioritária com que se defronta, hoje, a alta administração naval.
O novo comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Eduardo Leal Ferreira, deseja, no menor prazo possível, deflagrar um processo de revitalização do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. Essa providência passa pela modernização do Arsenal – o que, obviamente, implica em custos –, e tem como objetivo eliminar a capacidade ociosa dessa organização militar.
Dentro de uma visão mais ampla, os almirantes que compõem a cúpula da Marinha estão inquietos com o noticiário sobre as perspectivas pouco animadoras da maior parte dos estaleiros nacionais, em função da grave crise na Petrobras.
Outro assunto que concentra as atenções nesses primeiros 30 dias da administração Leal Ferreira é a chance que a Marinha tem de incorporar o navio de assalto anfíbio francês “Siroco”, por meio de uma “compra de oportunidade”.
Segundo o Poder Naval pode apurar, no preço de 80 milhões de euros pedido pela Marinha da França para ceder o navio, não estão incluídos os custos dos serviços de revisão e manutenção que o grupo empresarial DCNS precisará fazer, em território francês, pelo espaço de, aproximadamente, 90 dias, para que a embarcação possa chegar ao Brasil em condições de operar.
Mas isso ainda não quer dizer que a Marinha desistiu do navio.
A informação que obtivemos dá conta de que os almirantes vêm mobilizando recursos para tentar fechar com a DCNS – parceira estratégica da Força Naval brasileira nos programas de submarinos atualmente em curso – o pacote de reparos no “Siroco”.