Ciente do agravamento da crise, Marinha não descarta navio-doca menor
Roberto Lopes
Enviado Especial ao Rio
Diante da possibilidade de agravamento do já difícil cenário econômico, os oficiais do Estado-Maior da Armada e do Comando de Operações Navais mantém como opção, nos seus estudos para a obtenção de uma unidade de projeção de força, o porta-helicópteros da classe San Giusto, construído há pouco mais de 20 anos para operar como navio de assalto anfíbio pelo estaleiro Fincantieri, de Riva Trigoso (norte da Itália).
O San Giusto desloca 8.300 toneladas a plena carga, o que representa 75% do tamanho do barco francês Siroco, vistoriado em dezembro por uma comitiva militar brasileira, e apenas a metade do deslocamento da unidade-doca americana Whidbey Island, outra embarcação que, por suas qualidades marinheiras – e préstimos em proveito de um destacamento anfíbio –, chama a atenção da Força Naval do Brasil.
Ocorre que, a exemplo dos navios francês e americano, o italiano San Giusto possui propulsão a diesel, um dos requisitos considerados mais importantes pela Marinha no âmbito de seu Programa de Obtenção de Navios Anfíbios (PRONANF), em desenvolvimento desde 2011 (Ver “Navios de propósitos múltiplos: vetor anfíbio do futuro”, publicado pelo Poder Naval, a 10 de março último, reprodução do texto de autoria do CF(FN) José Carlos Silva Gioseffi, publicado na Revista “Âncoras e Fuzis”, nº 45, de dezembro de 2014).
Venezuela – A informação, obtida por este blog junto a uma fonte da Esquadra, ressalta, porém, que uma eventual prioridade ao projeto do San Giusto representará sempre a última opção, porque, na comparação com unidades do porte do Whidbey Island ou do Siroco, o modelo do estaleiro Fincantieri exibe capacidade inferior, seja no transporte de pessoal, de equipamentos, ou mesmo em sua autonomia.
O barco pode operar, simultaneamente, até três helicópteros médios tipo MH-16 (na US Navy, MH-60R) – ou SH-3D Sea King –, e ainda carregar, sob o convés de voo, 30 tanques do porte do SK 105 Kuerassier, 350 combatentes completamente equipados e meia dúzia de lanchas, sendo três do tipo LCM, para o transporte de viaturas militares até o ponto de abicagem.
Mas a fonte ouvida pelo Poder Naval não deixa de lembrar: a grande vantagem deste meio é que ele representa uma opção menos dispendiosa, caso os chefes navais assistam seu orçamento minguar ainda mais.
Em 2010, o então comandante da Armada Bolivariana da Venezuela, almirante (FN) Carlos Aniasi Turchio – um ex-Ajudante de Ordens do presidente Hugo Chávez –, visitou algumas bases e navios da esquadra italiana, para dar o seu aval à compra do San Giusto. Mas como o navio transportava dezenas de sistemas de navegação, controle e de armas fabricados nos Estados Unidos, o governo Barack Obama bloqueou a transação.
Ao contrário da Marinha peruana, que encomendou um navio de assalto anfíbio novo (classe Makassar) a indústria naval sul-coreana, a Força Naval brasileira tende a adquirir, por “compra de oportunidade”, algum navio de assalto anfíbio usado, juntamente com os planos de fabricação do barco.
O objetivo desse plano é permitir que uma segunda unidade do mesmo tipo possa ser construída em estaleiro brasileiro – talvez até no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (depois que essa organização militar for modernizada, na metade inicial da próxima década).
O problema é que, em termos financeiros, “o mar não está para peixe” – como diz o ditado popular.
Após receber dos oficiais que viajaram à França, três meses atrás, um relatório aconselhando a compra do Siroco, a cúpula da Marinha está encontrando muitas dificuldades para reunir 140 milhões de Euros (cerca de 486 milhões de Reais) para ficar com o navio.