ICN sente os efeitos da crise e adota sistema de dispensas pontuais
Roberto Lopes
Enviado Especial ao Rio
A Itaguaí Construções Navais (ICN), empresa de 1.100 funcionários (aproximadamente) incumbida de liderar a construção dos quatro submarinos classe Riachuelo (Scorpène, francesa) e do primeiro submarino de propulsão nuclear da Marinha do Brasil, começou a demitir.
Segundo informações obtidas com exclusividade pelo Poder Naval, em fevereiro a companhia dispensou três dos seus gerentes (inclusive o de Recursos Humanos), e na sexta-feira passada (13.03), demitiu o coordenador de Saúde.
Nenhuma dessas vagas será reposta. As funções dos gerentes foram confiadas a funcionários em postos de coordenação.
Os cortes que, por enquanto, configuram uma sequência de ajustes pontuais, derivam da necessidade identificada pela companhia de reduzir custos, diante da perspectiva de redução de verbas no âmbito do Ministério da Defesa.
Quatorze meses atrás, em uma de suas raras manifestações pela imprensa, o francês Pascal Le Roy, diretor-presidente da ICN, ainda não se mostrava preocupado com os prognósticos econômicos para a indústria que atende os programas das Forças Armadas.
Em entrevista à newsletter eletrônica Techno News, ele arriscou a previsão de que o maior desafio para sua empresa seria dar início às “atividades industriais, não somente de estrutura, mas em todas as especialidades: tubulação, mecânica, eletricidade entre outras, com o alto nível de qualidade e produtividade que é esperado para o sucesso do programa PROSUB”.
Contudo, o trabalho no complexo industrial naval militar de Itaguaí (que reúne base e estaleiro de submarinos) é complexo, e sujeito a intercorrências.
Até o fim da semana passada, as pontes rolantes do estaleiro – inaugurado, a 12 de dezembro passado, pela presidenta Dilma Roussef –, que já deveriam estar funcionando, continuavam fora de operação.
Tábua – A ICN é composta pela Odebrecht Defesa e Tecnologia (59%) e pela companhia francesa Direction des Constructions Navales et Services – DCNS (41%), tendo ainda a participação da Marinha do Brasil, por meio de uma golden share, detida pela Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron).
A Itaguaí Construções Navais vinha representando uma espécie de tábua de salvação para a Prefeitura de Itaguaí, município situado 74 km ao sul do Rio de Janeiro.
Em novembro de 2013, a empresa constituída para servir a Marinha absorveu parte dos trabalhadores que perderam seu emprego no terminal portuário local, em decorrência de dificuldades financeiras experimentadas pelo grupo empresarial do investidor Eike Batista.
Entretanto, de lá para cá os problemas desse mercado de trabalho só aumentaram. Mês passado, a Empresa Brasileira de Engenharia dispensou 1.500 funcionários, depois que a Modec, empreiteira de Cingapura, desistiu de construir em Itaguaí um segundo módulo de plataforma petrolífera, que estava previsto em seu plano de trabalho no país.