Super-rebocadores argentinos chegarão com 28 tripulantes russos a bordo
Os quatro super-rebocadores de fabricação polonesa classe “Neftegaz” comprados, ano passado, pela Marinha argentina à empresa Arktikmor Neftegaz Razvedka, da Rússia, chegarão ao Atlântico Sul no terceiro trimestre do ano, trazendo, cada um, sete tripulantes russos: três na sala de máquinas, dois na coberta e dois incumbidos de fazer a checagem nos diversos quadros e cabeamentos elétricos das embarcações.
Noventa e dois militares argentinos seguiram no último dia 11 para o porto de Arcangel, no norte da Rússia, para fazer o recebimento dos navios.
O Poder Naval teve acesso a uma cópia em espanhol das 71 páginas do contrato de aquisição dos barcos – que, no último dia 16 de dezembro, recebeu certificação de um cartório da capital argentina.
O documento mostra que os rebocadores custaram 11.407.700 dólares ao governo Cristina Kirchner – e não 8 milhões, conforme foi divulgado extra-oficialmente no ano passado –, fora os custos da travessia marítima para a Argentina, estimados em mais de 500.000 dólares. A viagem deve durar 45 dias.
Parecer – No corpo do contrato há o parecer, aparentemente redigido por um oficial argentino, que defende o valor pago pelas embarcações: “Se os barcos fossem adquiridos novos, seu valor ascenderia a USD 15.000.000 (QUINZE MILHÕES DE DÓLARES ESTADUNIDENSES), com um prazo de entrega aproximado de 2 (DOIS) anos, de acordo com as características particulares [dos navios] e o estaleiro construtor selecionado”.
Os quatro rebocadores – de 2.723 toneladas a plena carga – viraram notícia no primeiro semestre do ano passado, quando a imprensa internacional descobriu que eles foram construídos com reforços estruturais que os tornam aptos a mover plataformas marítimas.
Logo surgiu o rumor de que a Marinha argentina havia se interessado pela classe Neftegaz em função de sua capacidade de, eventualmente, vir a interceptar plataformas que os britânicos pretendam deslocar pelo Atlântico Sul rumo às aguas do arquipélago malvinense, sob o controle das forças militares do Reino Unido.
Buenos Aires anunciou represálias jurídicas contra embarcações e empresas que se aventurarem na prospecção de petróleo no entorno das Ilhas Malvinas, já que contesta a soberania de Londres sobre esses territórios insulares.
A questão é que esse tráfego já começou.
Na primeira quinzena de março a Marinha argentina pôde acompanhar a movimentação do barco Tama Hope, de bandeira das Bahamas (possessão britânica), que pertence à companhia belga Sea Trade e parece navegar pelo Atlântico Sul em apoio à plataforma marítima Eirik Raude, contratada pela indústria petrolífera inglesa a uma companhia grega, com o objetivo de realizar sondagens no subsolo marítimo ao norte de Isla Soledad (Malvina Oriental).
Automação – Os quatro rebocadores de construção polonesa são os maiores já operados por uma marinha da América do Sul, mas não são perfeitamente iguais.
Os navios se repartem, igualmente, entre os dois tipos distintos de embarcações da classe Neftegaz. Entretanto, todos medem 81,37 m de comprimento, 16,3 m de bôca e 4,9 m de calado; requerem 20 tripulantes e dispõem de acomodações para mais dez pessoas. Nenhum deles é artilhado ou possui facilidades para receber algum tipo de armamento fixo.
A empresa russa que os vendeu assegura: devido ao seu bom nível de automação, a praça de máquinas de um Neftegaz pode ser operada por apenas um tripulante. Curiosamente, ao planejar a composição da equipe russa que seguirá a bordo de cada rebocador na viagem até a América do Sul, a empresa vendedora reservou três vagas para especialistas em máquinas.
Os rebocadores serão estacionados na base naval de Ushuaia, no extremo sul da Argentina, mas apenas dois deverão seguir imediatamente para lá. As unidades Tumcha e o Neftegaz 61 precisarão ser docadas para que suas máquinas principais e auxiliares sejam submetidas a revisão e, eventualmente, a reparos. O serviço deve ser feito no estaleiro Talleres Navales Dársena Norte (Tandanor), de Buenos Aires, que integra o Complexo Industrial e Naval Argentino.
Os barcos poloneses vão substituir os quatro avisos da Marinha argentina que atuam no patrulhamento das águas austrais, construídos em 1944 (dois deles), em 1945 e em 1981. Essas unidades também cumprem missões de salvamento, de repressão à pesca ilegal e de fiscalização da poluição marinha.
Estado – Os Neftegaz foram oferecidos à Marinha argentina em agosto de 2013. Sete meses mais tarde os almirantes de Buenos Aires decidiram enviar uma Comissão Inspetora até a Rússia, para vistoriar as embarcações.
Um segundo parecer reproduzido no contrato admite:
“A antiguidade destes navios varia entre 24 e 28 anos, o que indica que, desde o ponto de vista de uma operadora comercial, os custos de manutenção da classe e dos seguros os tornam não rentáveis. Esta poderia ser a razão, somada a uma possível falta de negócios, pela qual a empresa ARKTIKMOR NEFTEGAZ RAZVEDKA tem a intenção de desvencilhar-se dos mencionados navios. Sem prejuízo do exposto, para a Armada Argentina a compra destes navios representa a incorporação de unidades “em Estado Operacional”, quase 40 anos mais modernas que nossos atuais Avisos tipo ATF/ATA, cuja vida útil já foi amplamente cumprida. Ademais estes navios possuem capacidade de navegação polar, equivalente à classe tipo B/1A da (…) NORMA SUECO FINLANDESA (Finnish Swedish Ice Class Rules); isto é [aptos a enfrentar] até 80 cm de espessura de capa de gelo jovem, e com uma expectativa de vida útil razoável entre 15 e 20 anos”.
O documento acrescenta: “cabe ressaltar que, durante a Campanha Antártica 2012-2013, o custo de fretamento de um navio polar + helicóptero por 45 dias subiu a USD 10.000.000 (DEZ MILHÕES DE DÓLARES ESTADUNIDENSES) o que equivale a USD 222.000 (DUZENTOS E VINTE E DOIS MIL DÓLARES ESTADUNIDENSES) por dia”.
Ano passado, durante seu primeiro contato com os tripulantes russos dos rebocadores, os oficiais argentinos foram informados de que, anos atrás, coube ao Neftegaz-61 a tarefa de rebocar o antigo porta-aviões argentino 25 de Mayo até a Índia, para seu desmonte. Ocorre que, durante uma tempestade no Oceano Índico o ex-capitânea da Frota de Mar (Esquadra) argentina desprendeu-se do rebocador e afundou.