Marinha russa opta por só modernizar os seus Tu-142 antissubmarinos
Em uma decisão que a deixa atrás, em termos operacionais, das forças navais dos Estados Unidos, do Reino Unido e de nações que são importantes aliadas militares dessas duas potências – como a italiana, a norueguesa, a australiana e a neozelandesa –, a Marinha da Rússia decidiu não investir em um jato de longo alcance para modernizar a sua frota aérea de combate antissubmarino.
Na primeira semana de abril, um porta-voz da indústria aeronáutica russa informou que o Ministério da Defesa local aprovou um plano de modernização do veterano quadrimotor de reconhecimento marítimo Tu-142, um avião de quase 50 m de comprimento desenhado nos idos da década de 1960, como um modelo derivado do bombardeiro estratégico Tu-95 – ícone do poder aéreo soviético durante a Guerra Fria.
Fontes ligadas à Organização do Tratado do Altântico Norte (Otan) levantaram a hipótese de que a opção do governo Vladimir Putin pela modernização de uma aeronave de boa folha de serviços mas indiscutivelmente antiquada – além de menos manobrável que os modernos jatos ocidentais –, retrate, na verdade, uma certa falta de fôlego financeiro do Kremlin para manter equânime o nível de modernidade das Forças Armadas da Rússia.
De acordo com os mesmos informantes, Moscou ainda deve dispor de mais de 20 Tu-142.
O avião é capaz de cobrir trajetos superiores a 8.200 km sem reabastecimento, e de voar em patrulha por até 6.500 km, antes de precisar iniciar o retorno à base. Sua última versão – Tu-142MZ (designação Otan: Bear-F Mod 4) – parou de ser fabricada em 1994. A expectativa é de que, nos próximos cinco anos, todos os aparelhos russos desse modelo sejam modernizados.
Parâmetros – A remodelação incluirá um upgrade no sistema eletrônico de comunicações via rádio, nos sistemas de navegação e de controle de armas, bem como nos chamados “parâmetros do complexo de guerra antissubmarina”. Boa parte do trabalho será confiada ao centro de pesquisas Zaslon, que possui extensa experiência em radares e na modernização de sistemas de controle de armas.
O Tu-142 dispõe de duas baias de armamento, com uma capacidade de transportar 11,3 toneladas de carga militar.
O equipamento-padrão do quadrimotor russo são 126 sonoboias (tipos RGB-15/25/55A/75) e meia dúzia de torpedos – mas em situações excepcionais cada aeronave pode transportar até 12 dessas armas.
O torpedo mais comumente embarcado é o APR-3E, um engenho leve, aerotransportado, de 3,6 m de comprimento e 525 kg de peso – dos quais 74 kg correspondem à ogiva explosiva, detonada por impacto ou mecanismo de proximidade.
Ele foi desenhado para ser transportado por aeronaves como o Tu-142, o Il-38 (outro quadrimotor de reconhecimento marítimo) e o helicóptero biturbina Kamov-27. Mas a bordo de qualquer uma dessas aeronaves, o APR-3E precisa viajar acomodado em um “berço” que pesa 25 kg.
Concebido para identificar seu target por meio de busca acústica, o APR-3E é capaz de se manter ativo em grandes profundidades – até 800 m –, e de navegar a uma velocidade superior a 43 nós.
O APR-3E necessita de uma profundidade mínima de 100 m para ativar o seu sistema de busca, e pode ser empregado em condições meteorológicas desfavoráveis, até o nível de mar 6.
Uma vez na água, o torpedo russo submerge descrevendo espirais, enquanto o seu buscador acústico faz uma varredura. Localizado o alvo, o sistema de propulsão do torpedo é acionado, e um motor-foguete, dotado de propelente sólido, impulsiona o APR-3E para a corrida final até a explosão no ambiente silencioso e escuro do fundo do mar.