Sopro de esperança: provas de mar da corveta ‘Júlio de Noronha’ começam no meio do ano
Roberto Lopes
Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
Há muitos ditos populares que, usados com jocosa maledicência, podem retratar o atual estágio operacional em que se encontra a Marinha do Brasil: “desgraça pouca é bobagem”, ou “nada é tão ruim que não possa piorar” e por aí afora…
Os fatos justificam o desânimo.
Nos últimos sete ou oito meses, as restrições orçamentárias e a insegurança dos chefes navais diante da falta de perspectivas para a renovação da força de superfície produziram um extenso rol de más notícias:
- a desativação prematura da corveta Frontin;
- a revisão dos planos da CV03 (classe Tamandaré), que forçou o adiamento do início de sua construção;
- o atraso no desenvolvimento do submarino Riachuelo SBR;
- as notícias de problemas de motor em dois submarinos da classe IKL-209 e de desgaste generalizado das fragatas Bosísio e Niterói;
- o incêndio no compartimento de máquinas da fragata Liberal;
- a incapacidade da Marinha de reunir recursos para ficar com o navio de desembarque francês Siroco, em bom estado;
- o silêncio oficial sobre os navios da classe “Inhaúma”;
- a declaração do Ministro da Defesa Jaques Wagner de que “não é razoável” se esperar uma definição da Presidência da República acerca do PROSUPER (Programa de Obtenção de Meios de Superfície) antes que a Junta Orçamentária defina o tamanho dos cortes de verba para os ministérios (60 bilhões de Reais? 70? 80?);
- a notícia da quebra de dois hélices (!) da fragata União no Mar Mediterrâneo;
- a falta de dinheiro para que a Marinha importe mais três helicópteros de médio porte MH-16, cuja transferência para o Brasil já foi autorizada pelas autoridades americanas;
- a polêmica em torno do gasto de aproximadamente 1 bilhão de dólares para a reforma do navio-aeródromo São Paulo;
- agora a pane do navio-doca Ceará perto do Caribe…
Mas não dá para sentar no meio-fio e chorar.
Fim do túnel – Aqui e ali surgem pequenas luzes de boas notícias: a determinação do Comando da Marinha em proceder à modernização do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro; o apoio da Força à parceria operacional do estaleiro espanhol Navantia (favorito para vencer o PROSUPER) com o estaleiro fluminense EISA; a renegociação de uma dívida da Marinha nos Estados Unidos que viabiliza o recebimento, pela Força Aeronaval, dos dois últimos MH-16 do lote de seis, adquirido em 2008; e, agora, a notícia, apurada com exclusividade pelo Poder Naval, de que a Diretoria-Geral do Material prepara a volta da corveta Júlio de Noronha (V32) ao setor operativo da Esquadra.
Dois anos e meio atrás, esse navio foi escolhido para receber um serviço de modernização no seu grupo propulsor – contrato atribuído às empresas Navantia, da Espanha, e MTU, da Alemanha.
Seu retorno ao mar, em um momento em que a força de superfície está fortemente desfalcada, é aguardado com ansiedade.
Antes, claro, precisaremos torcer (não poderia mesmo ser diferente…).
O início das provas de mar da Júlio de Noronha está programado mais para o meio do ano, entre junho e agosto. Caso tudo corra bem, a V 32 se junta ao pequeno grupo de embarcações de águas azuis que tem aguentado a rotina dos patrulhamentos, dos exercícios e das missões de cooperação internacional.
Cronograma – A Marinha é reconhecida como Força tradicionalmente apegada aos cronogramas derivados de seu Plano Diretor, mas os gravíssimos problemas na Petrobras – com repercussão devastadora sobre o funcionamento dos estaleiros e das empresas fornecedoras da indústria naval –, transformaram certas estimativas em documentos de valor meramente histórico.
Esse é o caso, por exemplo, do planejamento de incorporações e desincorporações elaborado, no ano de 2010, pela Coordenadoria do Programa de Reaparelhamento da Marinha da Diretoria-Geral de Material (DGPM/C-PRM).
O cronograma previa que a primeira corveta classe “Tamandaré” ficasse pronta em 2019, o que agora só acontecerá em 2021; e que a primeira corveta classe “Inhaúma” aguentasse até 2030 antes de ser desativada – medida que precisou ser providenciada em setembro de 2014…
As antecipações de desincorporação dos navios da força de superfície continuam, infelizmente.
A mostra de desarmamento da fragata Bosísio, da classe “Greenhalgh”, estava prevista para acontecer só em 2020, mas deve ser efetivada ainda este ano. A aposentadoria da veneranda Niterói também não deve tardar. Ela devia seguir para o merecido descanso em 2021, mas o mais provável é que isso aconteça já no ano que vem.
Sondagem – De qualquer forma, nesses tempos bicudos, de cinto apertado, é preciso sempre ter muito cuidado na hora de assinar um gasto.
Em dezembro do ano passado, a Marinha do Brasil contratou a Fundação Getúlio Vargas para realizar uma pesquisa de opinião junto à população. O objetivo é saber a imagem que a sociedade tem de sua Força Naval.
O contrato, no valor de 495.000 Reais, acabou de ser renovado.
É de se perguntar por quais parcelas da população essa sondagem irá trafegar.
As pessoas a serem ouvidas estarão minimamente informadas das dificuldades enfrentadas, hoje, pela Marinha do Brasil? Ou as que serão abordadas são aquelas que receberam, nos grotões do país, o conforto e a assistências dos navios-hospitais da corporação?
Pesquisas de opinião (como estatísticas) são, sempre, muito perigosas. Em tese, elas podem ser usadas para mascarar a realidade, e dar prova de que a missão foi cumprida a contento.
Quando o que aconteceu não merece mais do que uma caprichada autocrítica.