França se oferece para renovar a frota de combate da Marinha peruana
Roberto Lopes
Editor de Opinião da Revista Forças de Defesa
Apenas dois meses depois de o estaleiro espanhol Navantia ter oferecido à Marinha do Peru o projeto de uma nova fragata, capaz de substituir com vantagens os navios porta-mísseis da classe italiana Lupo (leia o texto Navantia oferece renovar esquadra peruana com fragata de porte médio, publicado pelo Poder Naval em 5 de março deste ano) – principal componente de combate dessa frota sul-americana –, a indústria francesa, em uma manobra que confirma a expectativa favorável das grandes corporações multinacionais acerca do mercado militar peruano, comunicou ao governo de Lima sua disposição em fornecer não um tipo de embarcação, mas todo um conjunto de navios – de submarinos a lanchas-patrulha de 40 m – para a modernização da Armada local.
Os franceses propõem aos peruanos a venda de dois submarinos classe Scorpene, quatro corvetas tipo Gowind e seis navios-patrulha oceânicos L’Adroit, de forma a atualizar alguns dos setores mais obsoletos e cruciais da frota peruana – um plano para ser executado em não menos de 12 anos, e dar à Armada do Peru o mesmo status de parceiro estratégico de que já desfrutam, junto ao grupo empresarial DCNS, da França, as Marinhas do Brasil e da Índia.
Os navios franceses vem sendo apresentados aos almirantes peruanos em maquetes e documentação técnica, no Quartel-General do Exército, em Lima, local que abriga a mais nova edição do Salão Internacional de Tecnologia para a Defesa (SITDEF) – principal mostra de armamentos promovida pelo governo local. O evento, inaugurado pelo presidente Ollanta Humala nesta quinta-feira (14.05) só terminará no próximo domingo (17.05).
Orçamento – De acordo com o documento Informe IDS: La Industria de Defensa y Seguridad en America Latina 2014-2015, divulgado este mês, o Orçamento de Defesa peruano de 2015, de 2,35 bilhões de dólares (7,06 bilhões de nuevos soles), é apenas o 7º maior da América Latina, mas aparece amparado em um dos mais sólidos e relevantes crescimentos de PIB (Produto Interno Bruto) do cenário sul-americano.
Desse total de recursos, 402,27 milhões de dólares (1,02 bilhão de nuevos soles) estão reservados à mejora de la capacidade militar peruana, e 69,5 milhões de dólares (208 milhões de nuevos soles) à luta contra o terrorismo.
Comparado ao montante de recursos destinado pelo governo Ollanta ao setor de Defesa em 2014 – 2.286,75 bilhões de dólares (6.844,26 bilhões de nuevos soles) –, os 2,3 bilhões deste ano representam um incremento muito pequeno – de só 3,15%. Mas os chefes navais peruanos possuem um estaleiro a serviço de sua Marinha (o SIMA – Servicios Industriales de la Marina), e ainda cerram fileiras com os colegas do Exército e da Força Aérea que lutam por um aporte extra-orçamentário para as Forças Armadas, a ser obtido de uma parcela da receita arrecadada da exportação de gás natural.
Proposta – O plano dos franceses para a Marinha peruana, cujas linhas gerais o Poder Naval obteve com exclusividade, na semana da mostra SITDEF 2015, prevê:
Submarinos – Diante do desgaste e da limitada capacidade de operação em águas azuis dos pequenos submarinos IKL-209/1200, de origem alemã, que compõem a flotilha peruana, os franceses oferecem duas unidades do modelo Scorpene, de 2.000 toneladas – considerado um dos mais silenciosos e eficientes submersíveis convencionais de ataque da atualidade.
A proposta inclui a possibilidade de construção compartilhada dos navios, e prevê a redação de um aditivo para o fornecimento de um terceiro e de um quarto Scorpene aos peruanos.
A DCNS vendeu o Scorpene no Chile e na Malásia, e assinou contratos de transferência de tecnologia para a construção desses submarinos no Brasil e na Índia.
Corvetas – A França propõe equipar a esquadra peruana com até quatro corvetas multimissão da classe Gowind, que a DCNS fabrica em duas versões: de 85 m de comprimento e apenas 1.000 toneladas de deslocamento, e de 102 m de comprimento e 2.500 toneladas – neste caso, um modelo dotado de sistemas de mísseis antiaéreos (de lançamento vertical) e Exocet antinavio, além de dois reparos triplos de tubos lança-torpedos.
Segundo o Poder Naval pôde apurar, os entendimentos preliminares havidos entre representantes da DCNS e da Armada peruana se centraram na versão de 2.500 toneladas, que substituiria com folgas a fragata porta-mísseis classe italiana Lupo, principal navio da força de superfície peruana.
O Peru possui oito desses navios – construídos na metade final dos anos de 1970 –, mas um deles teve parte de seu armamento removido para que pudesse vir a ser empregado como patrulheiro numa área marítima que o Chile, por decisão recente da Corte Internacional de Haia, perdeu para a soberania peruana.
As Gowind já foram adotadas pelas Marinhas do Egito e da Malásia.
Navios-patrulha oceânicos – A DCNS oferece ao Peru entre quatro e seis embarcações tipo L’Adroit, de 87 m de comprimento, 1.450 toneladas de deslocamento e capacidade de operar um helicóptero do porte de um Esquilo, para esclarecimento e ataque.
Apenas uma unidade dessa classe de navio foi construída até agora, e apesar de todos os esforços feitos pelos franceses – que recentemente a ofereceram à Marinha uruguaia – nenhum contrato pôde ser fechado.
A indústria francesa também colocou à disposição dos chefes navais peruanos toda uma gama de patrulheiros com tamanhos diversos – entre 40 m e 95 m de comprimento –, que poderiam servir à substituição das corvetas leves porta-mísseis classe PR-72P, de 64 m, fabricadas na França entre 1980 e 1981.
Uma parceria deliciosa para a DCNS. Empurrando os produtos de segunda classe.
O Chile deve estar gostando mto, da possibilidade de a DCNS vir a fornecer submarinos classe “Scorpene” ao Peru.
Iväny,
produtos da DCNS são de segunda classe? Bons mesmo devem ser os que o Brasil produz.
Amigo, vamos aterrisar e lembrar que a França tem o tamanho de Minas Gerais e consegue fazer produtos – que você chama de “segunda categoria” – que tornariam nossa Marinha uma força naval incontestável.
Augusto
Os scorpene, gowind e l’adroit são de segunda classe. A FREMM, classe Mistral LPH, o CDG e os destroyers Orizzonte (parceria com a Itália) são ótimos, capazes de rivalizar com os melhores de suas classes no mundo.
O problema é que pra maioria dos parceiros, só vai a “tranqueira”.
Ivany, Tudo depende do que o cliente quer, de qual é o orçamento, as especificações, a classe de navios que pretende operar etc. Se o Peru quiser substituir suas fragatas classe Lupo (cerca de 2.500t) por navios do porte de FREMM (6.000t), os franceses oferecerão FREMM ao invés de Gowind. Simples assim. Quem manda é o bolso do freguês e suas necessidades. Aqui no Brasil, por exemplo, a concorrência é para navios da categoria da FREMM, então a DCNS ofereceu a dita-cuja. O Egito, para citar outro exemplo, adquiriu tanto Gowind quanto FREMM. E uma Gowind bem equipada, a meu… Read more »
Nunão
Dá uma olhada nos DoDs da própria frança sobre as gowind e l’adroit…
Depois olha a história operacional da classe MEKO.
Depois as plataformass da BAe.
Depois os “iates de patrulha” Lürssen e Fassmer.
Aí, depois disso tudo, olha quem tem mais problemas enumerados do que todos os concorrentes somados.
Não entendi, Ivany. O único navio considerado como da família Gowind que eu conheço até o momento, e que está em serviço, é a própria L’Adroit, financiada pela DCNS e “emprestada” por três anos à Marinha Francesa para extensa avaliação. Outros navios da família Gowind estão apenas contratados (Malásia e Egito). E vários anos distantes da primeira entrega. Ou seja, ao que parece você está fazendo comparação de problemas etc entre um único navio existente de uma nova família e conceito (e que é tratado justamente como um navio experimental) e diversas classes de outros navios de vários países, em… Read more »
Nunão
A base da l’adroit é a gowind. É é dessa mesma que eu estou falando. Dá uma olhada nos relatórios franceses oficiais.
Essa quantidade de problemas não deveria aparecer em testes, mas em desenvolvimento.
Apesar de serem diferentes em termos de épocas e concepções, dá pra listar que essa gowind (l’adroit) tem mais problemas que toda a família MEKO junta.
Daí se pressupõe que o produto não vá prestar ou vá atrasar, no mínimo.