Esquadrão de Treinamento da Marinha Japonesa em Santos: muito mais do que uma visita
Os editores dos sites Santos Shipphotos e Poder Naval presentearam os comandantes e tripulantes dos navios japoneses com fotos exclusivas de sua visita ao maior porto da América Latina–
Não é qualquer dia que esse tipo de visita ocorre, e não deixamos por menos. A intervalos de cerca de quatro anos, ou o dobro disso no caso desta mais recente ocasião, o roteiro da viagem anual do Esquadrão de Treinamento da Marinha Japonesa passa pelo Brasil, escalando no Porto de Santos, o maior da América Latina.
A última vez em que os navios da Marinha Japonesa (Força de Autodefesa Marítima do Japão, ou JMSDF na sigla em inglês) aportaram em Santos foi na visita de treinamento realizada entre 15 de abril e 18 de setembro de 2008, que foi uma verdadeira volta ao mundo, passando pelas Américas, África, Europa, Oriente Médio e Sul do Pacífico. A cada ano é mudado o roteiro dos navios que realizam o treinamento final dos novos oficiais da Marinha Japonesa, e esta edição de 2015, que coincide com as comemorações dos 120 anos da assinatura do Tratado de Amizade Japão-Brasil, tem escalas basicamente em países das duas costas da América do Sul e Central (além de alguns portos dos Estados Unidos), e no Brasil incluiu os portos de Recife, Rio de Janeiro e Santos.
Enquanto o navio-escola Kashima (4.050 toneladas, 143m de comprimento e acomodações para 360 pessoas) visitou o porto de Rio de Janeiro, vieram para Santos o destróier convertido em navio de treinamento Shimayuki (TV 3513) da classe “Hatsuyuki”, de 3.700 toneladas a plena carga e comprimento de 131,7m e o destróier Yamagiri (DD 152) da classe “Asagiri, de 4.200 toneladas quando completamente carregado e 137m de comprimento. Mais à frente falaremos mais sobre esses navios.
Ainda que a presença dessas classes não seja uma novidade para quem acompanha essas visitas a Santos há décadas (veja matéria na lista ao final sobre visitas anteriores), o fato deste último intervalo ter sido maior, aliado à paixão sempre renovada pelo tema, levou o editor do site Santos Shipphotos (Santos Shiplovers), Marcelo ‘MO’ Lopes, a preparar uma surpresa especial para os comandantes e tripulantes do Shimayuki e Yamagiri, com a ajuda do editor do Poder Naval, Fernando “Nunão” De Martini e do colega Paulo Ribeiro: os navios foram fotografados durante suas entradas no canal do Porto de Santos e, no dia que separou essa chegada da nossa visita agendada aos navios conforme programação do Consulado Japonês, as imagens foram ampliadas e emolduradas para a ocasião.
Na tarde da última sexta-feira (7 de agosto), programada para nossa visita conforme combinado com o Consulado Geral do Japão em São Paulo – pelo que agradecemos a atenção do sr. Toshihiko Yamamoto – presenteamos inicialmente o comandante do destróier Yamagiri, capitão de fragata Seiichi Hashimoto, com a foto emoldurada de seu navio entrando em Santos. Clique nas imagens para ampliar.
O comandante Hashimoto, que veio especialmente ao cais para nos receber antes de realizarmos nossa visita aos navios, ganhou também uma edição do livro “Monitor Parnaíba 75 anos” escrito pelo editor Fernando De Martini e publicado pela Aeronaval Comunicação (responsável pela revista Forças de Defesa e sua “trilogia” de sites) e assinou agradecido a nossa carta de entrega dessas lembranças de sua passagem pelo Brasil, em nome da tripulação do Yamagiri.
O pessoal do Consulado e a equipe de comunicação que acompanha do ponto de vista japonês a visita dos navios acompanhou com bastante interesse a ocasião, realizando muitas fotos. Em agradecimento, o comandante Hashimoto presenteou o editor Marcelo Lopes (vestido com camiseta do Poder Naval e que já trazia na cabeça um boné do Amagiri) com o boné oficial do navio.
As trocas de presentes continuaram para o Shimayuki. Como seu comandante não estava presente naquele momento, a entrega da foto emoldurada e do livro, assim como a assinatura da carta de recebimento, foram feitas pelo imediato do navio, capitão de corveta Sugimura. O oficial retribuiu a gentileza, como é de costume, com um conjunto de “pins” da Marinha Japonesa alusivos à viagem.
Em seguida, fomos recebidos a bordo do destróier Yamagiri e o visitamos juntamente com membros do Consulado, tendo a atenção dedicada de um dos oficiais do navio para apresentar seus sistemas de armas e características. Abaixo, o navio visto em sequência de fotos de proa a popa tiradas ainda do cais, podendo-se ver diversos de seus sistemas de armas. Na primeira imagem, da esquerda para a direita pode-se ver o canhão de 76mm (3 polegadas) e o lançador óctuplo de mísseis antissubmarino ASROC (que transporta torpedos antissubmarino). Logo atrás, a parte inclinada da superestrutura abriga as recargas dos mísseis. Em segundo plano, pode-se ver os mesmos sistemas de armas do Shimayuki.
Apesar da classificação como destróieres (DD) e adequação a diversos tipos de missões e emprego devido ao armamento equilibrado para a guerra de superfície (ASuW), antissubmarino (ASW) e capacidade de defesa antiaérea (AAW) de ponto, a função primordial para a qual foram projetados é a guerra antissubmarino, pelo que podem ser comparados navios classificados como fragatas em outras marinhas. O Japão emprega outros navios mais adequados à principal missão de destróieres, que é a defesa antiaérea de área (longo alcance), classificados como DDG. É o caso da classe “Kongo”, equipada com sistema AEGIS. Mas vale lembrar que a classificação de navios quanto a porte e emprego varia de uma marinha para outra.
Voltemos à nossas imagens externas. Acima, destaque para um dos sistemas de defesa aproximada (CIWS) Phalanx, composto de metralhadora rotativa de 20mm de alta cadência e sistema autônomo de aquisição de alvos abrigado no alto radome branco sobre a arma, para respostas automáticas a ameaças próximas, como mísseis antinavio. O navio é equipado com um Phalanx em cada bordo. A parte plana da antena de um dos radares de direção de tiro do Yamagiri também pode ser vista mais acima à esquerda, e ao seu lado se vê o radar de busca do Shimayuki. O conjunto de sensores e de sistemas de armas de ambos os navios é bastante semelhante, sendo a classe “Asagiri” um desenvolvimento da “Hatsuyuki”, com as principais mudanças relacionadas à propulsão.
Navios de guerra dessa geração (anos 1980/1990), diferentemente dos projetos mais recentes, trazem para quem os vê e visita a vantagem de expor claramente seus principais equipamentos sobre os conveses e superestruturas, sem escondê-los sob as monótonas linhas “furtivas” atuais. Ainda assim, já traziam preocupações com a assinatura a sensores inimigos, especialmente os térmicos, com sistemas de resfriamento dos gases expelidos pelas suas chaminés.
Falando nelas, as fotos acima e abaixo mostram uma das diferenças das duas classes. Enquanto o Shimayuki, da classe “Hatsuyuki”, era dotado de uma única e grande chaminé (vista no canto esquerdo superior das imagens) para exaustão dos gases das turbinas que formam sua propulsão COGOG (cruzeiro com um par de turbinas Tyne de baixa potência e velocidade de pico com um par de turbinas Olympus de alta potência, ambas Rolls-Royce fabricadas sob licença pela Kawasaki), o Yamagiri, da classe “Asagiri”, adotou o sistema mais flexível COGAG (velocidades de cruzeiro e de pico atingidas com o acionamento de mais de uma combinação de quatro turbinas Rolls-Royce / Kawasaki Spey de média potência).
Vale notar que a propulsão do Shimayuki é equivalente à de navios britânicos classe “Broadswoard” – Type 22 Batch 1 (em operação na Marinha do Brasil como classe “Greenhalgh”) e franceses da classe “George Leygues”. Já a propulsão do Yamagiri pode ser comparada à dos contemporâneos navios britânicos Tipo 22 Batch 3 (recentemente desativados da Marinha Real), num arranjo que também se assemelha às classes “Spruance”, “Ticonderoga” e “Arleigh Burke” dos Estados Unidos (embora estas últimas combinem quatro turbinas de alta potência, ao invés de média). A disposição assimétrica das duas chaminés e a combinação razoavelmente semelhante de armamentos valeu, para a classe “Amagiri”, o apelido de “Spruance de bolso”, conforme o editor Marcelo Lopes.
As turbinas da classe mais recente também se posicionam em praças de máquinas mais espaçadas (daí boa parte da diferença de cerca de seis metros no comprimento entre as duas classes), e seus gases são direcionados para duas chaminés separadas, cada uma posicionada em um bordo. A de vante / bombordo está fora de quadro nas imagens imediatamente acima e abaixo, mas pode ser observada nas fotos anteriores) mas a de ré, posicionada a boreste pode ser vista claramente.
Nessa posição a meia-nau, ambos os navios têm instalados lançadores quádruplos de mísseis antinavio Harpoon (um conjunto quádruplo em cada bordo, totalizando oito mísseis), com a diferença de que no Shimayuki estes são voltados para a proa e ladeiam sua única chaminé, com a exaustão de suas tubeiras, no lançamento, direcionada a defletores. Já no Yamagiri, as plataformas onde se instalam os mísseis ficam logo à vante da segunda chaminé, voltados para o bordo oposto, com a exaustão no lançamento direcionada ao mar. Os lançadores triplos de torpedos antissubmarino também ficam a meia-nau, sobre o convés principal (logo abaixo das plataformas em que são instalados os lançadores de Harpoon);
Outra diferença importante entre os navios é o segundo mastro do Yamagiri, pintado de preto. O Shimayuki possui apenas um mastro para abrigar diversas antenas de radares e sistemas de comunicação e de guerra eletrônica. Assim, o navio mais moderno pode levar mais sistemas do tipo e distribuí-los melhor e com menos problemas de interferência mútua a resolver.
Finalizando as fotos externas, as imagens acima e abaixo mostram as diferenças das popas dos dois navios, ambas abrigando lançadores óctuplos de mísseis antiaéreos da família Sea Sparrow Yamagiri, sendo que o convés onde se instala o lançador, no caso do Yamagiri, se estende até o espelho de popa. A segunda imagem foi tirada do convés do navio-patrulha Macaé, da Marinha do Brasil, que também visitamos naquele dia. Também publicaremos uma matéria sobre essa ocasião.
Abaixo, fotos da nossa visita ao convés do Yamagiri, onde se pode ver mais detalhes dos diversos equipamentos mostrados nas imagens anteriores, em ambos os navios. Na primeira foto, percebe-se na superestrutura abaixo do passadiço, pouco atrás do lançador de ASROC, posições abrigadas (e dotadas de janelas com limpadores) para acompanhamento dos disparos e outras atividades realizadas no convés de proa (como a recarga do ASROC).
A foto acima, da superestrutura do passadiço do Shimayuki, permite ver as escotilhas do sistema de carregamento do ASROC, cujas recargas estão abrigadas na parte inclinada, em ângulo que facilita o trabalho de recarregar o lançador.
Caminhando em direção à meia-nau, vemos outros ângulos dos lançadores de mísseis Harpoon de ambos os navios, além dos reparos triplos de torpedos antissubmarino. A passagem para o Shimayuki foi instalada nesse local, mas o navio não estava incluído no roteiro de visitação.
Subindo para o convoo, pudemos conferir algo que já tinha saltado aos nossos olhos durante visita anterior do Esquadrão de Treinamento da Marinha do Japão em 2008, quando visitamos dois navios da mesma classe do Yamagiri (o Asagiri, à época convertido em navio de treinamento, e o Umigiri): o grande tamanho do hangar, dentro do qual estava abrigado um helicóptero SH-60J com as pás do rotor “penteadas” e a cauda dobrada. A grande altura do hangar permitia, antes da introdução da família do “Seahawk” na JMSDF, abrigar os helicópteros da família “Seaking”.
No piso do hangar e no convoo, estão instaladas canaletas para a movimentação da aeronave entre as posições, permitindo a operação mais segura em caso de mar agitado. Mais detalhes do helicóptero e seus sensores e equipamentos podem ser apreciados nas imagens próximas.
Com mais essas imagens das popas dos dois navios, de seus lançadores de mísseis antiaéreos e outros sistemas instalados, finalizamos nossa visita ao Yamagiri, e desejamos ao esquadrão uma boa viagem de volta ao Oceano Pacífico, passando pelo extremo sul de nosso continente. Agradecemos mais uma vez aos oficiais e tripulantes do Yamagiri e Shimayuki, assim como ao pessoal do Consulado do Japão.
Características gerais dos navios
JS Shimayuki (TV 3513) – classe “Hatsuyuki” (12 navios construídos ao longo da década de 1980)
- Deslocamento carregado: 3.700 toneladas.
- Dimensões: 131,7m de comprimento, 13,7m de boca, 4,3m de calado.
- Propulsão: COGOG (Combined Gas Or Gas) com 2 turbinas Kawasaki Rolls-Royce Olympus TM-3B somando 56.780shp para velocidade de pico, e duas turbinas Kawasaki Rolls-Royce Tyne RM-1C somando 10.680shp para velocidades de cruzeiro. Dois eixos.
- Velocidade máxima de 30 nós.
- Armamento: 1 canhão rápido OTOBreda de 76mm/L62 (3 polegadas, 62 calibres de comprimento), 1 lançador óctuplo Mark 112 de mísseis ASROC antissubmarino, 2 CIWS Phalanx de 20mm, 2 lançadores quáduplos de mísseis antinavio Harpoon, 2 lançadores triplos de torpedos antissubmarino de 324mm (12,8 polegadas), 1 lançador óctuplo Mark 29 de mísseis antiaéreos Sea Sparrow.
- Hangar e convoo projetados para operação de helicópteros do porte do Seaking.
- Tripulação: 190
JS Yamagiri (DD 152) – classe “Asagiri” (8 navios construídos entre meados da década de 1980 e início dos anos 1990)
- Deslocamento carregado: 4.200 toneladas.
- Dimensões: 137m de comprimento, 14,6m de boca, 4,5m de calado.
- Propulsão: COGAG (Combined Gas And Gas) com 4 turbinas Kawasaki Rolls-Royce Spey SM-1A somando 53.300shp, empregadas em combinações para velocidades de cruzeiro ou de pico. Dois eixos.
- Velocidade máxima de 30 nós.
- Armamento: 1 canhão rápido OTOBreda de 76mm/L62 (3 polegadas, 62 calibres de comprimento), 1 lançador óctuplo Mark 112 de mísseis ASROC antissubmarino, 2 CIWS Phalanx de 20mm, 2 lançadores quáduplos de mísseis antinavio Harpoon, 2 lançadores triplos de torpedos antissubmarino de 324mm (12,8 polegadas), 1 lançador óctuplo Mark 29 de mísseis antiaéreos Sea Sparrow.
- Hangar e convoo projetados para operação de helicópteros do porte do Seaking.
- Tripulação: 220
TEXTO: Fernando “Nunão” De Martini
FOTOS DA VISITA AOS NAVIOS / ENTREGA DOS PRESENTES: Fernando “Nunão” De Martini e G. Strelniek
FOTOS DOS NAVIOS ENTRANDO NO CANAL DO PORTO DE SANTOS: Marcelo Lopes (Shimayuki) e José Carlos Silvares (Yamagiri)
Clique nas imagens para ampliar.
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