Empregados da Nuclep denunciam militarização da empresa pela Marinha
Empregados da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) denunciaram dia 28 que estão passando por um processo de “militarização”. A denúncia foi feita em ato efetuado fora das instalações da empresa de economia mista, vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e subordinada à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
“Nós temos as comprovações que a parte territorial marinha, a Marinha está tomando e, agora, a Nuclep está passando algumas diretorias para a Marinha”, disse à Agência Brasil o diretor da Associação dos Empregados da Nuclep (AEP), David Neves. Segundo ele, o atual presidente da Nuclep, Jaime Cardoso, não conseguiu ainda mudar a empresa para o Ministério da Defesa.
David Neves afirmou que a companhia, que durante as décadas de 1970 e 1980 desenvolveu equipamentos de grande importância para a nação, continua desenvolvendo até hoje obras estratégicas para o país, não só na área nuclear. Acrescentou, porém, que o presidente não dá o devido valor aos funcionários da casa: “Ele está fazendo acordo com o Ministério da Defesa para poder se manter no cargo, e está passando tudo para o militarismo”.
O diretor da AEP informou que Jaime Cardoso demitiu há pouco todo o quadro comissionado do diretor administrativo, Saulo Farias, e colocou para assumir a segurança patrimonial da Nuclep um almirante da reserva. “Toda a parte de controle que liga a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas (Ufem), empresa da Marinha, com a Nuclep está de porteira aberta. É tudo da Marinha”. A Ufem integra o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), da Marinha. O funcionário lembrou ainda que a diretoria industrial da Nuclep já é exercida também pelo almirante Liberal Zanelatto, desde 2011, que sempre assume a presidência da companhia, na ausência do titular.
A AEP solicita apoio da sociedade para impedir que a Nuclep passe efetivamente para a Marinha e saia do âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As irregularidades apontadas foram encaminhadas à direção da CNEN. Os empregados denunciaram também que, pela primeira vez, foram impedidos pelos dois almirantes de se manifestar no pátio da empresa. “Às 5h, os guardas já estavam em fileira. Eles expulsaram os funcionários”. Daí, a mobilização foi feita na rua e resultou em 100% de apoio para a proposta de não militarização da empresa. Do total de 1.068 funcionários, mais de 970 são associados à AEP.
A intenção dos servidores é que a Nuclep continue como empresa para fins estratégicos, “não para fins da Marinha”, indicou David Neves. Os funcionários receiam que possa ocorrer demissões na companhia, devido à falta de obras no pátio, como foi registrado na Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), estatal da Marinha do Brasil, de onde 400 empregados foram dispensados, em fevereiro deste ano. “Será que eles vão ter pena da gente?”, indagou o diretor da associação.
Posicionamento
Controladora da Nuclep, a CNEN informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não tem ingerência real sobre a empresa, ou seja, não exerce um controle efetivo. Acrescentou que questões internas têm que ser respondidas pelo próprio presidente da Nuclep.
Procurada pela Agência Brasil, a direção da Nuclep não respondeu às ligações, nem apresentou nenhum posicionamento. Segundo a assessoria de imprensa, a manifestação foi um fato isolado, efetuado fora das instalações da empresa, devido à discordância com a demissão de um diretor e funcionários.
FONTE: Agência Brasil