ARA 25 de Mayo

Por Luiz Monteiro (LM)

Nas décadas de 1970 e 1980, a Armada Argentina desenvolveu um ambicioso programa de reaparelhamento, no qual se planejou obter 2 contratorpedeiros para defesa aérea de área do Tipo 42, uma construída na Inglaterra e outra no estaleiro argentino AFNE; 4 contratorpedeiros multipropósito Meko 360, construídos na Alemanha; 6 corvetas MEKO 140, a construir-se no estaleiro argentino AFNE; 3 corvetas do Tipo A69, adquiridas por oportunidade na França; 6 submarinos TR-1700, sendo 2 construídos na Alemanha e outros 4 a construir-se no estaleiro argentino Domeq.

ARA Hercules D28, destróier Type 42 argentino
ARA Hercules D28, destróier Type 42 argentino

Quanto ao programa de obtenção dos submarinos TR-1700, vale ressaltar que incluía a construção de um estaleiro especializado na construção de submarinos e, previa-se modificações no projeto, para instalar um reator nuclear no último submarino a ser construído.

Além das obtenções supramencionadas, o Plan de Renovacion Naval (Plano de Renovação Naval) previa a substituição de todo o sistema de propulsão do navio-aeródromo argentino ’25 de Mayo’, por uma planta propulsora de desenho mais moderno.

Meko 140
Meko 140

Inegavelmente, os mais ambiciosos programas de obtenção eram das corvetas Meko 140, e dos submarinos TR-1700, pois incluíam a transferência de tecnologia alemã, para a construção destes meios em território argentino, a construção de um estaleiro para submarinos, e obtenção de 6 desses meios, sendo um deles dotado de propulsão nuclear.

tr-1700-1
Submarino TR-1700

A aviação naval da Armada Argentina também se encontrava em processo de renovação. A Primeira Esquadrilha Aeronaval de Ataque recebeu 10 Aermacchi MB.326. A Segunda Esquadrilha Aeronaval de Ataque incorporava as aeronaves Super Etendard e o míssil Exocet AM-39. Para a Terceira Esquadrilha Aeronaval de Ataque, a Armada Argentina tentava adquirir 12 A- 4E Ayit, de Israel, mas a compra não foi autorizada pelo Congresso dos EUA.

Super Étendard argentino
Super Étendard com mísseis Exocet AM39

Outrossim, diante da negativa do governo americano em fornecer os P-3 Orion, a Armada Argentina buscou comprar o Breguet Atlantique (Por utilizarem motores ingleses da Rolls Royce, a compra foi suspensa). Foram adquiridos 2 Westland Lynx WG.13, com opção para mais 8 unidades, para serem utilizados nos contratorpedeiros Tipo 42 e Meko 360, mas o embargo britânico acabou por impedir a aquisição de novas aeronaves. As duas unidades recebidas, logo pararam de voar por falta de manutanção. Para a formação dos aviadores navais, foram recebidos 14 Beech T-34C Turbo Mentor.

Westland Lynx da Armada Argentina
Westland Lynx da Armada Argentina

No entanto, a crise econômica vivida pela Argentina a partir da década de 1980, afetou os ambiciosos planos da Armada Argentina. Os prazos para conclusão das corvetas Meko 140 foram dilatados, sendo concluído quase duas décadas após o previsto. Somente os 2 submarinos TR-1700 construídos na Alemanha foram concluídos, os 4 que seriam construídos pelo Domeq Garcia foram cancelados em 1991. O programa de remotorização do navio-aeródromo ’25 de Mayo’ mostrou-se inviável economicamente e foi cancelado.

Meko 360 ARA Sarandi
ARA Sarandi, Meko 360

No início dos anos 2000, a Armada Argentina lançou o Plan Apolo 2020, para a recuperação das capacidades perdidas após a Guerra das Malvinas e retomar o projeto de possuir uma esquadra com capacidade oceânica. As principais metas deste plano são:

a) Construção de um navio-aeródromo, conhecido como Buque de Despliegue Principal, cujos Requisitos de Estado Maior (REM) ainda não foram concluídos;
b) Construção do Buque de Control de Emergencias, espécie de Navio de Propósitos Múltiplos, dotado de convés de voo, hangar e doca alagável, com deslocamento aproximado de 10.000 toneladas;
c) Construção de 2 fragatas de defesa aérea de área, para substituírem os contratorpedeiros Tipo 42;
d) Construção de 6 Navios-Patrulha Oceânicos, com deslocamento de aproximadamente 1.200 toneladas;
e) Construção de 2 navios-patrulha fluviais;
f) Conclusão da transformação do contratorpedeiro Hércules em navio rápido de assalto;
g) Instalação do sistema de comando e controle MINIACCO nos principais navios da Armada, iniciando-se pelas corvetas A69;
h) Modernização de meia vida dos contratorpedeiros Meko 360;
i) Modernização das 4 primeiras corvetas Meko 140;
j) Modernização dos submarinos TR-1700 (ARA San Juan e Santa Cruz) relacionados principalmente com sensores, eletrônica e modernização de armamento;
k) Estudo sobre o futuro do Avión Naval Táctico Argentino (ANTA), futura aeronave de alto desempenho da Armada Argentina;
l) Modernização das aeronaves Super Etendard remanescentes;
m) Substituição das aeronaves Aermacchi 326, para treinamento avançado de pilotos;
n) Incorporação de helicópteros Sea King modernizados, com capacidade para fornecer o apoio as campanhas antárticas, guerra anti-superfície e anti-submarino;
o) Aquisição de novos lotes do helicóptero AS.355, para servirem de helicóptero orgânico padrão dos navios escolta;
p) Aquisição de helicópteros utilitários para substituição dos Alouette; e
q) Repotencialização dos radares das aeronaves P-3 Orion.

A grande maioria destes planos não foi levada adiante pelo Governo Argentino. Hoje a Armada Argentina precisa recuperar sua capacidade operativa, mas a situação econômica vivida por nossos vizinhos ainda não permitiu a implementação de um grande programa de reaparelhamento.

Coincidentemente, quase três décadas após o Plan de Renovacion Naval da Armada Argentina, a Marinha do Brasil (MB) lançou um ambicioso Programa de Reaparelhamento, que foi dividido em programas menores, dos quais destacamos o Programa de Obtenção de Meios de Superfície (PROSUPER); o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB); o Programa de Obtenção de Navios-Aeródromos (PRONAe); o Programa de Obtenção de Navios Anfíbios (PRONANF); e o Programa de Corvetas Barroso Modificadas (Classe Tamandaré).

FREMM Carlo Bergamini - foto 3 Marinha Italiana
A FREMM é uma das fragatas que concorrem ao PROSUPER

O PROSUPER prevê a obtenção, por construção, de 5 navios escolta com cerca de 6.000 toneladas de deslocamento, 5 navios-patrulha oceânicos com deslocamento aproximado de 1.800 toneladas e de 1 navio de apoio logístico, com deslocamento de cerca de 22.000 toneladas.

Scorpene - foto 2 DCNS
O cronograma do Prosub está atrasado por causa da crise econômica do Brasil

O PROSUB prevê a construção de um estaleiro e uma base naval no Município de Itaguaí, no Estado do Rio de Janeiro, a obtenção, por construção (neste estaleiro), de 4 submarinos de propulsão diesel-elétrica, derivados do modelo Scorpène (Classe Riachuelo), com cerca de 2.100 toneladas de deslocamento e de 1 submarino de propulsão nuclear, com deslocamento aproximado de 6.000 toneladas (Álvaro Alberto).

DCNS-PRONAE-10aTBD-1111B
O PRONAe prevê a construção de dois Navios-Aeródromos (NAe) de 50 mil toneladas

O PRONAe prevê a construção de dois Navios-Aeródromos (NAe). Para tanto, os requisitos iniciais estabelecidos foram: deslocamento da ordem de 50 mil toneladas; propulsão convencional; e disponibilidade de catapulta e aparelho de parada para, respectivamente, a decolagem e o pouso das aeronaves.

NDM Bahia - 4
Enquanto o PRONANF não deslancha, a MB incorporou o NDM Bahia, ex-Siroco da Marinha Francesa

O PRONANF prevê a construção de duas unidades de Navios Anfíbios, no Brasil, para substituir o Ex-NDD (Navio Desembarque-Doca) Rio de Janeiro, e o Ex-NDD (Navio Desembarque-Doca) Ceará. Nesse sentido, a Marinha do Brasil continua realizando pesquisa para obtenção de projetos prontos no mercado internacional, já tendo sido contatadas empresas de comprovada capacidade técnica, que possuem projetos/navios com características técnicas semelhantes aos Ex-NDD operados pela MB.

Modelo da corveta Tamandaré no estande da Emgepron na LAAD 2015
Modelo da corveta Tamandaré no estande da Emgepron na LAAD 2015

Prioridade na Marinha do Brasil, o programa das novas corvetas derivadas da Barroso prevê a aquisição de 4 corvetas, com características furtivas e deslocamento carregado de cerca de 2.700 toneladas.

A Marinha do Brasil também busca substituir o sistema de propulsão de seu único navio-aeródromo, o São Paulo (A12) e vem modernizando sua aviação naval, seja por meio de aquisição de novas aeronaves, seja pela modernização de outras, tal como tentou a Armada Argentina.

NAe São Paulo A12
O NAe São Paulo está parado aguardando condições financeiras melhores para modernização no futuro

No entanto, a crise econômica vivida pelo Brasil poderá obrigar a Marinha do Brasil a rever seu programa de reaparelhamento, assim como ocorreu com a Armada Argentina nas últimas décadas.

Neste sentido, de forma muito hábil, a Marinha do Brasil vem adotando medidas como a recuperação da capacidade operativa dos meios existentes; a baixa de meios cuja operação não são mais economicamente viáveis; a dilação de prazos de conclusão dos programas já em curso; o delineamento de prioridades para aquisição de meios navais, aeronavais e para o Corpo de Fuzileiros Navais; redução de custos, dentre outras medidas, a fim de diminuir o impacto da crise econômica sobre seu programa de reaparelhamento.

Por fim, cabe salientar que a análise da situação vivida pela Armada Argentina nas últimas décadas, poderá servir para que a Marinha do Brasil consiga suplantar as dificuldades impostas ao seu programa de reaparelhamento.

Este texto reflete, apenas, a opinião pessoal de seu autor não podendo ser confundido, em nenhuma hipótese, com a posição da Marinha do Brasil sobre o tema.

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