Quais rivais a nova fragata leve Type 31e da Grã-Bretanha vai enfrentar?
O lançamento da estratégia nacional de construção naval da Grã-Bretanha, com uma encomenda de cinco navios a serem projetados e construídos em estaleiros ingleses, vê a aspiração do Reino Unido em competir no mercado de exportação global de navios de guerra
Por Peter Roberts
O governo britânico lançou no dia 6 de setembro uma estratégia nacional de construção naval com uma encomenda de cinco novos navios para a Royal Navy a serem projetados e construídos em estaleiros ingleses.
O design central desses novos navios é chamado de fragata de exportação Type 31 (T31e), embora já existam dúvidas sobre se o tipo é uma fragata ou uma corveta. De qualquer forma, o preço proposto (£ 250 milhões ou US$ 325 milhões por navio) é atraente para o Tesouro, mas as questões permanecem no mercado internacional.
A concorrência no mercado é apertada e o design britânico vai lutar contra um grupo estabelecido de exportadores que provaram projetos com um preço criticamente atraente. Todos os clientes têm requisitos nacionais específicos, todos equilibrando as capacidades prometidas em relação às etiquetas de preços.
O mercado global mudou os requisitos para uma demanda de capacidades de combate, em oposição aos navios projetados para missões de polícia (anti-pirataria, contra narcóticos e missões de migração), como provavelmente foi o requisito dominante no mercado global entre o início deste século e 2015.
Os Estados agora estão exigindo navios que podem se defender mesmo nessas missões, pois a acessibilidade de armas sofisticadas coloca em risco ativos nacionais escassos: sejam guerrilheiros Houthis com mísseis de cruzeiro que foram lançados do Iêmen, barcos suicidas no Mediterrâneo ou minas e submarinos na Ásia.
Então, quais são os concorrentes internacionais da T31e proposta pela Grã-Bretanha?
Na França, a DCNS — agora chamado Naval Group — fornece uma fragata básica (a classe FREMM) por cerca de € 450 milhões, como ocorreu com o Marrocos. Este navio de guerra de alta especificação inclui mísseis de ataque terrestre, bem como mísseis antinavio, além de capacidade de defesa aérea de médio alcance, ligada ao seu moderno radar em fase, conjunto de eletrônicos passivos, ataque eletrônico, sonares montados no casco e armas de ataque antissubmarino.
A FREMM tem espaço para um ou dois helicópteros no hangar. Com 6 mil toneladas, não é um navio pequeno e o preço reflete isso, mas também está disponível em um acordo de arrendamento (para a Grécia). Existe uma grande capacidade para um preço relativamente pequeno, o que a torna atrativa para o mercado de exportação: Austrália e Canadá mostraram interesse por seus próprios requisitos.
Os alemães podem oferecer uma embarcação similarmente capaz por cerca de US$ 650 milhões (fragata F125 Baden-Württemberg), mas, dada a ausência de sistemas de sonar, a deles não tem sido uma proposta atrativa para o mercado de exportação.
Para aqueles com um paladar mais barato, os estaleiros alemães Thyssen-Krupp Marine Systems constroem a corveta Sa’ar 6 (K130) para a Marinha Israelense. As Sa’ar foram comprovadas em combate, possuem sensores bantante abrangentes e armamento compacto (incluindo seu próprio helicóptero), deslocando 2.000 toneladas. Estão disponíveis por cerca de US$ 250 milhões.
O mercado “high-end” de exportação europeu, de custo mais elevado, vem da Espanha com a fragata da classe F100 “Álvaro de Bazán”, altamente capaz, de grande alcance, do construtor naval Navantia de renome mundial. Fornecendo capacidades de defesa aérea, anti-superfície, antissubmarino e ataque terrestre, um conjunto de sensores sofisticados e sistema de combate compatível com os EUA (e OTAN), a F100 é um grande navio.
Com 6.000 toneladas, possui alcance e espaço para atender aos requisitos desafiadores do programa de fragatas SEA5000 da Royal Australian Navy. Mas o preço de US$ 834 milhões por unidade não é barato, e a nova T31e da Grã-Bretanha certamente é muito mais barata.
Mais comparável com a T31e é a classe FFX/F2000/Incheon da Coreia do Sul. Por cerca de US$ 230 milhões, o comprador terá um navio de 3.000 toneladas e 30 nós de velocidade projetado para o combate moderno contra adversários próximos. A Incheon possui um conjunto moderno de radar e sonar (matriz ativa e sonar de casco/rebocado), armas para ataque terrestre, ataque de superfície, defesa aérea e antissubmarino, bem como contramedidas para ameaças cima e abaixo da superfície.
Um canhão de 5 polegadas e um helicóptero complementam a capacidade. Este é um navio poderoso projetado para a guerra e não para o papel de polícia, com o carimbo de construção naval coreano sobre ele (o que significa que são entregues dentro do orçamento e no prazo).
Há, claro, dois outros exportadores alternativos com projetos estabelecidos: Rússia e China.
O navio principal da nova fragata Project 22350 (Almirante Gorshkov) da Marinha Russa foi lançado este ano.
Com um preço de US$ 250 milhões por unidade, essas fragatas pesadas (4.500 toneladas padrão) estão entre os navios de superfície de guerra mais potentes no mar. Têm radar phased-array, sonar de casco e rebocado, uma sofisticada suíte de guerra eletrônica e são compatíveis com armas de ataque comprovadas e de grande alcance.
A versão naval do míssil de defesa aérea S350, ao lado de um canhão principal de 130 mm, torpedos e foguetes antisubmarino, são complementados com a capacidade de ataque terrestre/naval supersônica fornecida pelos mísseis de cruzeiro BraMos (P-800) ou Kalibr.
Tal como acontece com todos os navios de superfície russos, a plataforma líder apresentou alguns problemas de engenharia (e não pode atender os requisitos estritos de acomodação da tripulação de algumas marinhas ocidentais), mas o destróier T45 da Grã-Bretanha também apresentou defeitos.
A China também possui uma oferta moderna para o mercado internacional em torno do mesmo preço que a Gorshkov e a T31e proposta. A primeira fragata Type 054A da Marinha do Exército de Libertação Popular da China entrou em serviço em 2008, e tem já 25 navios operacionais.
Com armas e sensores semelhantes à Gorshkov, também foi projetada para ser furtiva em termos de retornos de radar que são refletidos a partir do casco e a assinatura acústica que ela emite.
Com um valor estimado de US$ 300 milhões por unidade, a Type 054A falhou em ganhar uma encomenda em 2013 na Tailândia, mas três foram vendidas, entregues e estão em comissão com a Royal Malaysian Navy. (Nota do Tradutor: na verdade a Malásia comprou 4 corvetas chinesas C28A por US$235 milhões e não a Type 054A).
Assim, a T31e entra num mercado de exportação de navios bem estabelecido que o Reino Unido não conseguiu penetrar nos últimos 40 anos. Com o mesmo dinheiro, um Estado pode comprar projetos comprovados, construí-los localmente ou no exterior, equipados para o combate ou tarefas de polícia e que são interoperáveis com os EUA, Rússia ou China.
As empresas britânicas devem ter o cuidado de não oferecer uma plataforma que esteja sub-armada, sub-equipada ou muito leve. A Marinha dos EUA encontrou problemas similares com o seu próprio Littoral Combat Ship (LCS) e está se movendo em direção a uma fragata de pleno direito mais capaz (e dispendiosa), em vez dos projetos baratos e animados que se imaginavam como econômicos. O LCS simplesmente não pode defender um porta-aviões ou realizar muitas das missões esperadas.
É certo que os navios que a T31e vai encontrar como potenciais adversários podem não ter o pedigree de Cammell Laird ou Harland and Wolff (construtores navais britânicos), mas eles poderão lutar dentro do alcance e com um poderoso golpe. Compradores internacionais, bem como – espera-se – a Royal Navy, não querem estar em desvantagem nas próximas décadas.
FONTE: www.rusi.org