As fragatas Type 21, classe ‘Amazon’
Em meados da década de 1960, a Royal Navy tinha um requisito para a substituição das fragatas das classes “Leopard” e “Salisbury” movidas a motores diesel. Enquanto os navios de guerra da Royal Navy eram tradicionalmente concebidos pelo Departamento de Navios do Ministério da Defesa, com sede em Bath, os estaleiros privados (em particular a Vosper Thornycroft) fizeram campanha para o direito de projetar e construir um navio para atender a esse requisito.
A Vosper afirmou que, ao ignorar o que eles alegavam ser práticas conservadoras de design seguidas pela equipe do MoD em Bath, eles poderiam entregar a nova fragata a um preço significativamente menor (£ 3,5 milhões em comparação com o preço de £ 5 milhões da classe “Leander” contemporânea), o que seria atraente para clientes de exportação.
A classe foi encomendada sob a pressão política e do Tesouro para um navio de escolta de emprego geral relativamente barato, mas moderno, que seria adequado também para os governos e Marinhas da América do Sul e Australásia — os mercados de exportação tradicionais dos estaleiros britânicos. Também era considerado uma canhoneira da Royal Navy que garantiria a presença do Reino Unido no Caribe e no Golfo com uma tripulação menor, essencialmente substituindo os tipos de propulsão a diesel Type 41, Type 61 e a de propulsão COSAG Type 81.
O pessoal da Royal Navy não gostava da ideia e teria preferido, como muitos almirantes da US Navy, continuar a desenvolver navios a vapor — no caso da RN, a classe “Leander”, que era considerada um caçador antissubmarino especialmente bem sucedido e silencioso, mas era visto pelos políticos como datados e pelo Tesouro e os estaleiros orientados para a exportação como muito dispendiosos para o mercado.
O desenvolvimento dos próprios projetos de exportação da Vosper, o Mk 5 para o Irã e o Mk 7 para a Líbia, aumentaram a pressão sobre o Almirantado para aceitar essa linha de desenvolvimento naval, que parecia oferecer uma fragata de exportação barata com uma autonomia de 6.000 milhas marítimas, uma velocidade máxima de 32 nós, um armamento de superfície bom com o novo canhão Mark 8 de 4,5 polegadas, instalações para operar um helicóptero Westland Wasp, mísseis antinavio e lançadores triplos de mísseis Seacat.
Quando os planos para a nova fragata da Líbia, Dat Assawari, foram finalizados em 1968, o conselho do Almirantado aceitou que suas especificações no papel não seriam atendidas e eles teriam que permitir que os estaleiros desenvolvessem uma versão de baixo custo de guerra antissubmarino e de emprego geral para a RN, que seria esticada e totalmente propulsada por turbinas a gás, em vez da propulsão CODAG das Mk 5 e o Mk 7.
Na realidade, era um design muito mais complexo, com o RN exigindo um peso interno extra do sistema de comando e controle baseado em computadores, conhecido como CAAIS (Sistema de Informação de Ação Assistida por Computador). A ausência de motores diesels pesados ou propulsão a vapor em posição mais baixa no casco para equilibrar mais facilmente o peso em posição elevado do CAAIS foi compensado com adição de lastro extra.
O encaixe de turbinas a gás Tyne para velocidades de cruzeiro, em vez dos motores diesel usados nas versões iraniana e líbia, significava que o consumo de combustível e os custos seriam altos, o que foi um tremendo problema para a Royal Navy no início dos anos 80.
Quando a austeridade do início do Thatcherismo cortou o subsídio de combustível da Royal Navy, isso significou que a maioria das fragatas passaram mais tempo atracadas, em vez de no mar no período de 1980-1. Apesar da tripulação menor, os custos de funcionamento da Type 21 eram dez por cento maiores do que as “Leanders”.
A Type 21 proporcionaria aos construtores a experiência na construção de navios totalmente equipados com turbinas a gás e fornecia um trabalho útil para os estaleiros, enquanto o destróier Type 42 e a fragata Type 22 não ficavam prontos até meados do final dos anos 1970.
À medida que o painel de design do Almirantado estava ocupado com os Type 42 e 22, o projeto Type 21 foi entregue aos estaleiros particulares Vosper Thornycroft e Yarrow. As linhas inequivocamente esportivas e arrojadas eram indicativas do seu design comercial. Sua bela aparência combinada com o sua impressionante manobrabilidade e aceleração emprestaram o apelido de “classe dos Porsches” à classe “Amazon”.
Modificações
Quando entraram em serviço, as Type 21 foram criticadas por serem pouco armadas em relação ao seu tamanho e custo. Assim, um programa foi posto em prática para aumentar seu poder de fogo com a instalação de quatro contêineres de mísseis antinavio MM38 Exocet de fabricação francesa. Estes foram colocados na proa, logo à frente do passadiço no convés B, deslocando os lançadores de contramedidas de chaff Corvus para a meia nau.
Esta melhoria foi rapidamente realizada para todos os navios da classe, exceto para a Antelope e a Ambuscade; a última foi equipada com Exocet em 1984/5.
No entanto, no final da década de 1970, ficou claro que a Type 21, de design comercial, tinha “margem insuficiente” de peso e espaço permitidos nos projetos de navios de guerra da Royal Navy para modernizações importantes do tipo a ser aplicado às fragatas “Leander”, como a substituição dos mísseis subsônicos Seacat por mísseis antimíssil Seawolf para combater os mísseis antinavio soviéticos e a instalação do sonar de arrasto rebocado Type 2031.
Cinco propostas de modernização para a Type 21 foram consideradas pela Royal Navy e rejeitadas até 1979, quando “relutantemente” decidiu-se não modernizar a classe e estimava-se que elas seriam desativadas até 1988.
O Westland Wasp, um helicóptero utilitário que também podia levar torpedos antissubmarino, foi substituído pelo muito mais capaz Westland Lynx multimissão, quando este ficou disponível.
Após a Guerra das Malvinas, foram montados mais dois canhões Oerlikon de 20 milímetros, um em cada lado do hangar, para fornecer armamento de engajamento aproximado adicional em alguns navios da classe.
Tubos de torpedo antissubmarino também foram instalados posteriormente.
Análise
A classe “Amazon” foi criticada pela performance no conflito das Malvinas. Os navios desenvolveram fissuras em seus cascos devido às diferentes propriedades de expansão de aço e alumínio. Esta foi uma vulnerabilidade particularmente demonstrada nas condições climáticas severas que encontraram no Atlântico Sul.
Placas de reforço de aço foram eventualmente instaladas em ambos os bordos dos navios. Construídas com um orçamento exigente e especificação de design (e, apesar de levar armas antiaéreas obsoletas), eles se distinguiram em um teatro para o qual não foram projetadas.
Como plataformas de apoio de fogo naval em apoio aos Royal Marines e o desembarque anfíbio em San Carlos, elas foram soberbas, eliminando qualquer possibilidade de contra-ataque do Exército Argentino.
Mas se revelaram inúteis para a defesa antiaérea o canhão Mk 8 de 4,5 plegadas, com um grande arco cego, e o sistema GWS24 Seacat.
Como navios antissubmarino, eles foram facilmente ouvidos e classificados pelo submarino argentino ARA San Luis. Sua velocidade e glamour amplificaram as tendências do jovens comandantes da RN que agiam em desacordo com a operação silenciosa exigida nas operações antissubmarino. Elas mostraram-se completamente inadequadas para o papel da Royal Navy na década de 1980, para atuar na força antissubmarino no Atlântico Norte e no Ártico. O que selou o destino da classe foi justamente a falta de margem para aceitar o sonar towed array 2031.
A classe também foi criticada por ter uma grande tripulação — com comprimento de (117 m), tinham 177 tripulantes em comparação com os 185 tripulantes da moderna fragata Type 23 (133 m). Isso era questão importante numa época em que a Royal Navy enfrentava falta de mão-de-obra. O padrão de acomodação para os oficiais era melhor do que a média dos navios da RN e os oficiais de alta patente gozavam de cabines separadas — ao contrário dos que tripulavam o destróier Type 42 da mesma época, que dormiam em cabines com 4 beliches.
Os alojamentos das praças também era melhorado, com cabines com quatro beliches e um lobby comum; novamente, muito melhores do que os alojamentos do destróier Type 42. Em essência, o padrão de acomodação era melhor, especialmente para os oficiais, porque era um projeto destinado a atrair pedidos de exportação.
A automação mais alta e o novo canhão automático Mk 8 de 4,5 polegadas combinaram, em muitos aspectos, com uma eletrônica muito mais simples do que as “Leanders” ou os destróieres Type 42. A Type 21 não possuía um radar de longo alcance, como o Type 965, levado pela maioria dos navios de guerra do Reino Unido e também não tinha o lançador de foguetes antissubmarino Limbo e o sonar associado.
Inevitavelmente, isso significava uma tripulação muito menor do que as “Leanders”, com pouca capacidade de modernização (devido ao seu tamanho pequeno) e como estava perto do limite de peso superior, os dias da Type 21 estavam contados na RN.
A decisão de não modernizá-las foi feita em 1979, mesmo antes das perdas das Malvinas. As várias centenas de toneladas de lastro que tiveram que levar na parte baixa dos navios impediam que as fragatas conseguissem alcançar sua velocidade planejada de 35 nós, mas alguns dos navios ainda conseguiram uma velocidade máxima de 37 nós, com dois navios alegando que ultrapassaram 40 nós em mais de uma ocasião.
Apesar de alguns problemas, esses navios foram considerados favoravelmente por suas tripulações e provaram ser altamente manobráveis e confiáveis em uma Marinha que estava sofrendo com a falta de navios de escolta modernos.
Nas Malvinas
Exceto a Amazon, todos os outros navios da classe participaram da Guerra das Malvinas em 1982 como o 4º Esquadrão de Fragatas. Eles estiveram fortemente envolvidos, realizando extensas missões de apoio de fogo naval contral alvos em terra e fornecendo escolta antissubmarino e antiaérea para a força-tarefa inglesa.
Em 10 de maio, a HMS Alacrity e a Arrow investigaram o estreito de Falkland Sound à noite, buscando campos de minas navais que poderiam impedir operações de desembarque, e atuaram quase como cascos descartáveis caso encontrassem alguma mina, pois sofreriam o primeiro choque.
A Alacrity engajou e afundou um navio de abastecimento naval argentino. Ao sair do estreito Falkland Sound ao amanhecer, as fragatas foram atacadas pelo submarino ARA San Luis, que disparou dois torpedos; um acertou o chomariz rebocado da Arrow e o outro bateu no casco, mas não explodiu.
Duas Type 21 foram perdidas na Guerra das Malvinas: a Ardent foi atingida por bombas lançadas por aeronaves argentinas em 21 de maio e foi consumida pelo fogo; a Antelope foi atingida por bombas no dia 23 de maio, uma das quais foi acionada inadvertidamente pela equipe de desativação de bombas que estava tentando desarmá-la em 24 de maio, fazendo com que o navio se incendiasse e explodisse os paióis de munição. O navio partiu-se me dois e afundou.
Venda das seis restantes para o Paquistão
As seis fragatas de Tipo 21 sobreviventes foram vendidas para o Paquistão em 1993-1994. A classe foi renomeada pela Marinha Paquistanesa como a classe “Tariq”, nome dado ao primeiro navio que foi adquirido, que anteriormente era a Ambuscade. As Type 21 foram classificadas como destróieres pela Marinha Paquistanesa.
Além de receberam novos radares, elas tiveram seu lançador de Sea Cat removido, bem como seus mísseis Exocet. Três dos navios tiveram seus Exocet substituídos por mísseis americanos Harpoon, enquando as outras três foram equipadas com o sistema chinês de mísseis antiaéreos de 6 células LY-60N Hunting Eagle. Alguns navios também receberam o CIWS Phalanx.
Perguntas : . Então nossas fragatas são Type 21 Mk 10 ? Quais as diferenças para as usadas pela RN ? . Era verdade que o casco de alumínio das Type 21 usadas nas Malvinas estilhaçava sob impacto dos Exocet, e que seu reparo/reforço era muito custoso ? Nossas Mk10 receberam tais reforços ? . O fato das Type 21 terem sido projetadas com foco em exportações pelos estaleiros, ao invés do MD, pode ter influído em seu desempenho e na decisão da RN em passá-las adiante ? . Valia a pena a MB adquir as Type 21 ao invés… Read more »
Foi o sujeito que tentou desativar a bomba da HMS Antelope que milagrosamente sobreviveu?
Acho as nossas Niterói as mais belas das type 21.
Delfim Sobreira 16 de outubro de 2017 at 20:25
Perguntas :
RESPOSTAS:
http://www.naval.com.br/blog/2017/10/15/as-fragatas-classe-niteroi-vosper-mk10-em-fotos-do-construtor/
.
Interessante dar uma olhada nos comentários.
A proa da Antelope ficou para fora dágua depois que o navio explodiu e partiu-se em dois
Trágico! Guerra inútil…
A diferença das Mk 10 para as type 21 começando pela estrutura: – tem um nível de convés a mais; – as Mk 10 nao vieram com os canhões Oerlikon na popa mas com os Bofors 40 mm no través logo atrás do Passadiço; – radares rtn 10x de direção na proa perto do mastro principal e popa atrás da chaminé ; – Propulsão Codog; – vieram com o Seacat; -As emprego As tinham o IKARA na popa; -As emprego Geral tinham o Canhão 4.5 Vickers na popa ; – Ja vinham com os reparos triplos de torpedo MK 32… Read more »
Fiquei na duvida agora
Não me lembro se vieram com os lançadores
Exocet ou foram instalados depois logo que chegaram no Brasil (não alcancei essa época).
Belas fragatas que a despeito de terem enfrentado todo tipo de restrições e limitações quando de sua concepção por motivos eminentemente políticos, serviram bem à RN.
Excelente matéria. Fotos excepcionais.
Parabéns ao Naval!
Burgos, as duas AS vieram sem os lançadores de Exocet..
Abraço…
O casco de duralumínio é o mais limitante. Serve bem ainda para um fast missile craft, como aquele finlandês mostrado aqui no naval há pouco tempo. Pra escolta, não dá, como não dava desde a segunda guerra…
Saudações.
O casco das Type 21 é de aço, o alumínio é empregado em partes da superestrutura para tornar o navio mais leve no alto.
Eu imaginei que fosse de duralumínio porque o desempenho em combate foi bem inferior ao das type 22 (uma das voltou pra casa).
XO
Boa tarde;
Só uma pequena observação, naquela época vieram 4 na configuração AS e 2 E.G.
Então vc quis dizer as 2 EG então ?!
Sendo que a F44 e F45 foram feitas no AMRJ junto com os técnicos e engenheiros Ingleses e o material veio todo de N/M para o RJ.
Obs: Quando aborrecente vai essas duas sendo construídas no picadeiro do AMRJ passando de carro pelo extinto elevado que passava por cima da praça XV.
O desempenho em combate das Type 21 se deveu ao fato de operarem em águas abrigadas, dentro da baía de São Carlos, o que impedia os navios de detectarem a aproximação dos aviões argentinos com antecedência.
Os mísseis antiaéreos Seacat das Type 21 também não tinha a reação rápida e a precisão dos Seawolf das Type 22. Se as Type 21 tivessem recebido o Sealwolf como se planejava, talvez não tivessem sido atingidas por bombas.
Burgos, as fragatas classe Niterói da versão A/S entraram em serviço sem os mísseis Exocet, tanto as duas feitas na Inglaterra, quanto as duas feitas no AMRJ.
As únicas que tinha os Exocet MM38 eram as E/G.
Só nos anos 1990 é que todas as fragatas receberam os Exocet MM40.
Valeu Galante !!!
Marinha também é cultura !!!
Aliás tá de Parabéns
Belas fotos e excelente pesquisa BZ !!!
Burgos, o Galante já corrigiu meu erro em numerar 2 e não 4 AS… abraço…
Convém lembrar que as duas fragata A/S feitas na Inglaterra (F40 Niterói e F41 Defensora) vieram com sonares de imersão EDO-700E, que foram removidos durante a modernização.