Submarino de resgate LR5 da James Fisher Defence, em treinamento durante o exercício Black Carillon 2011-1, na Austrália

Submarino de resgate LR5 da James Fisher Defence, em treinamento durante o exercício Black Carillon 2011-1, na Austrália

A LOGSUB é a única empresa associada à ABIMDE com expertise na área de salvamento submarino e também integra o SMERAS – Submarine Escape and Rescue Abandonment Systems, associação comercial de empresas ligadas ao tema e à OTAN

Comandante Repinaldo ao lado do submarino museu USS Nautilus, o primeiro submarino de propulsão nuclear do mundo

PODER NAVALPrezado Comandante Repinaldo, o senhor poderia fazer um resumo da sua carreira na Marinha do Brasil antes de criar a empresa LOGSUB?

Comandante Repinaldo – Prezado Galante, antes de tudo obrigado pela honra deste espaço a mim concedido no Poder Naval.

Eu entrei na Marinha do Brasil (MB) pelo Colégio Naval, oriundo do Colégio Militar do Recife (CMR) em 1978, em 1981 cursei a Escola Naval e após a viagem no saudoso NE Custódio de Mello em 1985 embarquei no NV Atalaia em Aratu/Salvador. Nesta ocasião optei por me especializar em submarinos e conclui o meu Curso de Submarinista no CIAMA em 1988, como submarinista servi em todos os Submarinos Classe Humaitá (Oberon).

Em 1996, por razões familiares servi na Capitania dos Portos do Estado de PE e depois em 1999 comandei a CV Solimões em Belém, onde tive a minha melhor experiência profissional. No Comando deste navio fiz mais de 120 dias de mar em um ano, navegamos quase 17.000 milhas náuticas, fomos premiados como Navio de Socorro do Ano da MB além de termos apreendido nas nossas patrulhas mais de seis Barcos de Pesca Estrangeiros operando nas nossas águas jurisdicionais.

Após o comando fiz o Curso de Estado Maior na Escola de Guerra Naval e servi por mais de 7 anos no Comando da Força de Submarinos como Oficial de Logística e Salvamento de Submarinos.

Os oficiais da corveta Solimões recebendo o Prêmio de Navio de Socorro da MB, em 2000

PNComo surgiu a ideia de criar uma empresa de logística naval?

Comandante Repinaldo – Exatamente após a minha promoção a CMG e depois de trabalhar por 10 anos nesta área, eu entendi que poderia desenvolver esta atividade fora da MB e abri a minha empresa no inicio de 2008.

PNQuais as atividades que a LOGSUB realiza?

Comandante Repinaldo – A Logsub tenta desenvolver projetos ou buscar soluções para os problemas logísticos dos submarinos da MB e de outras Marinhas da América do Sul, bem como procuramos atender as necessidades dos navios de Superfície. Também trabalhamos para o mercado Off-Shore, sempre em parceria com empresas associadas. Após sete anos de atuação, a empresa se especializou na área de Resgate e Salvamento de Submarinos, Recuperação e Atividades Subaquáticas, Desenvolvimento e Gerenciamento de Reparos Navais, Estudo e Gerenciamento de Projetos de Parceria Publica Privada (PPP), Nacionalização de Itens e Sistemas para Submarinos e Navios dentre outros.

A empresa é associada à ABIMDE (Associação Brasileira das Indústrias de Material de Defesa) desde outubro de 2008 e ao SMERAS (Submarine Escape Rescue and Abandonment Systems) desde fevereiro do mesmo ano, além disto, desde 2008, a empresa participou de todos os SMERWG (Submarine Escape and Rescue Working Group) que é uma Conferência mundial da OTAN sobre Resgate e Salvamento de Submarinos além do SAMAP (Submarine Air Monitoring and Air Purification), esta ultima inclusive encerrada na semana passada em Connecticut, Estados Unidos, com apoio da US Navy.

PNQuais as empresas que a LOGSUB representa no Brasil e suas especialidades?

Comandante Repinaldo – A empresa representa muitas empresas nacionais e estrangeiras dentre as quais podemos destacar a Thyssen Krupp Marine Systems (TKMS), TTS Syncrolift AB, Trelleborg, SAUER do Brasil, Atrasorb, Aeronautical General Instruments (AGI), L3 Kollmorgen Eletro Optical, ANALOX e muitas outras, todas com o foco e atuação nas áreas de Defesa e OffShore.

O Brasil está construindo atualmente quatro submarinos S-BR dentro do Programa Prosub

PNA LOGSUB está envolvida no Programa de Desenvolvimento de Submarinos – Prosub?

Comandante Repinaldo – Sim, tanto na construção do Estaleiro e Base Naval bem como na construção dos SBR e do Submarino Nuclear.

Na construção do estaleiro ganhamos a concorrência da construção do Elevador de Navios (shiplift) com a TTS cujo comissionamento será ainda em novembro de 2017 e estamos concluindo a montagem de um equipamento semelhante no estaleiro SIMA Callao da Marinha do Peru. A empresa também representou a IMG e vencemos a concorrência de fornecimento do sistema de transferência das seções dos submarinos em construção. Também participamos da concorrência de desenvolvimento dos simuladores de alagamento e escape de submarinos.

Na construção dos submarinos estamos envolvidos no Programa do SBR no fornecimento de diversos sistemas e equipamentos, tais como os Compressores de Ar de Alta da Sauer, bem como na nacionalização dos canister de absorção de CO2 com cal sodada e das cozinhas dos navios com a ELVI. Para o Projeto do submarino Nuclear gostaríamos de atuar com diversas empresas parceiras na área de Controle Ambiental Atmosférico, operação e lançamento de tropas especiais e fornecimento de composites de alto desempenho. No entanto, não posso detalhar por questões de segurança do projeto e confidencialidade.

Submarino Tapajó S33, Type 209/1400

PNComo o senhor classifica os submarinos Type 209 em termos de facilidade de manutenção, em comparação com Oberon nos quais o senhor serviu?

Comandante Repinaldo – A manutenção dos Submarinos Classe Tupi (SCT) é muito melhor executada que os antigos Oberon, nesta classe os períodos de manutenção planejada são respeitados com muito rigor pela MB e os navios cumprem uma manutenção a cada 60 dias atracados na Base de Submarinos (BACS). Este conceito de manutenção em muito ajudou esta classe de navios e a criação dos Grupos de Manutenção (GruMan) foi fundamental para o cumprimento das rotinas de manutenção nos equipamentos.

Infelizmente, na Classe Humaitá (Oberon) os navios apenas cumpriam os períodos de manutenção mais longos e os navios sentiram muito a falta desta manutenção mais curta preventiva. Porém, eram excelentes navios que apesar de terem iniciado uma modernização dos seus sensores na década de 90 não puderam continuar operando pela exaustão dos sistemas de propulsão em geral, principalmente os Motores (MCP).

Submarino Tonelero, da classe Oberon

PNEm termos de salvamento submarino, como está a Marinha do Brasil hoje e o que pode ser feito para melhorar?

Comandante Repinaldo – A MB é muito respeitada na Comunidade de Salvamento Internacional (ISMERLO – International Submarine Escape and Rescue Liaison Office e no SMERWG), pois temos uma doutrina de intervenção por Mergulho Saturado que é invejada por outras Marinhas e que era mantida com muito sacrifício orçamental pela Força de Submarinos (na minha época) através do Centro Hiperbárico da BACS. Recordo-me da boa impressão que deixamos com Oficiais Observadores de outros países, em especial da US Navy, em um exercício de Salvamento de Submarinos SARSUB. No entanto, em minha opinião, a atividade de salvamento de submarinos na MB está em uma encruzilhada, pois o nosso Navio de Socorro e Salvamento (NSS) Felinto Perry apesar de bem mantido e ainda operativo (atendeu com presteza a chamada da Marinha Argentina para o ARA San Juan) tem quase 40 anos de idade e o sistema de salvamento por meio de um Sino de Resgate de Submarinos (SRS) não é o mais adequado para o treinamento com um submarino de Propulsão Nuclear.

Repinaldo em operação com o veículo de resgate de submarinos LR-5 no Mediterrâneo, em 2005
O atual diretor da Logsub participa de manobra de acoplamento do LR-5 em um submarino italiano classe “Sauro” pousado no fundo a 150m de profundidade

Explicando melhor, o SRS é um veículo de resgate que fica permanentemente conectado a um sistema de içamento a bordo obrigando o NSS a estacionar sobre o submarino sinistrado usando um sistema de Posicionamento Dinâmico (DP). Este sistema apesar de antigo ainda é mantido operativo também pela US Navy, que apesar de operar os DSRV (Veículos independentes ou mini submarinos) desde a década de 60 nunca retiraram de operação os seus SRS. Até porque, o único salvamento com sucesso de uma tripulação de um submarino afundado foi o do USS Squalus no litoral americano em 1937 e usando o velho SRS daquela marinha ainda hoje em operação.

Naquele evento, quase toda tripulação foi resgatada por um SRS e o navio depois reflutuado. Com o advento dos submarinos nucleares, que não pousam no fundo do mar como os convencionais por razões técnicas, as Marinhas que operam estes meios desenvolveram mini-submarinos ou veículos de resgate independentes, que não são conectados ao NSS seja por cabos de içamento ou umbilical, o que permite a conexão em treinamento com um submarino nuclear sem estar pousado no fundo e sem o risco do submarino perder a sua cota e ficar fundeado pelo sino de resgate.

Veículo do tipo mini-submarino de resgate LR-5 da empresa James Fisher Defense (JFD) em operação na Marinha da Austrália, em treinamento durante o exercício Black Carillon 2011-1

Se a MB optar por manter a sua capacidade de resgate por SRS, a LOGSUB pode desenvolver um projeto deste sistema também aerotransportado, mas com melhorias em relação ao SRS atualmente em operação na MB, pois este sino de resgate desenvolvido na década de 90 não possui uma escotilha lateral para acoplamento em um Sistema de Transferência dos resgatados sob Pressão (chamado de TUP – Transfer Under Pressure), este requisito é atualmente obrigatório para qualquer sistema de salvamento e resgate moderno em operação, assim, no meu entender, a MB precisa reavaliar o seu veículo de resgate caso venha a adquirir um novo Navio de Socorro e Salvamento (NSS) e operar o SNBR.

Além da razão acima, com a entrada em operação dos SBR Scorpenes e do SNBR, a MB operará com submarinos oceânicos e com grande capacidade de movimentação. Atualmente, o NSS Felinto Perry operando com um sistema fixo a bordo não terá a flexibilidade de atender com a devida rapidez um sinistro em Salvador, por exemplo, pois o seu transito até esta região não será inferior a 5/6 dias contando a sua mobilização.

Hoje em dia, as Marinhas que operam submarinos oceânicos ou nucleares operam Sistemas de Resgate Aerotransportados, facilmente mobilizáveis e utilizando navios de oportunidade ou distritais na região do sinistro.

Enfim, a MB terá que reavaliar a sua doutrina de salvamento de submarinos e a Logsub com o seu conhecimento nesta área está pronta para ajudar neste desafio.


O video abaixo do Sistema NSRS da OTAN, que é operado e mantido pela JFD, explica como é um salvamento e resgate em um submarino.

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