ARA San Juan: baterias não eram novas, foram recondicionadas
Há quase doze anos, em 1º de dezembro de 2005, o Estatuto Geral da Armada Argentina assinou um contrato com a Hawker GmbH alemã para os trabalhos de substituição de 964 células de propulsão do tipo bateria Varta 14UR12F para o submarino ARA San Juan pela soma de Cinco Milhões e 100 mil euros (€ 5.100.000,00), segundo o Relatório Nº 77 do Senado da Nação, página 329.
Como comparação, um conjunto de baterias para um submarino Type 209 custa de 3,5 a 4 milhões de dólares por 440 elementos de baterias novas. Como o TR-1700 tem mais que o dobro das baterias do Type 209, um conjunto completo de baterias novas para ARA San Juan poderia ultrapassar facilmente os € 7.000.000,00 na cotação de hoje.
Porém, não foi feita a substituição por baterias novas, como se pretendia em 2005. Elas foram recondicionadas, conforme revelaram fontes do Poder Naval na noite de quinta-feira, 23 de novembro. E, de fato, o estaleiro Tandanor, que fez o reparo de meia vida no ARA San Juan, diz em seu site que foi feito “um replacado e a reparação integral de cada uma das 960 baterias“. Também é informado pelo Tandanor que as válvulas e outros mecanismos do submarino foram reparados para atingir sua condição original. As baterias da ARA foram alteradas pela empresa Varta.
Hidrogênio – Vale acrescentar que o manual do fabricante original do TR-1700 recomenda a troca das baterias por novas a cada 5 anos, pois um dos problemas das baterias velhas é que elas liberam muito hidrogênio.
O período em que as baterias mais produzem hidrogênio é justamente durante a recarga, por isso, quando o snorkel é usado na recarga o ar é puxado dos compartimentos de baterias primeiro, é levado até os motores e colocado para fora pelo snorkel.
Fontes do Poder Naval informaram que, para evitar a concentração de hidrogênio na atmosfera do submarino, é feito o “battery monitoring”, que mantém o monitoramento das baterias e informa se elas estão produzindo muito hidrogênio. Isso porque o hidrogênio, caso atinja uma concentração de 3% de na atmosfera do submarino, é inflamável se houver uma faísca. Com mais de 5% de concentração ele se torna explosivo.
Curto circuito – Os informes de que o comandante do ARA San Juan, em suas últimas comunicações com a base antes de desaparecer, relatou entrada de água no snorkel e um curto-circuito nas baterias, podem ajudar a explicar porque houve uma explosão no submarino. Podem até mesmo ser aventadas hipóteses de faísca e explosão a partir desse curto-circuito, caso a concentração de hidrogênio estivesse mais alta que o limite.
Porém, são apenas hipóteses. Somente quando e se o submarino for encontrado é que será possível, a partir da análise do naufrágio, chegar mais perto de uma conclusão sobre a verdadeira causa da perda do ARA San Juan.
La Nacion – Nesta manhã de 24 de novembro, enquanto finalizávamos esta matéria, o assunto das baterias do submarino San Juan também começou a ganhar mais destaque na mídia argentina, em especial no jornal La Nacion. Segundo o jornal, fontes qualificadas da Armada Argentina disseram que os elementos da bateria estavam em condições de uso e que a repotencialização realizada na argentina, com supervisão do fabricante alemão, foi cumprida de forma satisfatória. Essas fontes também destacaram que “se o San Juan saiu para sua missão é porque estava em ótimas condições para fazê-lo”.
A razão para recondicionar ao invés de comprar elementos novos de bateria foi o custo. Cada elemento novo custaria, segundo o jornal, cerca de 10.000 euros, o que multiplicado por 960 euros, chegaria a uma fortuna (9 milhões e 600 mil euros, mais ainda do que o estimado pelo Poder Naval, no início desta matéria). Por isso, segundo o jornal, foi decidido usar as mesmas carcaças e trocar os seus elementos desgastados e o ácido, num trabalho conhecido como “replacado”, com garantia de seis anos de uso em 100% da capacidade.
Relembrando a celebração após um longo trabalho
27 de setembro de 2011. Naquela tarde, a então presidente argentina Cristina Fernández de Kirchner participou das festividades para finalizar o reparo de meia-vida do Submarino ARA San Juan (S42). A cerimônia ocorreu nas instalações do Complejo Industrial Naval Argentino (CINAR), composto pelos estaleiros Tandanor e Almirante Storni (anteriormente Estaleiro Domecq), especialmente construído para a produção dos submarinos TR-1700, localizado em Costanera Sur, na Cidade de Buenos Aires. O chefe do Estado-Maior da Armada da Argentina, almirante Jorge Omar Godoy recebeu a presidente, que discursou.
“Hoje estamos terminando o que se chama as principais tarefas para o “reparo de meia-vida” do submarino ARA San Juan (S42), que foi lançado em 1983 e começa a fase de preparação”, explicou a presidente Cristina Fernandez de Kirchner durante a cerimônia. Ela também mencionou em seu discurso a intenção, no futuro imediato, de montar o submarino ARA Santa Fe, paralisado desde o final da década de 1980.
A presidente disse que “um setor que foi considerado totalmente perdido está sendo lançado”; e afirmou que “a Argentina começou a desempenhar um papel que nunca deveria ter sido abandonado”, ao mesmo tempo que elogiava “o trabalho de técnicos, cientistas, trabalhadores e engenheiros”. A presidente indicou que o principal trabalho do submarino ARA San Juan foi realizado inteiramente por técnicos argentinos, em contraste com o que aconteceu anos atrás, quando um navio gêmeo “teve que ser reparado no Brasil” porque “a indústria naval havia sido desmantelada”.
Uma vez concluída a sua manutenção, que incluiu a incorporação de um radar de navegação portátil, equipamentos de comunicação e um plotter, o ARA San Juan retornou ao mar. No relatório das obras descritas pelo estaleiro Tandanor, foi indicado que “a reparação da semi-vida de um submarino é uma das obras mais difíceis e complexas da indústria naval”.
A principal dificuldade foi cortar o casco para permitir a substituição dos motores. Uma vez que essa tarefa foi concluída, os motores foram trocados, as baterias foram reparadas e parte do equipamento foi renovado de modo que, no final de 2011, os segmentos do casco foram soldados novamente. O trabalho foi definitivamente concluído em 2014, o que permitiu que o San Juan retomasse suas atividades de patrulha marítima a partir de então. O ministro da Defesa, Agustin Rossi, culpou o atraso da obra pela falta de fundos e ausência de mão de obra qualificada.