O leitor pergunta: como é a defesa contra torpedos e outras questões
O leitor José Luiz enviou um e-mail para a nossa redação com perguntas sobre a defesa de navios contra torpedos e deu a ideia de publicarmos as respostas como post para que outros leitores interessados sobre o assunto também possam se inteirar.
José Luiz – Primeiramente parabéns pelo seu heroísmo em manter este baluarte da informação sobre defesa naval que é o site Poder Naval o qual acompanho desde do começo dos anos 2000.
Poder Naval – Obrigado José pelas palavras elogiosas. Bom saber que nos acompanha por todos esses anos.
JL – Trata-se dos meios e táticas aplicadas na MB no caso nas nossas escoltas da classe Niterói e Inhaúma. Já li sobre sistemas defensivos como o AN/SLQ-25 Nixie e sistemas de mascaramento como Prairie Masker. Não tenho conhecimento se algo similiar existente nos nossos navios.
PN – Os navios da MB não têm o AN/SLQ-25 Nixie e os navios que tinham o Prairie Masker, os contratorpedeiros classe Pará (classe “Garcia”), já foram desativados. O Prairie Masker é um sistema de redução de ruído irradiado e serve para dificultar a identificação e classificação por sonar passivo.
O Masker gera bolhas de ar no casco para abafar o ruído das máquinas e o Prairie gera bolhas de ar nas lâminas do hélice para reduzir o ruído de cavitação.
Já o AN/SLQ-25 Nixie, é um despistador de torpedos rebocado empregado em navios da US Navy e de aliados.
É composto por um dispositivo chamariz rebocado (TB-14A) e um gerador de sinal a bordo. O chamariz emite sinais para seduzir um torpedo para longe do alvo pretendido.
O Nixie tenta derrotar o sonar passivo do torpedo pesado inimigo ao emitir ruídos simulados do navio, como o ruído da hélice e do motor, que são mais atraentes que o navio para os sensores do torpedo.
A variante AN/SLQ-25A utiliza um cabo de reboque de fibra óptica (FOTC) e um guincho de rolo duplo RL-272C. As saídas do Nixie podem ser facilmente identificadas na popa dos navios que têm o equipamento.
JL – Minhas principais dúvidas são sobre como é detectado o torpedo inimigo, sonar ativo? Medidas defensivas: Vira a proa para o torpedo? É possível usar o torpedo antissubmarino Mark 46 como uma espécie de arma anti-torpedo? Li que os russos mantem o sistema RBU 6000 também sobre o seu possível uso como arma anti-torpedo, às Niterói ainda mantem os Boroc (não sei se operacionais) este sistema podia ser usado como arma anti torpedo? Pode se utilizar a artilharia de tubo para disparar contra o torpedo na sua aproximação final visto esta perto da superfície, existe esta possibilidade? Outra indagação o helicóptero orgânico no caso o Lynx pode tentar interceptar o torpedo com uma carga de profundidade ou um torpedo Mark 46?
PN – A aproximação do torpedo pesado inimigo é detectada por sonar passivo e por sonar ativo.
O MK.46 não tem capacidade anti-torpedo porque já é um projeto antigo e foi desenvolvido para combater submarinos. Para engajar um torpedo pesado, que é um alvo pequeno, o torpedo anti-torpedo tem que possuir um hardware mais avançado e um software adequado ao perfil da ameaça.
Os europeus desenvolveram o MU90, que é torpedo leve da classe do Mk.46, mas é muito mais avançado.
O MU90 Impact é da mesma classe do Mk.46 americano, com diâmetro de 324mm, comprimento de 3m e peso de 300kg. Ele possui um alcance de 10km em velocidade máxima (alcança até 20km em baixa velocidade) e pode alcançar alvos submarinos que estejam mergulhados até 1.000m de profundidade.
A diferença do MU90 para os atuais torpedos de 324mm é seu software e cabeça de busca avançados, mais adequados ao engajamento de submarinos convencionais silenciosos operando em águas rasas.
O fabricante diz que o MU90 é tão preciso, que pode ser empregado como torpedo anti-torpedo, isto é, pode defender o navio contra torpedos pesados lançados de submarinos.
Para combater a ameaça dos torpedos pesados do tipo “wake homing” de fabricação russa lançados de submarinos classe Kilo de exportação, os americanos desenvolveram o sistema anti-torpedo SSTD – Surface Ship Torpedo Defense.
O SSTD, que foi desenvolvido com bastante rapidez na última década, é uma combinação de sistemas que trabalham juntos para defender um porta-aviões (e eventualmente outros combatentes de superfície menores) contra ataques de torpedos. Inclui três componentes principais:
- O primeiro é um sistema de sensor acústico rebocado chamado Torpedo Warning System (TWS) que faz exatamente como diz, ele detecta a aproximação de um torpedo atacante. Este sensor é rebocado na popa do porta-aviões, por isso é particularmente adequado para a detecção de torpedos “wake homing”.
- Este dispositivo rebocado está ligado a estações de controle tático que fornecem alerta antecipado, classificação de ameaça e direção de ação para o Centro de Informações de Combate (CIC) do navio e para o passadiço.
- O terceiro e último componente do SSTD é o Countermeasure Anti-Torpedo (CAT), um mini-torpedo destinado a eliminar o torpedo atacante por hard-kill.
Sobre as outras formas de engajamento de torpedo pesado atacante por foguetes, helicópteros e canhões, a dificuldade reside na capacidade de detecção da ameaça com antecedência e a indicação de alvo precisa para arma de defesa.
Armas e sistemas antigos terão pouca ou nenhuma eficácia, por isso estão sendo desenvolvidos novos sistemas de armas e sensores para a tarefa.
JL – Pergunto também sobre a existência de uma profundidade mínima de segurança existente no torpedo Mark 46 para proteger o próprio navio lançador e também se ele tem algum tipo de programação que permita o uso secundário em uma emergência como arma antinavio.
Da mesma forma para fechar também li que mísseis que a MB usou como o Sea Cat e o atual Albatros tem capacidade secundária anti navio, pode dizer algo sobre isso.
O torpedo Mk.46 foi feito para combater alvos submarinos em águas profundas e tem dificuldade de engajar alvos em águas rasas. O Mk.50 que foi feito para substituí-lo e corrigir esse problema, ainda enfrenta problemas de desenvolvimento. Eles não têm função antinavio.
Os torpedos leves antissubmarino têm um tempo de corrida e profundidade mínima para começar o padrão de busca em espiral descendente alternando o sonar passivo/ativo para detectar o alvo. Os parâmetros são inseridos no torpedo antes do lançamento.
Quanto ao Seacat e o Albatros, o primeiro tinha uma capacidade antinavio de emergência, caso fosse necessário, porque a orientação do míssil era por rádio e linha de visada . Já o Albatros/Aspide é guiado por radar semi-ativo e é derivado do míssil ar-ar Sparrow. Segundo o fabricante, só pode ser usado contra alvos aéreos.