Revisão do Ocean no RU, após a baixa, será curta para não ficar cara demais para a MB
Londres admitiu, pela 1ª vez, que negocia o navio com o Brasil, mas imprensa inglesa diz que venda precisará de permissão dos EUA
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
Mesmo sem ter ainda concretizado a operação de compra do porta-helicópteros britânico HMS Ocean (L12) – o que só deve acontecer no primeiro trimestre de 2018 –, a Marinha do Brasil (MB) já começou a selecionar o contingente de militares – pouco mais de 200 – que seguirá para o Reino Unido (RU) a fim de receber o navio – oferecido (extraoficialmente) ao Brasil em março passado.
Nesse exame de nomes para a composição da primeira tripulação brasileira do porta-helicópteros, vem sendo dada preferência aos oficiais e subalternos já familiarizados com a operação de um navio-aeródromo (no caso, o porta-aviões São Paulo) ou com experiência em “navios grandes”.
O Ocean retornará da sua atual comissão a serviço da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no Mar Mediterrâneo – a última que ele cumpre arvorando pavilhão britânico –, às vésperas do Natal. Sua baixa está prevista para a manhã de 31 de março de 2018.
Nesse meio tempo o navio cederá parte dos seus tripulantes aos porta-aviões Queen Elizabeth (R08) e Prince of Walles (R09), e será esvaziado de uma série de equipamentos padrão Otan que os britânicos estão impedidos de transferir a qualquer marinha não integrante do Pacto do Atlântico.
Um comunicado oficial da MB distribuído esta semana informou que o navio deverá chegar ao Brasil em junho do ano que vem, o que deixa um tempo excessivamente curto para que ele seja inspecionado e revisado, e ainda testado pelos seus novos tripulantes brasileiros.
O Poder Naval foi apurar com suas fontes na MB qual é a explicação para um prazo de recebimento tão pequeno. E a resposta foi… economia de dinheiro!…
Na Marinha Real a embarcação é operada por 285 militares, mas a Marinha pretende mandar à Inglaterra pouco mais de 200 militares, entre tripulantes e especialistas em manutenção.
De acordo com o comunicado da MB, esse pessoal será submetido a um ciclo de cursos, em centros de instrução da Royal Navy, “visando a familiarização dos militares com o navio”.
O que o Poder Naval pôde determinar é que ainda é muito cedo para se dizer tudo o que precisará ser feito a bordo do porta-helicópteros, a fim de que ele seja considerado apto à travessia para o Brasil.
O Ocean precisa, inicialmente, ser submetido ao procedimento que a MB chama de “revisão de equipamentos e sistemas”, no Reino Unido.
O anunciado prazo de junho – na verdade, de final de junho – daria menos 90 dias para a execução de todas manutenções, treinamentos e verificações de desempenho do navio em mãos de brasileiros. Mas o Comando da MB estima que o custo de se manter tantos marinheiros no Reino Unido por mais de três meses seria demasiadamente elevado.
De qualquer forma, o Poder Naval apurou: a MB não descarta, devido à premência dos serviços técnicos que se revelarem necessários, estender um pouco a permanência do pessoal na Inglaterra. “Caso seja necessário, fica-se mais tempo por lá”, comentou com este jornalista um oficial da Marinha.
Depois disso, diz a Marinha, já nas instalações navais do Rio, e ao longo de um ano, o pessoal da Aviação Embarcada, dos Fuzileiros Navais e dos operadores de bordo farão viagens de exercício, “para adaptação à doutrina de operação”.
Tal informação confirma a previsão feita pelo Poder Naval, esta semana, de que, na Marinha Brasileira, o Ocean só poderá ser considerado plenamente operacional ali pelo ano de 2020.
Autorização — Na noite desta sexta-feira (09.12), a página eletrônica do diário inglês “The Plymouth Herald” noticiou que, pela primeira vez, o Ministério da Defesa Britânico admitiu estar negociando o porta-helicópteros com a Marinha do Brasil.
Em um artigo intitulado “MoD confirms it is in talks with Brazil over sale of Royal Navy flagship HMS Ocean” (“MoD confirma que está em negociações com o Brasil sobre a venda do navio capitânea da Royal Navy HMS Ocean”), o “Herald” reproduz o curto comunicado do MoD:
“HMS Ocean is currently being marketed and a number of disposal options are being considered, including the possibility of selling to another government; discussions with the Government of Brazil are ongoing but no decisions have been made” (“O HMS Ocean está atualmente sendo comercializado e uma série de opções disponíveis estão sendo consideradas, incluindo a possibilidade de vender para outro governo; discussões com o governo do Brasil estão em curso, mas não foram tomadas decisões”.
Informação interessante publicada pelo “Herald”: “authorisation from the US Government would also be sought” (“autorização do governo dos Estados Unidos também poderia ser solicitada”, para viabilizar a transferência do navio para o Brasil).
A oferta do Ocean é, para a MB, não menos que um achado.
Lançado ao mar a 11 de outubro de 1995 e incorporado à Royal Fleet em fevereiro de 1998, o navio passou, em 2014, por uma remodelação de 65 milhões de libras esterlinas (em números de hoje, cerca de 286 milhões de Reais).
Ele pode acomodar quase 1.300 pessoas e 40 veículos. E ainda sobra espaço a bordo para 18 helicópteros, incluindo modelos de ataque, de guerra antissubmarino e de transporte de fuzileiros navais.