Paraguai dá baixa em patrulheiros com 80 anos de uso (mas mantém um de 110 anos…)
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A Marinha do Paraguai está iniciando um lento processo de renovação.
A 15 de novembro último, uma quarta-feira, aconteceu a cerimônia de baixa – Ceremonia de Arriamiento Definitivo del Pabellón Nacional y Gallardete de Guerra – dos patrulheiros Tenente Fariña P-04 (que nas últimas duas décadas esteve atracado junto ao Palácio de Governo, em Assunção) e Nanawa P-02, ambos de 450 toneladas – os maiores navios da frota paraguaia, recebidos da Marinha Argentina em 1968.
Construídos no Estaleiro Río Santiago, nos arredores de Buenos Aires, eles foram lançados ao mar nos anos de 1938 e de 1936, respectivamente, e eram mantidos na ativa para servir a atividades de treinamento da marujada paraguaia.
Agora, segundo a página eletrônica da Armada desse país, passaram, definitivamente, ao estado de unidades desativadas, “por Baja Patrimonial del inventario de Bienes de la Armada”.
A solenidade transcorreu no Apostadero Sur do Comando da Frota de Guerra, no bairro Sajonia, presidida pelo Comandante da Armada, vice-almirante Paulo M. Gómez Benitez, e na presença de uma delegação da Missão Naval Argentina de Instrução no Paraguai.
BAL-C – Benitez tem sobre a mesa propostas de renovação dos meios da Armada apresentadas pelas indústrias navais da Espanha e da Itália, mas a primeira aquisição para a sua “Frota de Guerra” deve ser um navio de desembarque classe BAL-C (Buque de Apoyo Logístico y Cabotaje), de 49 m de comprimento e 600 toneladas de deslocamento, projetado e construído pela indústria naval colombiana Cotecmar.
A Armada da Colômbia encomendou seis dessas unidades (já recebeu quatro) e a Força Naval de Honduras uma, entregue há poucas semanas.
A única limitação mais importante dessa classe é a sua velocidade consideravelmente baixa, mas que os fabricantes afirmam ser “superior a 8,5 nós”.
Atualmente o principal navio da Armada Paraguaia é o navio-patrulha fluvial P-05 Itaipu, da classe brasileira Roraima.
No início do ano passado, os chefes navais paraguaios confidenciaram a representantes do escritório de consultoria espanhol Breogán Ingeniería, que a renovação de sua frota comportaria a compra de até 23 embarcações de vários tipos – inclusive um patrulheiro no patamar das 400/500 toneladas, com uma peça de artilharia de 40 mm ou 57 mm na proa e deck para helicópteros (mas sem hangar).
Sem muitas alternativas no momento (a prioridade do governo Cartes parece ser a aquisição de uma flotilha de turboélices de treinamento e ataque leve ao solo para a Força Aérea), o Comando Naval Paraguaio mantém na ativa o patrulheiro P-01 Capitán Cabral, antigo rebocador construído, em um longínquo ano de 1907, em Werf-Conrad, na cidade holandesa de Haarlem (20 km a oeste de Amsterdam), na desembocadura do rio Spaarne.
Guardacosta – Quase nada do velho rebocador auxiliar a vapor, que começou a operar em 1908 – e prestou serviços na construção do porto de Assunção e na Guerra do Chaco, sob o nome de Triunfo –, pode ser visto hoje.
A propulsão original do barco, que já havia sido melhorada em 1958, foi trocada, em 1980, por um motor a diesel modelo Caterpillar 3408, de 360 hp.
Os vistosos canhões Vickers, comprados à Inglaterra para artilhar o navio – depois que, a 15 de fevereiro de 1915, os paraguaios decidiram transformá-lo em “buque guardacosta” e aviso de guerra –, deram lugar a um Bofors de 40 mm/60.
A 30 de julho de 1930 o aviso Triunfo foi, enfim, rebatizado como “Capitán Cabral”, em homenagem ao capitão de fragata Remigio Cabral, veterano da Guerra do Paraguai (feito prisioneiro pelos argentinos) e falecido no fim do século 19.
Mesmo com a velocidade reduzida para 9 nós, o navio ainda cumpre jornadas importantes.
Seus 25 tripulantes – que em 2018 vão comemorar os 110 anos de operação do Capitán Cabral – são rotineiramente comissionados para levar o navio a simulações de guerra no Rio Paraguai (com as marinhas do Brasil e da Bolívia), e também para proporcionar ensinamentos de Náutica aos alunos do curso de oficiais de Marinha Mercante do país sul-americano.
Características do patrulheiro fluvial Capitán Cabral:
- Comprimento: 33,9 m
- Bôca máxima: 7,2 m
- Altura: 3,2 m
- Calado (máximo): 2,4 m
- Deslocamento (vazio): 190 toneladas
Tripulação: 01 oficial superior, 06 oficiais subalternos (terminologia paraguaia), 14 suboficiais e 04 conscritos
Armamento: 01 canhão Bofors de 40 mm (modelo antiaéreo), 02 metralhadoras antiaéreas Oerlikon de 20 mm e duas metralhadoras de 12,7 mm.