Feliz Natal! MB pode desistir de ‘reinventar a roda’, e ter uma corveta de projeto estrangeiro
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
Alguns dirão que a solução representa a perda da oportunidade de se prestigiar/impulsionar o setor de projetos de navios militares no país. E não estarão errados.
Outros vão lembrar: dificilmente um estaleiro estrangeiro fornecedor de embarcações de guerra de alta complexidade (e performance) transferirá à indústria naval brasileira os seus principais segredos construtivos. E, possivelmente, também não estarão dizendo bobagem.
Mas 2017 consolidou como marca da gestão do almirante de esquadra Eduardo Leal Ferreira à frente dos negócios da Marinha do Brasil (MB), o pragmatismo.
Se já será um parto arranjar 350 milhões de dólares para construir a corveta Tamandaré, de 2.790 toneladas, como contratar a reforma do porta-aviões São Paulo, de 50 anos atrás, por 1,6 bilhão?
Leal Ferreira desprogramou o navio.
Se a modernização do caça AF-1 (Skyhawk A-4KU) conduzida no país não significa mais do que operar de forma digital uma máquina de guerra antiquada, de comportamento analógico, porque insistir nesse projeto?
O Comandante da Marinha reduziu drasticamente a flotilha de caças Skyhawk – para 6 aeronaves –, transformando o Esquadrão Falcão, de aeronaves de interceptação e ataque, praticamente em uma unidade-escola.
E, nesse diapasão da praticidade, porque não aproveitar a oferta de um porta-helicópteros bom e barato, como o britânico HMS Ocean – recentemente oferecido ao Brasil –, para manter o elã de uma Aviação Naval despojada de seu navio-aeródromo? (Um barco que, ainda por cima, poderá liderar uma força naval expedicionária…)
Leal Ferreira está diligenciando no sentido de trazer o porta-helicópteros para o Brasil…
A questão de se aceitar um projeto estrangeiro para viabilizar o programa de quatro Corvetas Classe Tamandaré (CCT) não poderia fugir a esse ambiente de pragmatismo.
Consulta – Ainda no início desse ano, o Comandante da Marinha pediu a opinião de alguns oficiais do setor de Material de sua corporação, acerca da conveniência de a Força aceitar um projeto estrangeiro que, atendendo os requisitos básicos definidos pelo Centro de Projetos de Navios (CPN), pudesse ser aproveitado como paradigma da nova classe Tamandaré.
O que ele ouviu foi que os grandes fornecedores internacionais interessados em participar do projeto pressionavam para saber se poderiam apresentar um modelo próprio de embarcação, desvinculado do desenho feito pelo CPN.
Essas empresas alegavam, antes de tudo, que o valor unitário de 450 milhões de dólares para a Tamandaré produzida no Brasil (valor que circulou nos corredores da Marinha entre os anos de 2013 e 2016) parecia um claro exagero; e que o processo de fabricação da primeira CCT no Brasil seria forçosamente lento, devido ao completo despreparo da indústria naval brasileira para produzir um navio que, apesar de classificado como corveta, pode (e deve) ser considerado uma fragata multifunção de porte leve.
Em entrevista no início de agosto, o almirante Leal Ferreira reposicionou o custo de uma Tamandaré na faixa dos 350 milhões de dólares, mas os exemplos da disparidade de valores se mantêm impressionantes.
Os dinamarqueses, por exemplo, desenvolveram duas classes de fragatas de 6.000 toneladas (Absalom e Iver Huitfeldt) construídas a um custo unitário entre 270 e 330 milhões de dólares.*
A China oferece uma fragata de 2.500 toneladas para Defesa Aérea e interdição de área marítima (derivada dos navios Tipo 053H3) por menos de 180 milhões de dólares.
E a indústria naval turca, que também se mostrou interessada no programa das CCT, oferece (ao governo de Ancara) sua corveta MILGEM classe Ada, de 2.400 toneladas, por não mais que 250 milhões de dólares.
Diante dessas circunstâncias, os oficiais solicitados a opinar sobre um incremento da participação estrangeira no programa dos navios Tamandaré não consideraram esse caminho ruim – desde que ele represente uma real economia para a MB.
Uma economia de dinheiro e de tempo, bem entendido.
Prazos – Deixar que o estaleiro vencedor da concorrência no programa das CCT forneça a primeira unidade totalmente construída no exterior, sob a assistência (atenta) de especialistas da MB, significa apressar a entrada em operação do primeiro navio – e, possivelmente, ter todos os barcos Tamandaré prontos e operacionais até o ano de 2029.
Em termos práticos, o que a MB quer saber é se algum desses estaleiros estrangeiros consegue oferecer uma embarcação de projeto atualizado, que privilegie as técnicas de furtividade, contemple dois sistemas de mísseis e boa capacidade de sobrevivência em combate, a um custo na faixa dos 300 milhões de dólares (se possível, um pouco menos do que isso).
Hoje, nesse patamar financeiro, existem alguns modelos bem conhecidos da Marinha do Brasil, como a classe sul-africana Valour Meko 200A, (que já esteve, ou está ainda, no imaginário dos chefes navais argentinos).
O navio de tecnologia alemã, de 107,3 m de comprimento e 3.700 toneladas de deslocamento, tem o seu custo estimado em 327 milhões de dólares.
Mas, não há dúvida, o fato de o grupo italiano Fincantieri ter um estaleiro em Pernambuco o deixa entre os favoritos para a competição brasileira.
*Esse é o valor só do navio com propulsão básica, sem sensores ou armas.