Porta-helicópteros ‘Ocean’ virá para a MB com o mesmo sistema anti-poluição marítima dos NAes Queen Elizabeth
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
Entre os muitos sistemas navais de última geração embarcados no porta-helicópteros britânico de assalto anfíbio Ocean (L12), que está sendo comprado pela Marinha do Brasil (MB), existem aqueles que, mesmo fora do rol dos armamentos, dos sensores e dos equipamentos da Aviação Embarcada, representam um avanço inédito para a Força Naval Brasileira.
Um desses é o MBR (Membrane Bio-Reactor) – sigla de Membrana Bio-Reativa –, sistema de tratamento sanitário desenvolvido pela empresa Hamworthy Water Systems para processar águas residuais e esgoto (água preta e cinza, lavanderia, pia e lixo) que circulam a bordo.
O MBR deixa o Ocean em plena conformidade com as exigências anti-poluição da International Maritime Organization e, em especial, com o Anexo IV, de “Regulação para a Prevenção de Poluição (Marinha) por Esgoto”, da MARPOL (acrônimo de marine pollution), a “Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios” aprovada nos anos de 1973 e 1978.
O novo sistema foi instalado no Ocean, há pouco mais de quatro anos, pela Babcock Warship Support, de Devonport (sul da Inglaterra) – onde fica a base do navio –, e seu funcionamento foi tão eficaz que a Marinha Real acabou adaptando a ideia do MBR para algumas das suas unidades capitais: os dois porta-aviões classe Queen Elizabeth e os navios de assalto anfíbio Albion e Bulwark.
Corte no casco – O advento do MBR envolveu o desenvolvimento e instalação, a bordo do porta-helicópteros, de componentes modulares customizados, a fabricação de tanques (reservatórios) sob medida e a inserção de tubulações de revestimento interno especial – tudo alojado entre os conveses 7 e 9 da embarcação.
A modificação no Ocean – um navio de 1998 – exigiu um corte no casco para a criação de uma abertura de 2,5 m². Foi ela que possibilitou a introdução de equipamentos e a realização de diferentes serviços – inclusive o da extração de três usinas de tratamento de esgoto situadas na proa, a meia nau e na popa.
Também foi criado um compartimento – denominado “sala auxiliar intermediária” – destinado a acomodar a central do MBR.
O equipamento registra e controla a drenagem de líquidos inservíveis e de cloacas, que precisam ser submetidos a diferentes mecanismos de filtragem, separação e tratamento químico – antes de serem despejados na água do mar.
O trabalho de instalação do novo sistema consumiu mais de 3 km de tubulações destinados à remoção ou redirecionamento de fluidos, e mais de 1,5 km de condutos projetados especificamente em função do MBR, além de 3,7 km de novos cabos usados para isolar, conectar e proteger os diferentes componentes do sistema.
O projeto para o Ocean incluiu a fabricação de tanques de retenção, de coleta e de bombeamento alojados à vante e na popa, além de bombas de transferência, membranas de filtragem e separadores de graxa e outras substâncias integradas ao sistema MBR – tudo controlado por células de monitoramento. Resultado: quase todos os compartimentos do navio participam, de alguma forma, do funcionamento contínuo do MBR.
A modelagem 3D em computador facilitou a acomodação do novo sistema, e permitiu que ele fosse testado e aprovado com sucesso.
Preservação – A MARPOL 73/78 é uma das mais importantes convenções ambientais internacionais, e no fim de 2005 já havia sido adotada por 136 países, que representavam 98% da tonelagem mundial de navegação.
Ela foi criada com o intuito de minimizar a poluição dos mares, incluindo dumping de óleo e poluição por escapamento de gases. Seu objeto declarado: preservar o meio marinho, por meio da completa eliminação de hidrocarbonetos e outras substâncias nocivas, além da minimização da descarga acidental de tais elementos.
O Anexo IV, da “Regulação para Prevenção de Poluição por Esgoto” entrou em vigor a 27de setembro de 2003.