F40 aos Quarenta – quarta parte
Por Fernando “Nunão” De Martini e Alexandre Galante (adaptação e atualização da matéria publicada na revista Forças de Defesa número 5, em 2012)
Os sistemas e equipamentos escolhidos
É preciso voltar um pouco no tempo para se entender a seleção dos equipamentos. Desde a época em que se começou a estudar especificações para uma nova fragata, alguns sistemas e marcas estavam na mente dos que faziam esse trabalho. Na sua proposta que respondia às especificações resultantes desses estudos, a Vosper listou equipamentos buscando não só atendê-las, como também manter controlados os riscos de desenvolvimento. Vários deles eram versões de outros já empregados nas Tipo 21.
Após a vitória da proposta da Vosper, esta e a Marinha estudaram a configuração final do navio. Com a assinatura do contrato, uma equipe foi mandada ao Brasil em janeiro de 1971, para a definição conjunta da lista detalhada e final. Para a Vosper, a relativa escassez de equipamentos britânicos adequados era um motivo de decepção, como foi revelado décadas depois, e alguns fornecedores ingleses tinham praticamente o monopólio em seus setores. Mas, por outro lado, havia a exigência de 2/3 de conteúdo britânico para garantir as condições do financiamento. Como veremos a seguir, em certos casos essa exigência aparentemente fez pender a balança para equipamentos ingleses que, mesmo cumprindo as especificações e oferecendo menor risco de integração (o que significava ofertas com preço mais firme e desempenho previsível), podiam não trazer alguma vantagem desejada frente a sistemas de outros fornecedores.
Propulsão
Os estudos que levaram às especificações da nova fragata estabeleciam uma autonomia suficiente para atravessar o Atlântico e chegar à África, algo como 4.500 milhas marítimas, em velocidade econômica de cruzeiro. Essa velocidade seria de 18 nós, suficiente para fazer zigue-zagues em cobertura a comboios que avançassem a 12 nós. A velocidade máxima mantida deveria ficar entre 28 e 30 nós. Já um material da Vosper fala em especificações ainda mais exigentes: 23 nós em cruzeiro e 32 nós de velocidade máxima. Para atender a essas especificações, a proposta da Vosper era um sistema CODOG, como já foi citado, em que motores diesel são usados para velocidade de cruzeiro, dando lugar a turbinas a gás para a velocidade máxima – vale esclarecer que turbina a gás é um termo utilizado para designar, em geral, motores a jato aeroderivados, adaptados para uso na propulsão naval, e que o “gás” em questão é o fluido que move a turbina: o gás resultante da combustão do óleo combustível, que também alimenta os motores a pistão de ciclo diesel.
Vale lembrar que a Tipo 21, que serviu de base para a Mk.10, usava propulsão COGOG, com turbinas a gás menos potentes para velocidade de cruzeiro, um sistema menos complexo para a transição de máquinas do que o CODOG, embora o consumo em cruzeiro fosse maior do que neste último.
Na segunda metade da década de 1960, ainda estava sendo aperfeiçoado o sistema que fazia a transição de uma máquina (diesel, de relativamente baixa rotação) para a outra (turbina, de alta rotação, que usa engrenagens redutoras para acoplar ao eixo do hélice, que gira em rotação mais baixa), ou seja, desacoplar uma para acoplar outra às engrenagens ligadas aos eixos, com o navio em movimento. O Sistemas de embreagem usados até então eram sujeitos a elevado desgaste, mas felizmente havia uma nova solução para o problema da transição: a invenção inglesa das embreagens autossincronizadas SSS (“Self Synchronizing Shift”), que vinham sendo desenvolvidas e se tornaram uma tecnologia mais madura bem a tempo de serem incorporadas ao projeto da Mk.10.
Na seleção dos motores diesel, buscou-se adquirir unidades que já existissem no parque nacional de locomotivas. Mas, nas palavras de Coelho de Sousa, esse parque era um “jardim zoológico”: muitas espécies, mas poucos exemplares de cada uma. Foram escolhidos então motores de uma família que deveria ser adquirida também para as locomotivas da Vale do Rio Doce, a fim de gerar escala e facilitar a manutenção no Brasil. Mas, no fim das contas, a empresa não adquiriu os modelos escolhidos para as fragatas: MTU 956 de 16 cilindros, com 3.940hp. Cada navio seria equipado com quatro motores (dois por eixo, lado a lado), totalizando mais de 15.000hp, e mais quatro da versão de 8 cilindros para a geração de eletricidade.
Mesmo sem a encomenda da Vale, só os motores das fragatas (para propulsão e geração) somavam 48 unidades: bem mais do que muitos exemplares de “zoológico”, representando uma escala razoável. O uso de dois motores por eixo permitia que essas máquinas operassem nas suas faixas de melhor rendimento. Em geral, os planos eram acionar um em cada eixo para velocidade econômica de patrulha visando alcance máximo, e dois por eixo para velocidades de cruzeiro mais elevadas, com alcance um pouco menor. Para mais de 22 nós, acionavam-se as turbinas, desacoplando os motores diesel.
A Vosper ofereceu também a turbina aeroderivada modelo Olympus 611, de 28.000shp, adaptada do motor usado no jato supersônico Concorde. Essa turbina estava em fase final de testes de aceitação pela Royal Navy para equipar tanto as fragatas Tipo 21 que a Vosper projetou, quanto destróieres Tipo 42 e navios-aeródromo da classe “Invincible”. A outra turbina cogitada foi a LM 2500, que a USN pensava em instalar nos seus novos contratorpedeiros da classe “Spruance”, e que oferecia um consumo específico menor. A turbina selecionada foi a Olympus, o que foi justificado pelo seu estágio mais avançado de desenvolvimento, com riscos de integração menores, mas também porque atendia à “cota” exigida de conteúdo britânico.
Sistema de combate
Quanto ao sistema de combate, sensores e armamentos, a Marinha finalmente tinha perdido o “complexo de cobaia” e selecionou vários equipamentos no chamado “estado da arte” (o mais moderno disponível), embora também buscasse um apropriado viés pelo “estado da arte comprovado” (o mais moderno já em uso). Material institucional da Vosper, citando o processo de escolha duas décadas depois, destacou que “havia poucos equipamentos de projeto totalmente novo a bordo, se é que havia algum. Mas praticamente todos os principais itens representavam um avanço significativo sobre seus predecessores. Como resultado, quando a primeira fragata foi entregue, era no mínimo tão avançada e capaz quanto qualquer navio de guerra de seu porte no mundo.”
O sistema digital de processamento de dados táticos e direção de tiro refletia essas escolhas. A Vosper ofereceu o CAAIS (Computer Assisted Action Information System) da Ferranti inglesa, que também estava equipando as fragatas Tipo 21, o que diminuía ao mínimo os riscos de desenvolvimento, apesar da variante ser mais avançada, capaz de lidar com muito mais armamento. Vale a pena fazer um parêntesis sobre como era encarado pela Vosper esse salto em armamento, em relação à Tipo 21. Os britânicos destacaram a insistência brasileira em que os navios tivessem uma ótima capacidade antissubmarino, o que resultou numa fragata de relativamente grande porte para a época, e praticamente lotada de armamentos para a missão (além de armas para outras missões, como veremos). Questionado sobre essa insistência, um almirante brasileiro teria respondido numa reunião: “Ouvimos diversos argumentos de muitos homens bastante conhecedores do assunto, cada um explicando porque essa ou aquela arma era a melhor. Não sabemos quais deles estão certos. Assim, decidimos ter todas!”
Também foram analisadas propostas de sistemas de combate da Signaal holandesa, apoiada pela Philips do Brasil, e da Elsag italiana, mas a escolha foi pelo CAAIS, nucleado em três computadores digitais Ferranti FM1600B, os mais modernos na época. Um computador estava a cargo do processamento de dados táticos (CAAIS 400), outro da direção das armas de vante (WSA 401) e o terceiro com a direção de tiro das armas de ré (WSA 402). Quando a fragata Niterói chegou ao Brasil em 1977, a Marinha foi a primeira instituição a operar um sistema de computação em tempo real no País.
Armamentos
O canhão de médio calibre de duplo emprego (antiaéreo e de superfície) escolhido, entre opções que incluíam canhões da Suécia, França e Estados Unidos, foi o inglês Vickers Mk.8 de 4,5 polegadas (114,3mm). Como o custo de canhões corresponde a uma parcela significativa do armamento, o valor de sua aquisição também contribuiu para o conteúdo britânico de 2/3, que garantia as condições favoráveis de financiamento.
Foi especificado que as fragatas teriam um míssil portador de torpedos antissubmarino. Descartado o ASROC norte-americano, não liberado ainda na época da “Bronstein”, foi escolhido o míssil australiano Ikara, considerado até superior ao ASROC, embora mais complexo. O míssil também estava sendo escolhido pela Marinha Real britânica, embora o sistema brasileiro (Branik – Brazilian Ikara) fosse mais leve e menos caro que o sistema inglês totalmente automatizado.
Vale fazer aqui uma nota curiosa: um desses sistemas pode ser considerado o único “dano em combate” sofrido até o momento por uma Mk.10. Isso porque um navio mercante a caminho do Brasil encontrou uma tempestade no Pacífico Sul, que varreu do convés alguns contêineres. Um deles trazia um conjunto Ikara completo, destinado ao AMRJ. Os contêineres boiaram durante alguns dias, mas acabaram sendo afundados a tiros de canhão pela Marinha da Nova Zelândia, por representarem perigo à navegação.
A capacidade ASW do navio também contava com um helicóptero orgânico antissubmarino e dois lançadores triplos Mk.32 para torpedos Mk.44 (mais tarde o Mk.46). A aquisição do helicóptero, em que foi escolhido o inglês Westland Lynx, era um processo separado e não entrava na “cota” de equipamentos britânicos das fragatas. Ainda assim, também contou com financiamento favorável garantido pelo ECGD.
A suíte de armamentos ASW era complementada por um sistema sueco, o BOROC, que lançava granadas antissubmarino de 375mm propelidas a foguete. As granadas explodiam por contato ou depois de atingida certa profundidade. O armamento, desenvolvido pela Bofors, estava em estudo para adoção pela Marinha Sueca e, mais tarde, foi adotado por diversas marinhas.
Ao longo do processo de definição dos armamentos, e apesar de todo o viés antissubmarino dos estudos realizados desde a década de 1960, o almirantado passou a se mostrar menos confortável com a obtenção de fragatas de emprego exclusivamente ASW. O Estado Maior da Armada decidiu, então, que deveria haver uma versão com maior capacidade de combate de superfície, que se tornou a de emprego geral (EG). Duas das seis fragatas foram completadas como EG, e as duas grandes diferenças eram a substituição do lançador de Ikara na popa por um segundo canhão Mk.8, e a instalação de mísseis antinavio à vante do mastro do radar. O Exocet MM38, em fase final de desenvolvimento e aprovação pela Marinha Francesa, foi o míssil escolhido, apesar da Oto Melara italiana ter tentado, sem sucesso, promover seu míssil Otomat.
Quanto ao armamento antiaéreo, a Marinha foi um pouco mais conservadora, buscando apenas sistemas de defesa de ponto e menos representativos do “estado da arte”, apesar de comprovados operacionalmente. A ameaça aérea no final dos anos 1960 (ao menos para a área de atuação esperada da Marinha do Brasil) não era tão aguda quanto hoje, e mísseis antinavio, embora especificados para as fragatas, só haviam feito uma aparição bem-sucedida (o afundamento do contratorpedeiro israelense Eilat em 1967 por um míssil russo Styx). Assim, a Marinha decidiu equipar as fragatas com um míssil antiaéreo de defesa de ponto, o britânico Seacat, que à época era o padrão de fragatas da Marinha Real como as classes “Leander” e “Amazon”/Tipo 21 (o Sea Wolf, bem mais avançado para defesa de ponto e que prometia capacidade antimíssil, ainda estava em desenvolvimento). Foi adotada a versão GWS-24, similar à usada nas fragatas Tipo 21, porém usando dois lançadores leves triplos, ao invés de um quádruplo.
A decisão pelo Seacat foi influenciada pelo fato de a Marinha já conhecer seu uso, pois um exemplar da versão GWS-20 equipava o contratorpedeiro Mariz e Barros, instalado em reforma que esse “classe M” recebeu em meados dos anos 60. Como armamento de tubo de defesa antiaérea, as fragatas foram equipadas com dois canhões Bofors de 40mm L70, um de cada lado do passadiço. Esses canhões haviam recentemente sido adotados nos navios varredores da classe “Aratu”, em construção na Alemanha. Os seis “Aratu” faziam parte do mesmo Programa Naval das fragatas, que também incluía três submarinos classe “Oberon” encomendados à Inglaterra e algumas outras embarcações.
Radares e sonares
A proposta da Vosper incorporava o radar britânico Plessey AWS-2 da banda S (como eram denominadas as bandas E e F). AW significava Air Warning e S a banda. Era um equipamento que atendia às pretensões da Marinha por um radar de busca combinada, ou seja, que detectasse alvos na superfície e no ar. Foi analisado também o radar holandês LW03 da banda L (banda D atual), que tinha uma antena mais leve, mas a escolha pendeu para o radar da Plessey, o que também atendia à cota de equipamentos britânicos. Apesar de a própria Vosper ter sugerido o AWS-2, o peso de sua antena era motivo de preocupação e tornou necessário adicionar algum lastro extra aos navios, compensando esse peso a mais instalado em posição elevada.
Foi aceita a proposta da Vosper que incluía dois radares de direção de tiro italianos RTN-10X da banda X (atual banda I), e que já eram integrados às Tipo 21. O radar de navegação escolhido foi o holandês ZW06 da Signaal, que estava sendo nacionalizado pela Philips do Brasil. Como o ZW06 também equiparia os navios varredores da classe “Aratu”, buscava-se padronização e aumento da escala.
Quanto a sonares, há fontes que indicam que a Vosper propôs um modelo inglês da Marconi, que seria instalado nas fragatas Type 21. Outras indicam que esse equipamento já era considerado ultrapassado, havendo uma oferta da Plessey de seu novo sonar de casco MS32, com tecnologia de estado sólido ao invés de válvulas. Porém, a Plessey não oferecia um sonar de profundidade variável, o que era uma especificação da Marinha do Brasil. No fim das contas, foi selecionada uma proposta da norte-americana EDO Corporation, empresa que havia participado do desenvolvimento do SQS-26, já mencionado em parte anterior desta série. O sonar de casco 610E, que equipou as seis fragatas, e o de profundidade variável 700E, que equipou dois dos quatro navios da variante antissubmarino, eram novos projetos cujo desenvolvimento visou especialmente a Marinha do Brasil. Estavam entre os sistemas mais avançados a entrar na cota de 1/3 de equipamentos não britânicos.
Rio de Janeiro, doze de setembro de 1980: nesse dia foi incorporada a última das seis fragatas, a União (F45), após passar pelas fases de provas de mar e de tiro. A partir daí, a Marinha do Brasil passava a contar com seis fragatas novas, construídas segundo suas especificações e com características que as colocavam entre as mais avançadas do mundo. Isso era um ponto de virada em relação às décadas anteriores, marcadas pelo recebimento de navios usados e não representativos do “estado da arte”. As características gerais desses seis navios eram as seguintes (armas e sistemas já foram mostrados):
- Comprimento x boca x calado (em metros): 129,2 x 13,5 x 5,9 (com domo do sonar)
- Deslocamento: 3.800 t (carregada)
- Velocidade máxima: 30 nós (com turbinas)
- Velocidade máxima de cruzeiro: 22 nós (com 4 motores diesel)
- Velocidade econômica: 17 nós (com 2 motores diesel)
- Raio de ação: 5.300 milhas náuticas a 17 nós
- Autonomia: 45 dias
- Tripulação: 209 (sendo 22 oficiais)
- Hangar e convoo à popa para operação de helicópteros do porte do Westland Lynx.
Um destaque à época da incorporação da última fragata foi o acompanhamento da integração de seus sistemas de armas por empresas e organizações brasileiras: a COBRA – Computadores e Sistemas Brasileiros S.A., a Engenharia de Sistemas de Controle e Automação S.A. e a Subsecretaria de Atividades Estratégicas da Secretaria Especial de Informática. O objetivo era capacitá-las para futuras integrações e manutenções desses sistemas.
Esse e outros processos de capacitação (como mostrado na parte sobre a fase de acabamento) são mais alguns exemplos do salto tecnológico de décadas que a classe representou em relação ao material flutuante então existente no Brasil: a classe “Niterói” foi a primeira da Marinha a ser equipada com computadores digitais táticos, turbinas a gás aeroderivadas, mísseis antinavio e mísseis antissubmarino, entre outros avanços. As fragatas tinham um porte igual ou superior às que eram operadas por outras marinhas, proporcionando espaço e reserva de estabilidade para uma quantidade e variedade de armamentos modernos que chamou a atenção à época, assim como uma melhor margem para futuras modernizações do que seria o caso de navios de menor porte.
Essa nova geração de armamentos e sistemas de direção de tiro também proporcionaram maior poder de combate, redução de peso e tamanho, com mais confiabilidade. O uso de mísseis antinavio, que não necessitavam de um sistema de controle sofisticado e dispendioso, era uma solução que dava aos navios de combate de superfície a capacidade de transportar um poder de fogo que, no passado, exigiria um casco bem maior. O helicóptero também passou, a partir do emprego do Lynx na classe “Niterói”, a ser considerado mais um sistema de armas integrado, e não apenas uma aeronave embarcada (mas vale esclarecer que os helicópteros são subordinados a esquadrões da Força Aeronaval, sendo designados para os navios, quando então tornam-se “orgânicos” dos mesmos durante as missões. Quando estas terminam, o helicóptero volta ao seu esquadrão).
É claro, há defeitos também a ressaltar, em boa parte derivados de outros conceitos de projeto da época em que nasceram e que não são passíveis de solução por modernizações. A superestrutura em alumínio, que economiza peso acima da linha d’água (favorecendo a estabilidade e compensando o peso de armas e sensores), é menos resistente a incêndios do que o aço, como foi mostrado em navios britânicos afundados na Guerra das Malvinas (1982) que empregavam o mesmo conceito. Mais de 140km de cabos elétricos, espalhados em cada navio, também não têm a mesma resistência ao fogo do que os atuais, e trocá-los seria um pesadelo econômico e técnico. Há outros, mas em geral as qualidades do projeto e dos sistemas embarcados compensam por boa margem os problemas.
O projeto das fragatas classe “Niterói” mostrou-se particularmente feliz, a tal ponto que ainda hoje, mais de 40 anos depois da incorporação do navio que dá nome à classe, suas soluções de design e de hidrodinâmica são referência para projetos atuais. O porte das fragatas, além de conferir boas características marinheiras, tornou mais fácil absorverem uma modernização razoavelmente extensa na virada da década de 1990 para 2000, o programa MODFRAG, que será abordado em outra parte desta série.
O MODFRAG conferiu uma capacidade de combate adequada aos novos cenários do início do século XXI, bem diferentes daqueles vislumbrados no final da década de 1960. As fragatas continuam sendo a espinha dorsal da força de escoltas da Marinha. O que preocupa, porém, é que o tempo é implacável e substitutas à altura não deveriam estar apenas nos planos, neste momento em que já estamos às vésperas da década de 2020, quando a incorporação das últimas da classe também completará 40 anos. As substitutas deveriam, isto sim, já estar com suas quilhas batidas e em plena construção.
Rio de Janeiro, vinte de dezembro de 2002: na carreira maior do AMRJ, era lançada a corveta Barroso, a última escolta construída pelo Arsenal, após um longo período de construção na carreira 1 do AMRJ, devido às inconstâncias orçamentárias. A corveta passou, em seguida, por vários anos aguardando verbas para a fase de acabamento junto ao cais, para instalação de armas, sensores e outros sistemas, o que só terminou em agosto de 2008, quando foi incorporada. No momento em que publicamos a versão atualizada desta matéria original de 2012, faltam poucos meses para que sua incorporação complete 10 anos e, desde então, nenhuma outra quilha de navio desse porte e emprego foi batida pela Marinha. Aguarda-se, ansiosamente, as próximas fases do programa da classe Tamandaré, cuja seleção de estaleiro estrangeiro a realizar parceria com outro nacional, para a construção de 4 corvetas, está programada para o último trimestre deste ano de 2018.
É como se, numa jornada com vários altos e baixos que se seguiu a outra jornada similar, da época da Segunda Guerra Mundial, uma grande quilha tivesse sido batida em junho de 1972 e finalmente incorporada em agosto de 2008. Depois disso, nada de relevante ocorreu na renovação dos navios escolta da Marinha, e nenhuma nova quilha do porte de corveta ou fragata foi batida. Pelo contrário, cada vez mais navios de escolta estão sendo desincorporados.
Nos trinta e seis anos que separam este último marco daquele iniciado pela primeira Mk.10, em 1972, houve construções e lançamentos, projetos e incorporações, entusiasmo e decepção, conquistas e derrotas, vitórias e retiradas para reorganizar e tentar lutar novas batalhas. Sobre esse tempo, há muitas questões a formular e respostas a pesquisar. Muito aconteceu e a parte inicial dessa história foi contada aqui. O resto, você vai continuar conhecendo em novas matérias do Poder Naval / Forças de Defesa.
Fontes consultadas:
Não cabe, numa série de escopo não acadêmico, a citação das dezenas de livros, artigos e documentos consultados em arquivos pessoais e oficiais para sua execução, mas destacamos as fontes abaixo, pela sua importância:
- BITTENCOURT, Júlio Regis. Memórias de um engenheiro naval: uma vida, uma história. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2005.
- CÂMARA, Eduardo Gomes. A construção Naval militar brasileira no século XX. Rio de Janeiro: edição do autor, 2011.
- FRIEDMAN, Norman. U.S. Destroyers: an illustrated design study. Annapolis: Naval Institute Press, 1982.
- FRIEDMAN, Norman. British destroyers & frigates: the second war and later. Yorkshire: Seaforth, 2006.
- SOUSA, José Carlos Coelho de. Uma história das fragatas: depoimento pessoal. Rio de Janeiro: Clube Naval Editora, 2001.
Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha – DPHDM: documentos e fotos. - Entrevistas com os vice-almirantes (engenheiros navais) reformados: José Carlos Coelho de Sousa, Armando de Senna Bittencourt e Elcio de Sá Freitas.
- Jane’s Fighting Ships – vários números
- Revista Marítima Brasileira – diversos números
Agradecimentos: para a realização desta matéria e da entrevista a seguir, foi fundamental o auxílio dos já citados vice-almirantes Coelho de Sousa, Bittencourt e Freitas, além da servidora civil da DPHDM Marcia Prestes Taft e do engenheiro naval Eduardo Gomes Câmara.
NO PRÓXIMO POST DA SÉRIE: Entrevista com o oficial que conduziu o processo de concepção até a aquisição das fragatas classe Niterói: vice-almirante (Ref. EN) José Carlos Coelho de Sousa
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