Submarinos classe ‘Alfa’ devem voltar a ser construídos
O submarino de ataque ‘Alfa’ estava à frente de seu tempo e deve retornar ao serviço, desta vez mais automatizado
A União Soviética iniciou a Guerra Fria bem atrás dos Estados Unidos em tecnologia submarina.
Embora os soviéticos tenham capturado vários tipos de submarinos alemães mais avançados no final da Segunda Guerra, os Estados Unidos haviam acumulado uma grande experiência na prática submarina e antissubmarina da Guerra do Pacífico e da Batalha do Atlântico.
Combinado com outras vantagens tecnológicas, os Estados Unidos avançaram para uma liderança significativa em tecnologia submarina (especialmente submarinos nucleares) nas duas primeiras décadas da Guerra Fria.
Em particular, os primeiros submarinos nucleares soviéticos tiveram dificuldade em competir com o Ocidente em furtividade e confiabilidade. Após os primeiros projetos, os soviéticos decidiram empreender uma combinação de força bruta e de alta tecnologia extremamente arriscada.
A parte da força bruta significava construir um submarino que pudesse se mover mais rápido e mergulhar mais do que qualquer homólogo ocidental. A peça de alta tecnologia significava um projeto inovador do casco, um novo tipo de reator e a manipulação de novos materiais.
O resultado foi o Project 705 Lyra (designado como Alfa na OTAN), um submarino que o Ocidente considerava uma grande ameaça ao seu domínio submarino.
Começo
Com a classe Lyra, os soviéticos procuraram alcançar dois objetivos. Primeiro, eles queriam produzir uma arma capaz de mudar o caráter da guerra naval no Atlântico Norte e no Ártico, uma arma que poderia ameaçar as vantagens de superfície esmagadoras das marinhas da OTAN.
Ao contrário de suas contrapartes ocidentais, que preferiam as plataformas multifunção, os soviéticos preferiam submarinos dedicados a uma única missão – a “interceptação” de alta velocidade das forças de superfície da OTAN, especialmente grupos de batalha de porta-aviões.
Em segundo lugar, eles queriam impulsionar o desenvolvimento tecnológico, produzindo inovações que futuros submarinos incorporariam, mesmo que de forma fragmentada. Um terceiro objetivo incidental era forçar as marinhas da OTAN a gastar dinheiro e tempo adaptando-se à ameaça que os Lyras apresentariam.
Apesar disso, em muitos aspectos, a classe Alfa impulsionou a ciência dos materiais, a tecnologia de energia nuclear e a automação além dos seus próprios limites. Eles poderiam ultrapassar torpedos em velocidade e atingir grandes profundidades a quase 50 milhas por hora. Uma vez que eles encontrassem um submarino inimigo, sua alta manobrabilidade e velocidade significavam que a presa teria dificuldade em libertar-se de um Alfa.
Os sete submarinos originais, que foram construídos entre meados da década de 1970 e início da década de 1980 e servindo até a década de 1990, eram altamente automatizados para a época, levando uma tripulação de apenas 31 a 35 homens e nenhum tripulante subalterno. Em comparação, um submarino de ataque da classe de Los Angeles tem uma tripulação quase quatro vezes maior.
Seguindo um projeto anterior (o submarino de mísseis de cruzeiro classe “Papa” K-162), os Lyras possuíam um casco de titânio para produzir tolerâncias necessárias para alta velocidade e mergulho profundo extremo.
Para manter o tamanho da tripulação pequena, a classe Lyra empregou técnicas avançadas para automatizar sistemas chave, uma decisão que também aumentou a velocidade de reação de combate da tripulação, embora tenha tornado as tarefas de reparos e manutenção extremamente difíceis.
Para atingir a alta velocidade, o Alfas usou um projeto de reator com um refrigerante baseado em liga de chumbo e bismuto incrivelmente inovador. Isso permitiu uma tremenda quantidade de energia em um espaço compacto. No entanto, também criou grandes problemas de manutenção, poucos dos quais poderiam ser resolvidos pela pequena tripulação no mar.
Na verdade, mesmo no porto, a Marinha Soviética teve dificuldades para manter os Alfas continuamente em serviço.
Atuação
Os Lyras tinham uma performance que nenhuma classe de submarino alcançava (além do “Papa” SSGN) antes ou depois. Submersos, podiam viajar a 41 nós (e podiam alcançar essa velocidade com um surpreendente grau de aceleração). Eles podiam mergulhar a pelo menos 2.200 pés (671 metros), muito mais profundo do que qualquer submarino da OTAN da época, ou hoje.
A velocidade e a profundidade de mergulho do Alfa permitiam que ele evitasse a maioria dos torpedos contemporâneos da OTAN. Também por causa de seu tamanho pequeno, os Alfas carregavam um arsenal de armas menor do que a maioria dos outros submarinos soviéticos – uma mistura de 18 a 21 torpedos e mísseis de cruzeiro.
No entanto, este arsenal poderia causar estragos em um grupo-tarefa da OTAN sem os meios para responder efetivamente.
Os Alfas não eram particularmente silenciosos, especialmente quando se aproximavam em alta velocidade. No entanto, sua capacidade de mergulhar profundamente deu-lhes algumas habilidades secretas, dependendo das condições oceânicas. Mais importante ainda, eles podeiam ultrapassar e dominar a maioria das armas existentes da OTAN, tornando-os muito difíceis de rastrear e acertar.
Reação
Tal como aconteceu com o interceptador MiG-25 e outras “super-armas” soviéticas, a OTAN tomou muito a sério a ameaça do submarino classe Alfa.
A Marinha dos EUA e a Royal Navy embarcaram em programas para desenvolver sensores que poderiam detectar os Alfas e armas que poderiam destruí-los.
Este esforço resultou em algumas armas, incluindo o torpedo Mark 48 ADCAP, que pode se deslocar a 60 nós, por curtos períodos. A Royal Navy desenvolveu um torpedo semelhante, denominado Spearfish. Os Estados Unidos também buscaram desenvolver um sistema de míssil supersônico lançado de submarino chamado “Sea Lance”, projetado para entregar um torpedo a distâncias de até 100 milhas.
Os Estados Unidos cancelaram o programa Sea Lance no final da Guerra Fria, aproximadamente ao mesmo tempo em que a classe Lyra deixou o serviço.
Problemas
A URSS pagou um preço muito alto pela alta performance dos Alfa.
Apelidados de “peixe dourado”, os Alfas consumiram até mesmo o enorme orçamento soviético de construção de submarinos. Além disso, geralmente eles não eram muito confiáveis em serviço, exigindo uma manutenção cara e complexa. As bases soviéticas muitas vezes não possuíam o treinamento e o equipamento necessários para manter os Lyras em condições de trabalho.
Em contraste com a maioria dos outros projetos submarinos da Guerra Fria, a URSS construiu apenas sete Lyras, um dos quais era mais um protótipo do que uma arma utilizável. Este primeiro submarino foi desativado em 1974, depois de demonstrar a prova de conceito.
No final da Guerra Fria, a Federação Russa lutou para manter o enorme sistema de defesa da União Soviética. Navios ultra-caros como os Lyras simplesmente não sobreviveram aos cortes; eles não podiam realizar missões críticas suficientes para justificar sua manutenção.
Conseqüentemente, a Federação Russa retirou os Alfas rapidamente após o fim da Guerra Fria. Em meados da década de 1990, todos os submarinos estavam aposentados e enviados para o desmantelamento.
Legado
No entanto, os soviéticos aprenderam muito com a experiência dos Lyra, mesmo que a combinação de uma série de tecnologias inovadoras muitas vezes resulte em um navio não confiável.
Os submarinos da classe Barracuda (“Sierra” na OTAN) do início da década de 1980 adotaram algumas das características dos Alfas, incluindo o casco de titânio, ao mesmo tempo que diminuíam o desempenho para níveis que permitiam um perfil de manutenção mais gerenciável.
Os Barracudas operavam muito mais silenciosamente do que os Lyras, e podiam realizar um conjunto mais variado de missões. Os submarinos de ataque de classe de Shchuka (NATO: “Akula”) adotaram muitas das técnicas de automação iniciadas pelos Lyras, permitindo-lhes operar com tripulações relativamente pequenas por seu tamanho.
Ressurgimento
A Marinha Russa informou em 2016 que estudava a possibilidade de construir submarinos nucleares similares à classe Lyra (Project 705) com tripulações reduzidas empregando sistemas robotizados.
Uma fonte da Marinha Russa disse: “temos vinte anos de experiência na operação dos submarinos Project 705 classe Lyra nas décadas de 1970 até 90. Foi um projeto muito promissor, mas sua desvantagem foi a concentração de muitas novas soluções técnicas ao mesmo tempo”.
De acordo com o especialista, os submarinos soviéticos Project 705, cuja tripulação foi reduzida para 32 pessoas (quando o normal seria 70), não se mostraram bem sucedidos devido à manutenção complicada, o que levou a longas pausas entre as missões. Ao mesmo tempo, apesar da ausência de acidentes com vítimas, a confiabilidade do equipamento desses submarinos era insuficiente, e pequenas quebras regulares reduziram a prontidão de combate.
“Não é absolutamente necessário construir um submarino completamente revolucionário, como foi feito no Project 705, onde foram combinados o reator inovador com refrigerante de metal líquido, equipamentos altamente automatizados e várias outras inovações, incluindo o casco de ligas de titânio e volume muito compacto”, disse a fonte. Parece mais racional criar um submarino usando robótica com base em soluções técnicas elaboradas com automação crescente. A tripulação desse submarino pode ser reduzida para 55-50 e mais tarde, para 40-30 militares”.
No final de 2017, foi divulgado que o novo submarino classe Alfa renascido, denominado classe “Husky”, deverá entrar em serviço na década de 2020, e segundo a Marinha Russa será o primeiro submarino do mundo com armas hipersônicas.
FONTES: National Interest/Lenta.ru/Anatoly Vlasov