INS Khanderi, segundo submarino Scorpene indiano

Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval

O principal jornal indiano The Hindu, publicado em inglês, noticiou, neste fim de semana, que o módulo de Propulsão Independente do Ar (AIP) projetado e desenvolvido pelo Laboratório Naval de Pesquisa de Materiais, da cidade de Ambarnath, no noroeste da Índia, se encontra “em estágio avançado de ensaios”.

A informação foi dada na última sexta-feira pelo Inspetor Geral de Submarinos Nucleares da Marinha indiana, vice-almirante S. Srikanth.

A Propulsão Independente do Ar garante que o submarino de propulsão diesel-elétrica, possa navegar submerso por períodos relativamente grandes (em torno de duas semanas), antes de precisar subir à superfície para captar oxigênio.

Um dos sistemas AIP mais usado é o que emprega fuel cells (células de combustível) conversoras de energia eletroquímica, que se valem da energia química de um determinado combustível armazenado a bordo do submarino para cruzá-la com um elemento oxidante, gerando, dessa forma, eletricidade.

O módulo indiano vem sendo pesquisado por determinação da Organização de Pesquisa e Desenvolvimento da Defesa (DRDO) do governo de Nova Déli, para ser instalado nos submarinos convencionais de ataque da classe Scorpene que venham, no futuro, a ser encomendados ao estaleiro Mazagon Dock Shipbuilders Limited (MDL), da importante e populosa cidade de Mumbai.

O módulo N11, uma pilha PAFC de 11,5 kW desenvolvida para a solução AIP indiana. Fonte: NMRL

PAFC – Em outubro do ano passado o Poder Naval reproduziu um artigo publicado pelo respeitado portal de notícias militares Delhi Defence Review, que revelava ser “a solução AIP [indiana] baseada em células de combustível fosfórico (Phosphoric Acid Fuel Cell – PAFC)”.

De acordo com o autor do artigo, Saurav Jha, um especialista em Energia e Segurança, a opção PAFC “é um passo à frente do que a Marinha do Exército de Libertação Popular da China (PLA Navy) obteve da Suécia sob a forma de um AIP baseado no sistema Stirling para seus submarinos”.

O texto esclarece que esse modelo de AIP, baseado no PAFC de 250 kilowatts (kW), permite até 14 dias de autonomia subaquática para um navio “funcionando exclusivamente com a energia fornecida por este sistema”.

O MDL já tem a seu cargo a construção de um primeiro lote de seis Scorpenes, no âmbito de um acordo de governo a governo firmado por Índia e França. O instrumento legal prevê a transferência de tecnologia francesa para os indianos, de forma bastante semelhante à que ficou acertada entre a indústria naval da França e a Marinha do Brasil.

No Brasil, entretanto, o então comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto, abriu mão de ter submarinos convencionais equipados com AIP.

“O AIP da DRDO se encontra em fase avançada de testes experimentais” explicou o almirante Srikanth ao The Hindu, “e uma vez provado [em uma instalação] no litoral, terá que ser testado em uma plataforma marítima”.

O oficial deu essas declarações por ocasião do 50º aniversário de criação da Força de Submarinos da sua corporação.

Anteriormente, a Marinha indiana planejava instalar o módulo AIP no quinto e sexto submarinos tipo Scorpene do lote atualmente em construção no país, mas já se sabe: devido a atrasos na fabricação do AIP, isso não poderá ser feito antes que os dois últimos submarinos sejam lançados ao mar.

“Demanda” – Uma alternativa seria a DRDO obter do governo do Primeiro-Ministro Narendra Modi autorização para contratar mais três submarinos Scorpene.

Essa possibilidade vem circulando, na forma de rumor, nos bastidores do Ministério da Defesa indiano, e o The Hindu não se furtou em explorá-la.

Perguntado se a Marinha, depois de receber do MDL os primeiros seis Scorpenes, encomendaria três unidades adicionais da mesma classe, o almirante disse que uma decisão só será tomada depois que o projeto atual for concluído, mas (de forma um tanto surpreendente) não descartou a possibilidade.

“Sim, há especulações, e até mesmo demanda, de três submarinos adicionais no Mazagon Dock Limited. Uma vez que já temos a linha de produção, juntamente com a experiência, a opção pode ser analisada”, admitiu Srikanth. “Mas primeiro é preciso que o projeto existente seja concluído a tempo”.

A naturalidade com que o almirante encarou essa possibilidade causou espanto, porque desde o ano passado a Força Naval vem contatando diversos fabricantes de submarinos convencionais – da Alemanha, Coreia do Sul, Japão e da própria França – para a contratação de um novo programa – batizado de P-75I – destinado a desenvolver o braço submarino da Marinha nas décadas de 2020 e 2030.

INS Kalvari, primeiro Scorpene indiano

Manutenção – Comissionado em dezembro passado, o primeiro Scorpene indiano, batizado Kalvari (S21), já está operacional. Seu período de manutenção geral – que, em tese, aceitaria a instalação de um AIP – está previsto para acontecer no ano de 2023.

Os dois submarinos que se seguem ao Kalvari se encontram em diferentes estágios de prontificação.

Há rumores de que um planejamento revisado prevê, efetivamente, a instalação do módulo AIP durante as etapas de “atualização” (reforma) dos navios. Mas a tarefa é considerada dispendiosa e extremamente complexa.

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