Saab espera cliente firme para seguir com o Gripen M
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
O conceituado portal britânico de notícias FlightGlobal, divulgou no dia 19.03 que a empresa sueca SAAB tem, pronto, o desenho da versão naval do caça Gripen E – tratado de Gripen Marine (Gripen M) ou Sea Gripen: uma aeronave concebida para equipar porta-aviões configurados tanto para a operação STOBAR (short-take-off but arrested recovery), de decolagem curta e recuperação por cabo de retenção, quanto para a CATOBAR (catapult-assisted take-off but with arrested recovery), de decolagem assistida por catapulta e recuperação por cabo de retenção.
“Temos um desenho totalmente certificado, assinado pela gerência da Saab para a versão marítima do Gripen”, disse a Greg Waldron, do website FlightGlobal, o ex-piloto de caça da Royal Navy Tony Ogilvy. “Está na nossa carteira [de projetos], mas é só um desenho, ainda não o levaremos ao próximo passo crítico, que irá requerer um cliente”.
A caminhada passo a passo da Saab mira, agora, os interesses de dois países que possuem planos ambiciosos para a Aviação Embarcada: Índia e Brasil.
De acordo com Ogilvy, a ênfase em engenharia de sistemas que a Saab desenvolveu para os seus projetos aeronáuticos enseja “um nível muito alto de fidelidade”, e caso a companhia consiga um cliente inicial para o Gripen M, esse avião deverá se converter em um demonstrador de conceitos que funcionará bem logo de início.
Carga máxima – Para ajudar a refinar seu desenho – e as conclusões dele advindas – os suecos convocaram duas importantes aliadas do Reino Unido: a companhia escocesa Mac Taggart Scott, altamente qualificada em sistemas de retenção de aeronaves a bordo de porta-aviões, e a conhecida Rolls-Royce Marine, de grande experiência na produção e funcionamento de catapultas.
“Temos estado trabalhando com ambas as companhias em contratos pequenos e separados”, explicou Ogilvy, “para estudar formas de modelagem que nos permitam melhorar as características de lançamento e recuperação [do Gripen M], de modo a possamos decolar com a carga máxima [de combustível e armas] e pousar com segurança”.
O primeiro desafio é, nesse caso, o do peso.
O Poder Naval lembra que, ano passado, o chefe da Marinha Indiana, almirante Sunil Lanba, de 60 anos, chocou o governo do Primeiro-Ministro Narendra Modi, ao anunciar que sua Força dispensara os testes com o caça leve HAL Tejas, de produção nacional, por considera-lo inadequado à operação em porta-aviões.
Informações posteriores esclareceram: inúmeras simulações, testes e reuniões, haviam fracassado na tentativa de reduzir o peso da aeronave, de 9,5 toneladas (carregada).
O desenho atual do Gripen M prevê um jato de 8,5 toneladas, ou seja, com 500 kg acima do peso de um Gripen E vazio. “Estamos buscando maneiras de reduzir esse peso”, admitiu Ogilvy em sua entrevista. “Esperamos chegar a não mais de 300 kg adicionais”.
O sobrepeso advém de características plenamente compreensíveis no caso de um jato de porta-aviões: (1) o fortalecimento da estrutura ao redor do centro de gravidade do avião, sujeito a esforços durante os lançamentos a partir da catapulta e das frenagens, no pouso, por meio da máquina de parada existente no convés de voo; e (2) um reforço com aço no trem de aterrisagem da aeronave.
A SAAB garante que, ainda assim, seu Gripen M, impulsionado por um único turbofan GE Aviation F414, poderá ser mais ágil e rápido que outros jatos da aviação embarcada.
Equipado com um par de propulsores Safran M-88, o Rafale naval pesa, vazio, pouco mais de dez toneladas, enquanto o Boeing F/A-18E/F Super Hornet americano, com dois motores F414, é uma aeronave de 14,5 toneladas.
O caça de decolagem curta e aterrisagem vertical Lockheed Martin F-35B parte de 14,7 tonseladas, enquanto seu “primo” F-35C, concebido para operações CATOBAR tem um peso, vazio, de 15,7 toneladas.
Tony Ogilvy não foge às comparações: “O tamanho do Gripen é similar ao de um Sea Harrier. Não é demasiadamente grande e será capaz de ser movimentado em todos os tipos de elevador de porta-aviões existentes hoje em dia”. E de fazer isso sem precisar dobrar as asas, garante o gerente da empresa sueca.
Pouso em ângulo – Ainda no capítulo das vantagens do projeto M, Ogilvy lembra que o Gripen original foi concebido para pousar de forma brusca nas estradas suecas. Segundo ele, também no desenho do caça naval, essa característica estará contemplada, pois a aterrisagem no convés de um porta-aviões implica em manobra de aproximação com ângulo consideravelmente pronunciado.
“O trem de aterrisagem do Gripen M é um pouco maior que o do Gripen normal, observa o funcionário da SAAB, “mas afora isso e um gancho móvel para a captura do cabo de retenção [no convés de voo] e a recuperação [do jato] é exatamente o mesmo avião. Fará exatamente o mesmo trabalho do Gripen E em cada uma das suas atividades. Quando não estiver a bordo de um porta-aviões, será parte da frota de Gripens em terra”.
Insinuação para o aproveitamento do Gripen M pela Marinha do Brasil, mesmo que essa Força esteja, momentaneamente, desprovida de um navio-aeródromo? Talvez.
A Força Aérea Brasileira receberá, a partir do ano que vem, 36 Gripens nas versões E e F.
Catapulta eletromagnética – Na Índia, SAAB, Boeing e Dassault responderam a uma solicitação de informações apresentada pela Marinha local, relativa à possível aquisição de 57 caças baseados em porta-aviões.
Os indianos já têm um navio-aeródromo configurado para operações STOBAR – equipado com o caça RAC MiG-29K –, e planejam agora obter mais uma plataforma marítima para aviões.
A longo prazo eles já definiram o futuro da sua Aviação Embarcada, com um navio-aeródromo tipo CATOBAR, que, em vez das catapultas a vapor convencionais, utilize o inovador sistema de catapultas eletromagnéticas (EMALS) para o lançamento de aeronaves de asa fixa – tecnologia da empresa americana General Atomics que também interessa à Marinha do Brasil.
A direção da SAAB tenta, nesse momento, interessar os almirantes indianos no Gripen M, que poderia constituir a dotação do porta-aviões STOBAR Vikrant, lançado ao mar em agosto de 2013 – cuja construção está sendo finalizada.
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