Sete anos depois, Armada Argentina formaliza sua volta à Operação Unitas
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A lenta reaproximação militar entre a Argentina e os Estados Unidos marcou, mês pasado – sem o menor alarde –, mais um ponto: a assinatura, por almirantes dos dois países, das chamadas “Conversações Marítimas de Pessoal”, que estabeleceram, entre outras metas dedicadas ao aperfeiçoamento do pessoal naval, a presença da marinha sul-americana na 59ª edição da Operação Unitas, e no exercício PANAMAX 2018 – este previsto para acontecer no segundo semestre, com o objetivo de melhorar a capacidade dos militares latino-americanos de operar juntos em defesa do Canal de Panamá.
O acordo que devolve os argentinos à Unitas foi decidido entre os días 11 e 14 de março, durante o encontro, na Base Naval de Puerto Belgrano (a mais importante da Argentina), do comandante do Comando Sul e da IV Frota da Marinha dos Estados Unidos, contra-almirante Sean Buck, com o comandante de Adestramiento y Alistamiento (Adestramento e Preparação) da Armada Argentina, Rafael Gerardo Prieto, de 56 anos.
Oficiais das duas marinhas examinam a volta dos argentinos à rotina dos exercícios navais liderados pelos americanos desde o primeiro quadrimestre do ano passado. Mas Prieto só foi inteirado desse assunto depois que, a 12 de dezembro passado, substituiu, no Comando de Adestramento, o seu colega Luis López Mazzeo, contra-almirante considerado um dos responsáveis pelo trágico desaparecimento do submarino ARA San Juan.
Ponce – O serviço de Divulgação da Marinha estadunidense fez circular uma versão generosa do acordo bilateral: “a estratégia marítima global dos EUA de construir e fortalecer nossas relações de trabalho e melhorar a interoperabilidade dos EUA com os países amigos por meio de reuniões cara a cara”.
Mas nem a melhor boa vontade demonstrada pela Força Naval do Comando Sul americano em relação aos argentinos permitiu que Washington autorizasse a transferência, para os sul-americanos, do navio de assalto anfíbio USS Ponce – um gigante de 16.591 toneladas (carregado), que começou a operar em 1971 e, ano passado, passou, finalmente, à reserva.
A Marinha Argentina não possui um navio de desembarque anfíbio desde os anos de 1990, e o governo Mauricio Macri fez um apelo pessoal ao vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, para que ele interviesse a favor da cessão do barco. Mas ainda no ano passado a Secretaria da Defesa anunciou que a unidade irá ao desmanche.
Os americanos evitam qualquer gesto que represente um reforço do aparato militar argentino – algo que poderia ser interpretado como uma ameaça potencial aos súditos britânicos residentes nas Ilhas Falkland (Malvinas).
Cristina – A última vez que os argentinos tomaram parte nos exercícios da Unitas foi em 2011.
Divergências políticas que se acentuaram durante o segundo mandato da presidência Cristina Fernández de Kirchner (2012-2015), afastaram os navios argentinos dessas manobras navais, consideradas as mais relevantes das Américas.
As fortes restrições orçamentárias vividas pela Força Naval Argentina ainda devem limitar sua participação em exercícios multinacionais. Especialmente no caso da PANAMAX, onde essa atuação deve se restringir à participação de oficiais de Estado-Maior ou, no máximo, à presença de um destacamento de elite da Infantaria de Marinha Argentina.
Para a Unitas também haverá problemas. Especialmente na Aviação Naval.
Na Esquadrilha Aeronaval de Vigilância Marítima dos argentinos, dos três Beechcraft B-200G só dois voam, e dos sete Beechcraft M Super King Air, apenas um opera regularmente.
A Esquadrilha Aeronaval Antissubmarina está, praticamente, inativa.
Um dos quatro Grumman S-2T Turbo Tracker pode decolar, mas devido à obsolescência dos seus equipamentos, suas condições de atuar como aeronave de combate ASW são quase nulas.
Nenhum dos 11 caça-bombardeiros Super Étendard da 2ª Esquadrilha Aeronaval de Caça e Ataque – aviões perto de completar 40 anos anos de fabricados – se encontra, nesse momento, disponível.
Os cinco Étendards Modernisé arrematados pelos argentinos aos estoques da Marinha da França, que possuem aviônica atualizada, são aguardados para o mês de maio – desde que o governo de Buenos Aires complete o pagamento por eles, obviamente.
Segundo o Poder Naval pôde apurar, cada uma dessas células ainda pode aguentar cerca de 200 horas de vôo, o que, na Aviação Naval Argentina, permitirá que eles operem por pouco mais de um ano. Findo esse período, seus componentes serão redistribuídos aos Étendards mais antigos, que se encontram parados.
Helicópteros – Entre as aeronaves de asas rotativas a situação é igualmente precária.
Na 1ª Esquadrilha Aeronaval de Helicópteros, dos quatro Esquilos de esclarecimento marítimo (AS-555SN Fennec), só um está em condições de voo.
No agrupamento dos seis Sikorsky SH/UH-3H Sea Kings da 2ª Esquadrilha Aeronaval de Helicópteros, apenas dois cumprem regularmente as suas missões (e estão, nesse momento, sendo revisados, após o esforço de suas participações na Campanha de Verão na Antártida).
O resumo é constrangedor: das 37 aeronaves de asa fixa da Armada Argentina, só oito ainda voam; entre os dez aparelhos de asas rotativas, não mais de três conseguem decolar.