O AMX Naval
Em maio de 1982, respondendo a perguntas de jornalistas sobre o reaparelhamento das Forças Armadas, o então ministro da Marinha, almirante de esquadra Maximiano da Fonseca, defendeu a produção de aviões no Brasil e disse que o AMX deveria “ser adaptado, no futuro, para operar em porta-aviões”.
De fato, naquela época havia estudos conduzidos pela Marinha do Brasil (MB) em conjunto com a FAB para dotar o navio-aeródromo Minas Gerais (A 11) de aeronaves de ataque e defesa. Os estudos ganharam força após as análises dos combates ocorridos entre a Argentina e o Reino Unido pela disputa das ilhas Malvinas/Falklands.
Em maio de 1983 o ministro Maximiano admitiu que havia estudos para a aquisição de alguns jatos de ataque McDonnell Douglas A-4 Skyhawk, o que foi confirmado pelo ministro da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Délio Jardim de Mattos. A ideia era criar um esquadrão na FAB, pois somente a Força Aérea era autorizada a operar aeronaves de asa fixa, com 8 a 12 desses jatos (Maximiano chegou a citar um total de 14 aviões, incluindo dois bipostos, a serem adquiridos de Israel por 60 milhões de dólares, recondicionados e modernizados). A ideia era empregar o A-4 como solução “tampão” até que a versão “navalizada” do AMX ficasse pronta.
A Embraer efetivamente estudou o assunto na década de 1980, chegando à conclusão de que a navalização do AMX era possível, mas modificações básicas seriam necessárias. As mais importantes estavam relacionadas às exigências específicas de operações embarcadas, como o lançamento por catapulta e sua recuperação (pouso a bordo).
Havia grande preocupação quanto à reformulação do trem de pouso. A velocidade vertical esperada para um pouso a bordo (23ft/s ou 7m/s) representava quase o dobro do dimensionado para o trem de pouso original do AMX (12ft/s ou 3,66m/s). Possivelmente, uma segunda roda seria necessária no trem do nariz para permitir o aumento no curso do amortecedor, obrigando a um redesenho da fuselagem dianteira, com o afastamento de longarinas até o limite do espaço ocupado pelos canhões.
Já o reprojeto do trem de pouso principal merecia estudos mais aprofundados diante da complexidade do assunto (não havia muito espaço na fuselagem para uma perna mais robusta, com um amortecedor de maior curso). Em função das cargas mais severas impostas à versão naval, seriam necessários novos cálculos e eventuais reforços ou alterações estruturais. A menor das preocupações era o motor, por ser derivado do Spey MK 101 que equipava os Buccaneer da Marinha Real britânica, de operação embarcada.
Se a navalização do AMX foi avaliada como viável a princípio, também era necessário avaliar se a aeronave resultante seria compatível com o porta-aviões Minas Gerais. Partiu-se da premissa de que o A-4 Skyhawk era compatível com o navio (lembrando que, naquela época, a Marinha ainda não havia testado a operação embarcada com jatos A-4 no Minas Gerais, mas deve-se lembrar que a Armada Argentina operava o A-4 em um navio da mesma classe, o 25 de Mayo). A partir dessa premissa, foram comparadas as dimensões do A-4 com as do AMX, concluindo-se que este seria compatível.
O programa de desenvolvimento, incluindo reprojeto, fabricação de dois protótipos e campanha de ensaios em voo (com testes de mar a partir do porta-aviões) era estimado em 56 meses e o custo dessa fase, sem considerar a etapa de produção, seria de aproximadamente US$ 128 milhões.
Porém, tanto a aquisição dos A-4 pela FAB quanto o desenvolvimento do AMX naval nunca ocorreram. A verba para adquirir o A-4 não foi liberada e, nos anos seguintes, as condições financeiras só pioraram, afetando o programa do próprio AMX “convencional”, o que inviabilizava qualquer gasto adicional. Na etapa de industrialização, a cadência de produção foi afetada, cortaram-se encomendas e postergou-se o desenvolvimento de sistemas da aeronave (como o radar nacional).
Já na década de 1990, até mesmo o programa de modernização dos velhos P-16 (bimotores a pistão empregados no Minas Gerais) foi cancelado por falta de recursos, deixando o navio sem aviões por vários anos.
FONTE: Revista Forças de Defesa número 9
LEIA TAMBÉM: