Mastros do submarino Tridente

Mastros do submarino Tridente à mostra, enquanto ele navega em cota periscópica

Por Paulo C. Santos Garcia

Depois da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento dos submarinos centrou-se no aumento das suas capacidades em permanecer em imersão profunda, quer para aumentar a autonomia para o seguimento de outros submarinos, quer para aumentar a sua discrição numa determinada área de operação, agindo como navio de ataque por excelência.

Nos dias de hoje, onde um conflito aberto se tornou mais improvável, a evolução tecnológica das capacidades de coleta de informações acima da linha de água é fundamental para qualquer moderno submarino.

Atualmente, as missões dos submarinos são executadas maioritariamente à chamada “cota periscópica”, onde é possível içar os mastros acima da superfície, recolhendo assim as mais diversas informações, sempre de uma forma discreta e sem perturbar o meio ambiente.

No caso dos submarinos da classe Tridente (classe U-209PN ou U-214), os sensores disponíveis para este tipo de vigilância e coleta de informação, centram-se no tradicional periscópio, no sistema optrônico e, para a vigilância do espectro eletromagnético, nos sistemas de detecção dos radares e das comunicações.

Centro de Informações de Combate ao lado de dois periscópios em um submarino classe U212A da Marinha Alemã 
Periscópio do submarino Tridente classe U-209PN

Periscópio

O periscópio que equipa estes submarinos, além de permitirem uma visibilidade direta para o exterior, pouco mais têm em comum com os tradicionais periscópios que equipavam os submarinos de umas décadas atrás. Dotados de diversos equipamentos, é considerado um sistema em si mesmo, estando ligado à rede central do designado “sistema de combate”, o que permite o compartilhamento de todos os dados que recolhe com outros sistemas.

Periscópio SERO400

Assim, neste moderno periscópio temos disponível uma máquina fotográfica, uma câmera intensificadora de luz (Low Light Level TV ou LLL TV) e uma câmera de TV que garante o compartilhamento da imagem do exterior com outros sistemas. A sua operação pode ser feita remotamente de diversos locais ou da forma mais habitual: diretamente na Ocular box. Esta última, permite que o operador tenha uma percepção espacial do que está vendo, uma vez que pode girar para observar o que pretende.

Sendo o principal meio de vigilância quando o submarino está à cota periscópica, e também mais vulnerável, é exigido um elevado treino a quem o opera, quer seja para conseguir manter uma noção espacial do que observa em poucos segundos, quer para evitar a detecção quando mantém o periscópio içado.

Navio de superfície sendo visualizado pelo periscópio

Para facilitar a sua operação, este periscópio está equipado com uma série de funcionalidades que permitem fazer face às diferentes condições de utilização. Uma das que mais facilita a sua operação é a estabilização em azimute (i. é, em direção) e elevação, que garante uma visualização estabilizada e portanto independente do estado do mar e do balanço, por vezes extremo, do submarino. Existe também um conjunto de filtros que melhoram a visibilidade quando as condições de luz são mais extremas, facilitando a observação nos setores onde o sol brilha com maior intensidade.

Outra funcionalidade importante é a obtida pelo Optical Range Finder que, de forma passiva e recorrendo apenas à informação da altura do objeto observado (normalmente um outro navio), permite calcular rapidamente a sua distância. A vantagem desta medição de distância ser efetuada de forma passiva, é que mantém a discrição do submarino, dificultando assim a sua detecção.

Cumpre também fazer referência à informação que é disponibilizada ao operador do periscópio na ocular. A disponibilização destas informações no campo de visão, permite que o operador não tenha que interromper a vigilância desviando os olhos para saber um conjunto de dados. A informação apresentada inclui o azimute e a marcação para onde está olhando, a ampliação selecionada, o filtro introduzido e mais alguns dados adicionais.

Por fim, resta referir que com a qualidade de construção de toda a parte óptica, garantida pela vasta experiência de uma empresa como a Zeiss, este periscópio dispõe de três ampliações ópticas de 1,5x, 6x e 12x o que permite um alcance visual extraordinário.

Optrônico

O optrônico é o sistema por excelência para a coleta de informação do espectro do infravermelho, electromagnético e, naturalmente, do visível. Para esta panóplia de capacidades, dispõe de uma câmera de alta definição (1080p), uma câmera de infravermelho e uma antena para a detecção das transmissões de radares, sejam elas de outros navios ou de sistemas de vigilância costeira.

Operado apenas remotamente, uma vez que é um mastro não penetrante, i. é, que não atravessa o casco resistente, é utilizado um joystick para controle das diversas funcionalidades.

O sistema de controle deste sistema apresenta um conjunto de modos de operação que permitem uma enorme flexibilidade e uma redução da sua exposição ao exterior, contribuindo para a indispensável discrição essencial de um submarino. Nestes modos de operação, consegue-se programar, com o mastro ainda arriado, a rotação (setorial ou os 360 graus), a elevação, a velocidade de rotação, qual das câmaras a utilizar (HD ou IR) e até a opção de gravar a imagem numa memória FIFO para, depois do mastro se encontrar novamente arriado, poder ser feita a sua reprodução em diversas velocidades.

Esta funcionalidade permite adotar uma rotação mais rápida, para reduzir a exposição do mastro e evitar a detecção. Como exemplo, o mastro pode ser içado, rodar uma volta completa, gravar em alta definição ou IR e arriar quando terminar, permitindo ver o que se encontra no alcance visual. Outra possibilidade é a de içar para um objetivo concreto arriando logo de seguida, expondo o mastro por breves segundos, mas permitindo observar posteriormente a imagem gravada.

Sempre que se pretende, as imagens captadas podem ser comparadas com outras existentes na base de dados do sistema, facilitando a identificação de um determinado navio ou objetos de interesse. Basta imaginar a dificuldade de observação de um navio a grande distância onde apenas se consegue identificar uma pequena silhueta sendo essencial a identificação dos mais sutis pormenores.

Realça-se ainda a importância da capacidade IR que, numa situação de total escuridão e mantendo a invisibilidade do submarino, permite ter uma imagem que apresenta as diferentes temperaturas. No caso de um navio de superfície, seja de guerra ou apenas uma pequena lancha, consegue-se distinguir importantes características ou tão somente manter o seu seguimento.

Guerra eletrônica

Esta designação de Guerra Eletrônica é atribuída à “disciplina” que lida com a detecção, transmissão (para jamming ou outras técnicas) e tratamento dos dados recolhidos pelos sistemas de detecção das emissões eletromagnéticas oriundas quer dos radares, quer dos sistemas de comunicação de outros navios.

Para quem anda no mar nos tradicionais navios de superfície, a utilização do radar é tão usual como andar com os faróis do carro ligados à noite. Todos os navios, em condições normais, têm pelo menos um radar ligado, mesmo os navios de guerra em situações de rotina. Há muitas situações em que são definidas políticas mais restritivas para a utilização destes equipamentos mas não deixa de ser um equipamento muito utilizado. Como tal, um submarino pode aproveitar esta situação para, com uma simples antena acima da linha de água, detectar a presença de um determinado navio muito antes de se encontrar dentro do alcance de detecção dos sensores desse navio.

Submarino Tridente classe U-209PN ou Type 214

No caso dos submarinos da classe Tridente, existem três antenas disponíveis: uma no mastro do periscópio, outra no mastro optrônico e a terceira no mastro dedicado à coleta de dados no espectro eletromagnético.

Considerando os avanços tecnológicos destes sistemas, tanto no que respeita à sua sensibilidade como na capacidade de processamento, é possível identificar o tipo de radar, fazendo a correspondência com o tipo de navios que o utiliza (se é um navio mercante, de pesca ou de guerra e, dentro destes qual a sua classe), assim como qual o navio é em concreto.

Todos estes sistemas de detecção, vigilância e coleta de dados, permitem ao submarino classe Tridente, à semelhança de outros, ter uma vantagem enorme, não só por conseguirem recolher informação sem perturbar o meio onde operam sem condicionar a ação dos diversos atores, como também pela capacidade de detecção antes de serem localizados.

Os mastros dos dois submarinos classe Tridente aparecem na superfície enquanto navegam em paralelo

FONTE: Pplware.com

 

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