Estaleiros afirmam que não é possível competir com a China
Setor cobra igualdade de condições, principalmente tributárias
Por Ramona Ordoñez
RIO – As empresas do setor naval garantem ter condições de atender a demanda futura da Petrobras. Segundo Sérgio Bacci, vice-presidente do Sinaval, que reúne os estaleiros, a indústria nacional tem condições de competir em preços e prazos com concorrentes, desde que seja dada igualdade de condições, principalmente na área tributária. Mesmo assim, reconhece que não é possível se equiparar aos chineses.
– Nenhum estaleiro, brasileiro, italiano, norueguês, consegue praticar o preço da China. A forma como a mão de obra e os impostos são pagos são diferentes, eles não têm o nosso custo. Se considerarmos quanto pagamos de imposto e mão de obra aqui, somos competitivos — disse Bacci, acrescentando que ao menos dez estaleiros têm capacidade de construir navios-plataforma.
Para evitar o fechamento, os estaleiros têm buscado diversificar atividades. Eles estão se preparando para participar da licitação da Marinha para construção de quatro corvetas (navios de guerra). Os navios serão construídos no país e estaleiros estrangeiros conversam com a indústria local em busca de parcerias. Nesta semana, esteve no Brasil o Goa Shipyard da Índia.
– Estamos trabalhando para que a indústria não morra. Se nada for feito, em 2020 não teremos mais indústria naval – disse Bacci.
EM BUSCA DE SÓCIOS E CLIENTES
O estaleiro Enseada Indústria Naval, em Paraguaçu, interior da Bahia – que saiu da recuperação extrajudicial em novembro do ano passado -, reflete o quadro do setor. Construído no início da década para fabricar seis sondas encomendadas pela Sete Brasil (em recuperação judicial), ele tem 80% das obras prontas. O estaleiro tem dívidas de R$ 2,6 bilhões e busca encomendas, inclusive fora do setor de óleo e gás para se reerguer.
O presidente do Enseada, Fernando Barbosa, afirma que a única adaptação para construção de plataformas seria a construção de um dique seco para fabricação do casco, o que não seria problema. Hoje, trabalham 80 empregados para manutenção de instalações. O Enseada tem como sócios Odebrecht e OAS e busca novos parceiros para prosseguir suas atividades. A japonesa Kawasaki, parceira tecnológica, vai sair do empreendimento até o fim do primeiro semestre.
– Está se criando um ambiente que vai atrair novos operadores que vão procurar o Brasil para prestar serviços. Estou otimista – disse Barbosa.
O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Pernambuco, também construiria sondas para a Sete Brasil. Ele negocia com o governo a suspensão temporária de contratos de trabalho para evitar demissões entre os 3.700 trabalhadores. Segundo Harro Burmann, presidente do EAS, o estaleiro vai concluir até maio de 2019 cinco navios petroleiros da Transpetro, que estão com o cronograma em dia. Ele não está otimista com as novas encomendas da Petrobras:
– Com a China não tem competição, com os custos que têm em mão de obra e aço. Sem condições iguais, não acredito em encomendas.
FONTE: O Globo