Golfo da Guiné: cooperação insuficiente permite aumento da pirataria
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A despeito da cooperação internacional, do apoio proporcionado por um Comando Militar americano específico para a África e das doações (e cessões a preço simbólico) de embarcações militares feitas por Estados Unidos, China, Espanha e Portugal, a pirataria marítima no Golfo da Guiné – centro nevrálgico do transporte de petróleo e de produtos refinados (combustíveis) – continua a crescer fortemente.
Dados oficiais compilados pelo Estado-Maior Geral das Forças Armadas portuguesas mostram que, apenas no primeiro trimestre deste ano, ocorreram nessa área 51 ataques a navios, e a captura de 63 tripulantes que foram feitos reféns.
Dessa forma, o período registou cerca do triplo de investidas e detenção de civis, na comparação com os três primeiros meses de 2017, época em que foram registrados 16 ataques e o aprisionamento de 21 tripulantes.
Este ano, do total de 51 ataques, 35 (69%) ocorreram ao largo da Nigéria, país que, recentemente, inaugurou, no litoral sul do território, um centro de monitoramento e controle das suas águas jurisdicionais.
Segundo analistas militares portugueses, os piratas que infestam a costa ocidental africana devem ser contados aos milhares, repartidos por dezenas de gangues que atuam de forma coordenada (liderados pelos nigerianos) ou isoladamente; e parece certo que, em 2018, o número de incursões desses bandidos contra o tráfego no Golfo da Guiné será significativamente superior ao registrado em 2017.
Marketing – A 6 de abril passado, a corveta francesa Premiere-maitre L’Her e o patrulheiro costeiro Zaire, da Marinha Portuguesa, apoiaram o treinamento de integrantes da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe, que frequentavam um curso de capacitação em abordagem de navios suspeitos.
Sob a coordenação do Pelotão de Abordagem do patrulheiro Zaire e de militares da Unidade de Meios de Desembarque (UMD) dos Fuzileiros da Marinha portuguesa que servem em São Tomé, o destacamento da Guarda Costeira tomeense teve a oportunidade de aperfeiçoar os seus procedimentos em aproximações e na abordagem ao navio francês.
O Zaire chegou a São Tomé e Príncipe no dia 22 de janeiro, e, no final do ano, deve ser transferido ao serviço de guarda costas local.
O Brasil também mantém uma missão de treinamento de fuzileiros navais no país africano.
As marinhas dos Estados Unidos, do Brasil e de alguns dos países da União Europeia (França, Espanha, Portugal e Holanda entre eles) operam, rotineiramente, no adestramento das forças navais do litoral oeste africano.
Três anos atrás, a Armada espanhola ofereceu à Força Naval de Angola um lote de navios de guerra usados, mas os angolanos avaliaram que essas embarcações estavam desgastadas demais.
Ainda em 2015, a Esquadra da Turquia organizou uma força-tarefa para uma missão de circum-navegação do continente africano. A viagem, entretanto, mais pareceu uma ação de marketing do governo de Ancara, destinada a oferecer aos africanos os modelos de barcos fabricados pela indústria naval turca.