Prosub – as instalações para receber o submarino nuclear
Por Guilherme Poggio
Dos três grandes empreendimentos modulares do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos) o Empreendimento Modular 18 é o responsável pela infraestrutura industrial do programa. Ele incorpora a construção da UFEM (Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas), do EBN (Estaleiro e Base Naval) e a transferência de tecnologia (ToT) associadas a estes.
Pode soar estranho falar em ToT para infraestrutura industrial uma vez que o Brasil largamente domina este campo. Isto pode ser medito em números. O índice de participação nacional nas obras civis é de aproximadamente 95%, bem acima dos 20% de nacionalização dos equipamentos dos submarinos. Uma parte considerável dos 5% restantes está vinculada à infraestrutura necessária para receber submarinos com propulsão nuclear, seja na etapa de construção, seja na etapa de operação.
Quando nós do Poder Naval visitamos setor Sul do EBN no início deste mês de junho pudemos notar uma área de dimensões consideráveis entre o ESC e o prédio dos simuladores dos submarinos convencionais que estava deserta. Em alguns pontos ela servia para abrigar estruturas pré-moldadas e em outros pontos a vegetação rasteira crescia sem ser incomodada.
Esta área que atualmente não desperta interesse do pessoal do canteiro de obras abrigará no futuro o complexo radiológico da Base Naval de Submarinos (BNS). Ela será uma área singular do EBN, pois ali ocorrerá a manutenção dos submarinos nucleares e substituição do combustível deles, quando for necessário.
Dentre as principais obras que serão feitas no complexo radiológico está a construção de dois diques secos cobertos. A própria necessidade da execução de dois diques já demonstra o cuidado especial que se deve ter com esta tecnologia. O objetivo da Marinha é possuir sempre um dique em condições de receber submarinos nucleares em qualquer momento, caso haja uma inesperada docagem emergencial.
Os diques não serão obras comuns ou simples projetos de engenharia civil. Neles serão aplicadas técnicas de engenharia sísmica, a mesma engenharia empregada em regiões que sofrem com abalos provocados por terremotos. Estruturas que empregam técnicas de projeto e construção de engenharia sísmica são muito mais robustas e, portanto, muito mais caras.
Só como exemplo, as estruturas dos diques não serão apoiadas sobre sedimentos inconsolidados ou solo de alteração de rocha. Todos estes materiais serão escavados e removidos até a exposição da rocha sã. Deste ponto em diante até a cota mais baixa no interior do dique tudo será preenchido com concreto de alta resistência.
Todas essas exigências não são um capricho da Marinha. Elas são necessárias para que as instalações sejam certificadas pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). A CNEN é uma autarquia federal responsável pelo licenciamento de instalações nucleares e radioativas em território nacional. Ela também executa o controle, o transporte e o armazenamento de rejeitos radioativos.
As obras do complexo radiológico acompanharão o desenvolvimento do submarino nuclear e como a prioridade é a conclusão da fabricação dos submarinos convencionais, elas (as obras do complexo) serão executas em uma etapa futura. A ilustração abaixo apresenta os três grandes conjuntos de prédios e as respectivas datas de entrega, segundo calendário de 2009. As edificações em verde já foram entregues e são aquelas vinculadas à fabricação, operação e manutenção dos submarinos convencionais. O último conjunto de edificações (cor laranja) é aquele vinculado ao programa do submarino nuclear e será o último a ser entregue.
Em fevereiro deste ano o almirante Leal Ferreira (Comandante da Marinha) informou que o projeto básico do submarino nuclear foi finalizado e o executivo (projeto detalhado) já começou. Este é um trabalho de mais longo prazo e o submarino deverá ser concluído em 2029, pelas estimativas da Marinha. Em outras palavras, as instalações do complexo radiológico deverão tomar forma no começo da próxima década. Esperamos estar lá para informar os leitores do Poder Naval.