A história do desenvolvimento do míssil Mansup (até aqui)

por Guilherme Poggio

O desenvolvimento de mísseis antinavio vem sendo acompanhado de perto pela Marinha do Brasil desde os seus primórdios. Quando o míssil mar-mar MM 38 Exocet foi escolhido para equipar as fragatas da classe Niterói (Vosper Mk 10), ele ainda se encontrava em fase final de desenvolvimento e aprovação pela Marinha Francesa.

A escolha do Exocet mostrou-se acertada e tempos depois o afundamento do HMS Shieffield e do SS Atlantic Conveyor durante a Guerra das Malvinas por uma versão lançada do ar desse míssil impactou fortemente os estrategistas navais brasileiros. Desde então a Marinha considerou desejável possuir, no futuro, um míssil antinavio de origem nacional.

Quando a Marinha adquiriu os MM 38 para as suas fragatas apenas duas delas (de um total de seis unidades) possuíam esta capacidade. No final da década de 1980 os MM 38 foram substituídos pelos MM 40, mais modernos e com maior alcance. Os outros quatro navios da classe também receberam o mesmo míssil.

Versões do MM 40 acabaram equipando as corvetas da Classe Inhaúma e Barroso e substituíram os MM 38 que inicialmente equipavam as fragatas Tipo 22 quando estas foram adquiridas pelo Brasil. A versão lançada do ar, conhecida como AM 39, também foi adquirida pela Marinha, equipando inicialmente helicópteros SH-3 e mais recentemente UH-15. A Marinha também pretende equipar seus submarinos SBR com versões subaquáticas do Exocet (conhecida como SM 39).

Primeiro lançamento de um míssil MM38 Exocet por um navio da Marinha do Brasil. FOTO: MB

Remotorização

Até o ano de 2009 pouco se sabia sobre as movimentações da Marinha para se produzir um míssil anti-navio nacional, por vezes designado MAN ou MAN-1. Uma das raras pistas sobre o tema foi a publicação de anúncios da empresa MBDA sobre uma parceria com as empresas brasileiras Avibrás e Mectron para a produção de um “Exocet made in Brazil”.

Pouco depois, naquele mesmo ano, foi assinado um acordo entre a MBDA e as empresas  Avibrás e  Mectron, com o propósito de remotorizar e atualizar os componentes eletrônicos de voo dos mísseis MM40 Exocet. Posteriormente soube-se que o acordo inicial com a MBDA foi firmado em 2008 ao custo de R$ 75 milhões.

Já na exposição da LAAD (Latin America Aero & Defence) de 2011 o estande da Avibrás apresentou uma maquete em tamanho real de um míssil com as mesmas características e dimensões do MM40 Exocet. Próximo ao compartimento de ré do míssil havia a seguinte inscrição: “AV-RE40”.

Maquete em tamanho real de um MM 40 exibida no estande da Avibras na LAAD.

Tratava-se exatamente do programa de desenvolvimento de um novo sistema de propulsão para remotorizar os MM 40 da Marinha. A fabricante original do míssil (MBDA) descontinuou a produção desta versão (Block II) e passou a comercializar apenas a versão Block III depois da qualificação final do míssil em 2007. Na verdade o Exocet Block III se distancia de um míssil antinavio e se aproxima mais de um míssil de cruzeiro dotado de um turbojato com até 180 km de alcance. Como a Marinha do Brasil não tinha a intenção de adquirir a nova versão do míssil, ela procurou remotorizar seus mísseis antigos, aumentando assim a vida útil dos mesmos.

A versão Block III do míssil MM40 Exocet está equipada com um motor turbojato e possui um novo booster. Por esse motivo a seção de ré do míssil foi totalmente modificada. Na foto acima aparece com destaque uma das quatro entradas de ar do motor e a parte terminal com o novo booster. Como o motor turbojato o alcance do míssil subiu para 180 km aproximadamente, ficando na mesma categoria do norte-americano Harpoon. Abaixo do MM 40 Block III aparecem maquees menores dos mísseis SM 39 e AM 39 Exocet. Ambos continuam empregando o mesmo motor de propelente sólido do MMM 40 Block II. (clique na imagem para ampliar)

Enquanto a Avibrás focava seus esforços no desenvolvimento de um novo motor, a Mectron trabalhava num sistema de telemetria nacional. O equipamento tinha como objetivo coletar dados de todos os parâmetros analisados no teste, em tempo real (velocidade, pressão, trajetória, etc.). Os sistemas de telemetria foram desenvolvidos para ocuparem o espaço da ogiva do míssil (a cabeça de combate).

Durante dois anos técnicos da MBDA cooperaram com técnicos da Avibrás, principalmente na parte de especificações e certificações. Em setembro de 2011 foi realizada com sucesso a queima completa em bancada do motor totalmente nacional. Após os sucessos obtidos nos ensaios de bancada a Marinha decidiu realizar um lançamento a partir de um navio.

Primeiro lançamento de um MM 40 com motor nacional. O propelente foi fabricado pela Avibras e a Mectron desenvolveu a parte de telemetria do míssil. FOTO: MB

No dia 18 de abril de 2012 a corveta Barroso lançou um MM 40 remotorizado pela primeira vez e com equipamentos de telemetria desenvolvidos no Brasil. Os resultados obtidos nos testes foram melhores do que o esperado, com o motor superando as características do motor original.

CONTINUA (clique aqui para acessar a segunda parte)

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