NAe São Paulo e NAeL Minas Gerais

NAe São Paulo e NAeL Minas Gerais operando juntos em 2001

“Esquadras não se improvisam, e as nações que confiam mais em seus diplomatas do que nos seus marinheiros e soldados estão fadadas ao insucesso. Temos excelentes diplomatas, mas uma esquadra moderna leva mais de dez anos para ser projetada e construída, quando se tem os recursos materiais, financeiros e a tecnologia necessária.”Ruy Barbosa, em “Cartas de Inglaterra”, correspondência remetida ao Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, no fim do século XIX


No início da década de 1990, a Marinha do Brasil tinha como capitânia o Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais (A11). Adquirido da Inglaterra no final dos anos 50 e modernizado na Holanda antes de ser incorporado à MB em 1960, o Minas operava desde então com helicópteros da Aviação Naval e aviões de patrulha antissubmarino P-16 Tracker da Força Aérea Brasileira.

Enquanto os helicópteros da MB eram constantemente modernizados, como os SH-3 Sea King, que receberam inclusive mísseis Exocet AM39 para missões antinavio, os aviões P-16 da FAB continuavam com equipamentos dos anos 70.

Em 1988, a FAB tinha dado início ao processo de conversão dos P-16 Tracker em S-2T turboélice. A empresa canadense IMP foi selecionada e um exemplar (P-16E 7036) foi enviado ao Canadá para conversão.

De volta ao Brasil já como P-16H turboélice, o 7036 fez testes de pousos e decolagens a bordo do NAeL Minas Gerais em 21 e 22 de março de 1991.

Infelizmente, vários problemas técnicos surgiram e a crônica falta de recursos da FAB levaram ao cancelamento do programa.

Os P-16 da FAB realizaram a última operação a bordo do NAeL Minas Gerais em 13 de agosto de 1996.

P-16H da FAB prestes a decolar do NAeL Minas Gerais
P-16H turboélice da FAB na catapulta do NAeL Minas Gerais
NAeL Minas Gerais escoltado pelo contratorpedeiro Mariz e Barros (D26) e por uma corveta classe "Inhaúma"
NAeL Minas Gerais escoltado pelo contratorpedeiro Mariz e Barros (D26) e por uma corveta classe “Inhaúma”

A Marinha recupera o direito de operar aeronaves de asa-fixa

Com a desativação dos P-16 Tracker pela FAB, a Marinha trabalhou para recuperar o direito de operar aeronaves de asa-fixa, devido ao decreto de 1965 do Presidente Castelo Branco que determinou a operação cooperativa da FAB e da MB a bordo do NAeL Minas Gerais, para resolver de uma vez por todas a disputa das duas Forças sobre a operação do grupo aéreo embarcado no navio.

Em 1997, o então presidente Fernando Henrique Cardoso autorizou a volta das operações da asa-fixa pela MB.

No mesmo ano, a Marinha decidiu adquirir aeronaves de asa fixa para a bordo do Minas. Acabou fechando negócio com o Kuwait para a transferência de caças A-4 Skyhawk. Esses aviões, adquiridos da Força Aérea do Kuwait, compreendiam 23 células, sendo que deste total, 3 biplaces (TA-4KU) e 20 monoplaces (A-4KU), que vieram com motores adicionais e mais de 200 mísseis ar-ar AIM-9H Sidewinder.

Jato AF-1 Skyhawk posicionado na catapulta do NAeL Minas Gerais
Jato AF-1 Skyhawk posicionado na catapulta do NAeL Minas Gerais

 

Os A-4KU, designados como AF-1 na Aviação Naval brasileira, chegaram a realizar pousos e decolagens a bordo do NAeL Minas Gerais, mas ficou patente que o navio era lento para a realização de pousos dos jatos com segurança. A Marinha precisava de um novo navio-aeródromo.

A França oferece o PA Foch

A MB vinha estudando há anos o problema da substituição do Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais que, mesmo tendo passado por várias modernizações, dificilmente poderia ter sua vida estendida além do ano 2005.

Existiam duas linhas de ação a serem seguidas: a construção de um navio-aeródromo no país (algo que exigiria um investimento de cerca de US$500 milhões na época e levaria cerca de 8 anos para prontificação) ou uma compra de oportunidade, que poderia custar apenas uma fração de um navio novo.

A desativação precoce do porta-aviões francês PA Foch com a entrada em serviço do NAe nuclear Charles De Gaulle na Marinha Francesa, e por outro lado, a intenção da França em alargar ainda mais sua fatia no mercado militar brasileiro, acabaram por convergir os interesses dos dois países na realização de um acordo para a transferência do navio.

Em 6 de abril do ano 2000, um grupo-farefa francês capitaneado pelo NAe Foch fez escala no Rio de Janeiro, já com oficiais da Marinha do Brasil a bordo, os quais embarcaram no navio a convite da França para uma avaliação técnica. Depois de alguns meses de negociações, o Foch foi adquirido pelo Brasil por 88,5 milhões de francos (US$ 12,2 milhões) e finalmente transferido para a Marinha do Brasil em 15 de novembro de 2000, no porto de Brest.

PA Foch visitando o Rio de Janeiro, no ano 2000

Depois de 16 dias de viagem atravessando o Atlântico vindo de Brest, na França, o navio-aeródromo São Paulo (A12) chegou ao Rio de Janeiro no dia 17 de fevereiro de 2001.

O NAe São Paulo passou então a operar com a Esquadra Brasileira normalmente até o ano 2005 e também realizou manobras conjuntas com a Aviação Naval argentina, embarcando jatos Super Étendard e turboélices S-2T Turbo Tracker.

Em 17 de maio de 2005, navegando ao largo do Rio de Janeiro, houve o rompimento de uma tubulação de vapor da catapulta, que liberou vapor superaquecido junto a um quadro elétrico, operado por militares em serviço.

NAe São Paulo na ARAEX, com aeronave S-2T argentina na catapulta, em 2002
NAe São Paulo na ARAEX, com jatos AF-1 no convoo e aeronave S-2T argentina na catapulta, em 2002
S-2T argentino decolando do NAe São Paulo
S-2T argentino decolando do NAe São Paulo

O vapor que vazou da tubulação provocou a morte de um tripulante e queimaduras em outros onze. Os feridos foram evacuados do navio por helicóptero do Grupo Aéreo e transportado para o Hospital Naval Marcílio Dias.

Depois do acidente, o NAe São Paulo entrou em Período de Manutenção Geral (PMG) e ficou imobilizado para a realização de manutenção corretiva com a preventiva.

Em 30 de outubro de 2007 o navio realizou testes de mar, mas apresentou problemas em um dos eixos. Foi sua primeira saída para prova de maquinas depois de um período de reparos e modernização em importantes sistemas do navio, dentre elas, as turbinas de propulsão e engrenagem redutora do eixo de bombordo, caldeiras, condensadores principais, sistema de geração de energia, equipamentos eletrônicos de detecção e comunicação, pintura do convés de voo, obras estruturais em conveses internos e externos, catapultas, bem como a substituição de cerca de 2.000 m de redes de água, vapor e combustível do navio. Foi a primeira saída do navio, para o mar após o acidente de de 2005.

Em 2008, o NAe São Paulo foi docado pela segunda vez para reparos nas obras vivas, desde sua incorporação.

Pintura retratando o NAe São Paulo como capitânia da Esquadra Brasileira
Pintura retratando o NAe São Paulo como capitânia da Esquadra Brasileira

Em 2009, dando continuidade ao Periodo de Manutenção Geral (PMG), o navio recebeu o Sistema de Processamento de Dados Táticos Navais – SICONTA Mk4.

Em 2010, realizou testes de máquinas dentro da Baia da Guanabara.

Em 2011, voltou a operar somente com os helicópteros da Força Aeronaval.

Em 2012, ocorreu um incêndio na ante-sala de acesso a um dos alojamentos de bordo, onde estavam quatro tripulantes, deixando dois feridos e uma vítima fatal. No final do mesmo ano o navio realizou outra saída de teste de máquinas.

Em 2013, o sistema SICONTA Mk.4 tornou-se operacional, ampliando a capacidade de comando e controle do navio. Foram instalados também novos equipamentos, como um novo radar de navegação e compressores de baixa pressão, recebidas novas viaturas operativas de manobra de aeronaves. Além disso, três novos diesel geradores iniciaram a fase de testes com carga, sob a supervisão da DEN e com o apoio do AMRJ.

O NAe São Paulo operando com jatos AF-1 Skyhawk
O NAe São Paulo operando com jatos AF-1 Skyhawk e helicópteros da Força Aeronaval

Em 2014, foi divulgado o planejamento que visava modernizar o navio com novos sistemas de propulsão e de energia, e repotencializar os sistemas de lançamento e recuperação de aeronaves.

O planejamento previa que o navio-aeródromo São Paulo iniciaria em junho de 2015 o Período de Modernização de Meio (PMM), logo após a conclusão do projeto detalhado de modernização. O PMM duraria cerca de 1.430 dias.

O navio deveria retornar ao Setor Operativo em 2019, permanecendo em operação por mais 20 anos, até 2039. As principais pontos do PMM do NAe São Paulo eram:

  • a reforma de seu interior, melhorando significativamente as condições de habitação para sua tripulação;
  • substituição de tubulações e fiações;
  • implementação de um novo sistema de propulsão, geração e distribuição de energia;
  • revitalização das fontes de geração de vapor;
  • revitalização geral (com substituição de diversas peças) das duas catapultas, permitindo que ambas lancem aeronaves com até 20,5 toneladas;
  • revitalização (com substituição de diversas peças, incluindo os cabos) do aparelho de parada, permitindo o pouso de aeronaves mais pesadas e de alto desempenho;
  • revitalização (com substituição de diversas peças) de ambos os elevadores de aeronaves, fazendo com que cada um deles tenha a capacidade superior a 20 toneladas;
  • modernização do sistema ótico de pouso;
  • modernização dos sistemas de controle de avarias do convoo e do hangar;
  • modificações e modernização dos sistemas de tratamento de águas servidas;
  • modificações e modernização do sistema de ar condicionado;
  • modificações e modernização das câmaras frigoríficas;
  • modificações e modernização nos sistemas de ar comprimido;
  • instalação de novos sistemas de defesa de ponto;
  • substituição dos radares de busca combinada e de aproximação, integrando-os ao SICONTA Mk. IV; e
  • instalação de novo sistema integrado de comunicações.

A modernização do NAe “São Paulo” permitiria que o projeto e viabilização da construção de seu substituto – com deslocamento de 50.000 e 60.000 toneladas – fossem estendidos, aguardando condições orçamentárias mais favoráveis.

O grupo sueco Saab chegou a oferecer o desenvolvimento de uma versão navalizada do caça Gripen NG, que foi selecionado pela Força Aérea Brasileira para o Programa F-X2. As maquetes do NAe São Paulo e dos caças Gripen navais foram expostas nas feiras LAAD 2013 e 2015.

Maquete do NAe São Paulo com jatos Sea Gripen, na LAAD 2013
Maquete do NAe São Paulo com jatos Sea Gripen, na LAAD 2013

Desativação do NAe São Paulo

No início de 2017, após diversas tentativas de recuperar a capacidade operativa do NAe “São Paulo”, o Almirantado concluiu que o Programa de Modernização exigiria alto investimento financeiro, conteria incertezas técnicas e necessitaria de um longo período de conclusão e decidiu pela desmobilização do meio, a ser conduzida ao longo dos três anos seguintes.

Um programa de obtenção de um novo navio-aeródromo e aeronaves de asa-fixa passou a ser a terceira prioridade de aquisições da Marinha, logo após o PROSUB/Programa Nuclear e o Programa de Construção das Corvetas Classe Tamandaré.

>>> Continua em próximo post…

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