‘Construção local’: Marinha Egípcia desiste de novas Gowind 2500 feitas em casa
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
As informações que se seguem devem ser lidas com atenção pelos chefes navais brasileiros que priorizam, acima de tudo, a “independência” obtida com a prática de construir navios de guerra em casa.
- Construir em casa é, de verdade, mais prático?
- Mais barato também?
- Assegura qualidade?
- Garante a soberania?
No Egito, os almirantes, decepcionados com o programa de construção, em seu país, de três corvetas multifunção do projeto francês Gowind 2500, abriram entendimentos com o fabricante Naval Group (antiga DCNS) para adquirir mais dois navios dessa mesma classe – mas, dessa vez, recebendo-os diretamente da França…
O portal francês de notícias marítimas Mer et Marine, flagrou, a 10 de julho último, um mastro cônico de sensores sendo embarcado no porto de Lorient – 502 km a sudoeste de Paris, na costa da Bretanha – com destino ao Estaleiro de Alexandria, na face leste do delta do Rio Nilo, onde as Gowind estão sendo montadas.
O governo do Cairo fechou a compra dos quatro navios em 2014, por meio de um pacote que incluía a “qualificação técnica” (preparação) do estaleiro do delta do Nilo, manutenção dos navios por dez anos e um esquema de produção compartilhada: o primeiro navio sendo fornecido diretamente pela Naval Group (antiga DCNS) e os três seguintes fabricados em território egípcios sob “estrita supervisão” da companhia francesa.
Custo do “kit soberania”: pouco mais de 1 bilhão de Euros (o equivalente, hoje, a 4,5 bilhões de Reais).
Brasil – O Gowind 2500 egípcio tem um comprimento total de 102 metros, boca máxima de 16 metros, deslocamento de 2600 toneladas e velocidade máxima de 25 nós. Seu alcance, a 15 nós de marcha, é de 3.700 milhas náuticas (6.852,4 km).
Mas agora se sabe: no caso do Egito, que dispõe de uma indústria naval considerada modesta, as “construções locais” dependem, essencialmente, do fornecimento, pela França, de importantes componentes dos navios, como o mastro de sensores.
Além disso, especialistas do Naval Group demonstram preocupação – traduzida em repetidas checagens – com a capacidade dos projetistas e engenheiros navais egípcios para determinar itens como o centro de gravidade e outros requisitos de estabilidade do navio.
Essa mesma Naval Group apresentou uma versão ligeiramente mais encorpada da Gowind 2500 para o Programa da Classe Tamandaré, lançado oficialmente, no fim do ano passado, pela Marinha do Brasil (MB).
O projeto oferecido aos chefes navais brasileiros seria o de um navio de 2.800 toneladas, com os dois sistemas de mísseis e demais armamentos requeridos pela MB.
Sensores – A Gowind 2500 cabeça-de-série dos egípcios foi batizada de El Fateh.
A unidade teve sua primeira chapa cortada em abril de 2016, e chegou da França para os almirantes egípcios em outubro último. Atualmente se encontra em testes operacionais.
A segunda unidade – Port Said –, que também recebeu o seu mastro cônico de sensores diretamente do porto de Lorient, em março passado, está quase pronta para iniciar as suas provas de mar.
O mastro de sensores recentemente embarcado para o Egito se destina à 3ª corveta, que já tem a quilha e uma parte inferior do casco prontas.
De acordo com um porta-voz do Naval Group, a reportagem do Mer et Marine sobre o envio de um novo mastro de sensores para o Egito nada tem de grande novidade, já que essa entrega fora previamente acordada com o cliente, de forma a baratear os custos de produção dos navios.
Mas o comunicado não comenta se o fornecimento representa também uma garantia da qualidade do equipamento, em face da notória incipiência da construção naval militar dos egípcios.
O projeto Gowind selecionado pelo governo do Cairo é equipado com o sistema de gerenciamento de combate SETIS, desenvolvido pelo próprio Naval Group, além de um Módulo de Inteligência e Inteligência Panorâmica (Panoramic Sensors and Intelligence Module, ou PSIM).
O mastro cônico produzido na França integra não apenas o sistema SETIS, mas também a maior parte dos sensores da corveta, incluindo o radar SMART-S e o equipamento de guerra eletrônica.
Todos os PSIMs são produzidos e testados em Lorient, pelo Naval Group, antes de serem instalados nas corvetas. O da El Fateh foi montado e testado no navio no início de outubro, mesmo mês em que a embarcação foi declarada pronta para ser entregue ao cliente.
Os sensores da unidade egípcia incluem um sonar Kingklip e um sonar rebocado Captas 2.
Armamento – A configuração de armamento dos navios egípcios foi definida com um canhão de proa OTO Melara, de 76 mm, dois canhões secundários Nexter Narwhal, de 20 mm, 16 mísseis mar-ar MICA, de lançamento vertical, oito mísseis anti-navio Exocet MM40 e dois reparos triplos de tubos lança-torpedos.
Cada embarcação é operada por uma tripulação de 65 militares, que já inclui o pessoal destinado a operar um helicóptero de médio porte.
As negociações do Egito com a França para a importação de mais duas corvetas Gowind se encontram, nesse momento, quase estagnadas, devido a preocupações com custos.