EXCLUSIVO: Custos de aquisição das fragatas Type 23 a serem desativadas
Por Roberto Lopes
e Alexandre Galante
Duas fontes dos setores de Material e de Programas da Marinha do Brasil (MB) afirmam que a Força ainda não obteve qualquer indicação de que a Royal Navy (RN) fará, mesmo, a antecipação da baixa de duas fragatas Type 23 (classe “Duke”), como forma de garantir recursos para manter em operação os navios-doca da Classe Albion, conforme foi especulado pela imprensa de Londres.
Mas ao Poder Naval que investiga o assunto, chama a atenção a grande quantidade de informações “extra-oficiais” que a MB já reuniu sobre os custos de absorção desses navios.
De acordo com o que o PN pôde apurar:
- Caso o MoD britânico aprove o início da desativação das Type 23, as primeiras a deixarem a ativa seriam a HMS Argyll (F231) e a HMS Lancaster (F229);
- Não por acaso, nenhuma dessas embarcações entrou no programa de modernização da propulsão dessa classe de navios, que prevê o recebimento dos novos motores diesel MTU 12V-4000 M53B;
- De qualquer forma, é preciso ter em mente de que não se trata de navios “sucateados” – bem longe disso. De acordo com informações obtidas pela MB, ambos foram submetidos a um PMG de grande porte, que visou prolongar a vida útil do casco e da superestrutura, por meio de reforço e substituição de chapas;
- O mesmo PMG contemplou a Argyll e a Lancaster com as modificações necessárias (1) ao lançamento do míssil antiaéreo MBDA Sea Ceptor; (2) à operação de um novo sistema de combate; (3) ao funcionamento dos armamentos-padrão na frota de superfície inglesa e aos sensores a eles conjugados, o que inclui o radar ARTISAN;
- A notícia ruim: a priori, caso essas duas fragatas sejam efetivamente descomissionadas, toda a aparelhagem moderna será retirada, para ser reinstalada em outras unidades da RN;
- Supondo, ainda, que a MB deseje reintroduzir todos os sistemas, sensores e armas retirados, e seja bem sucedida nessa negociação, colocar quatro motores diesel MTU 4000 em cada fragata, exigirá o desembolso de 40 milhões de libras (cerca de 211,7 milhões de Reais) por navio, ou seja, um total de 80 milhões de libras (equivalentes, hoje, a 423,4 milhões de Reais);
- Entretanto, este montante refere-se apenas à modernização reclamada pelos navios Argyll e Lancaster. Ele não inclui os valores de aquisição dos navios propriamente ditos, nem os custos de treinamento das tripulações brasileiras e nem o rol de suprimentos (sobressalentes). Tais montantes não se encontram, ainda, disponíveis. Eles só serão anunciados aos almirantes brasileiros, caso o MoD confirme a baixa das unidades;
- Também é preciso considerar que a Marinha Real não abrirá mão da exigência de que os compradores das fragatas Tipo 23 façam a modernização que elas requerem em território britânico. Em função disso, um oficial amigo deste blog estimou: o custo total de aquisição dos dois navios (modernizados) pode saltar de 80 para 160 milhões de libras (aproximadamente 846,8 milhões de Reais).
Remotorização
Originalmente projetada para uma vida útil de 30 anos com atualizações, todas as 13 fragatas estão passando por reformas de extensão de vida (LIFEX) e um componente importante dessas atualizações é o PGMU (Power Generation Machinery Upgrade) para substituir os quatro grupos geradores a diesel dos navios.
O programa Type 23 LIFEX está sendo executado pela Surface Ship Support Alliance (uma parceria entre o MoD, a Babcock e a BAE Systems) e começou em junho de 2015, quando a HMS Argyll foi levada para Devonport. Em junho de 2018, a HMS Argyll, Westminster, Montrose, Northumberland e Kent já tinham concluído as reformas LIFEX.
A mudança externa mais óbvia é a instalação do sistema de mísseis CAAM Sea Ceptor para substituir o antigo GWS-26 Sea Wolf, mas os ajustes também incluem grandes mudanças nos equipamentos, sistema de combate, sistemas de água gelada e trabalho para prolongar a vida útil do casco e superestrutura.
Infelizmente, os primeiros navios a serem submetidos a LIFEX não receberam os novos motores e terão que esperar até a próxima grande reforma. A HMS Richmond será o primeiro navio a receber o upgrade de maquinário e atualmente está a meio caminho de sua reforma em Devonport. O trabalho também começou no LIFEX da HMS Portland e HMS Lancaster em Devonport.
O upgrade LIFEX de cada Type 23 está custando pelo menos £ 35 milhões por navio, não incluindo o PGMU. Totalizando cerca de £ 600 milhões para este trabalho na frota de fragatas, este é um investimento muito necessário e que vale a pena, mas poderia ter sido muito reduzido se as fragatas do Type 26 tivessem sido encomendadas mais cedo.
As mais antigas Type 23 HMS Argyll e HMS Lancaster não deverão receber o PGMU. Supondo que elas sobrevivam a futuros cortes de defesa, elas terão que continuar com seus motores a diesel Paxman até que saiam de serviço em 2023 e 2024, respectivamente. O projeto está definido para ser concluído em 2024, quando o último dos outros 11 navios receber seus novos motores.
O primeiro dos novos grupos geradores a diesel MTU 12V 4000 M53B foi entregue à Base Naval de Devonport no final de 2016 para instalação na HMS Richmond. Os novos grupos geradores são fabricados na Alemanha pela MTU (uma subsidiária da divisão Land & Sea da Rolls-Royce) e fornecem 1,65 MW cada. Isso proporcionará ao navio um aumento de aproximadamente 20% na potência disponível para armas a bordo, sensores e componentes eletrônicos, bem como para propulsão de cruzeiro.
O antigo projeto do diesel Paxman Valenta 12 RP2000CZ data da década de 1960 e está se tornando cada vez mais intensivo em manutenção. Eles são avaliados em 1.3MW, mas têm uma potência de saída tão baixa quanto 1MW em climas quentes. Os novos motores diesel funcionam melhor em condições de calor e reduzirão drasticamente o tempo de manutenção e o custo de operação.
Os grupos geradores MTU 4000 incluem medidas sofisticadas de redução de ruído e resistência a choques e são excepcionalmente confiáveis. O projeto PGMU apresentou um considerável desafio de engenharia, pois os novos equipamentos tiveram que se adequar às restrições estruturais e de compartimentos existentes e integrar-se aos serviços e sistemas do navio.
O projeto PGMU compreende 5 componentes separados (que a DE&S licitou em ‘lotes’); geradores a diesel, equipamentos de conversão de energia, quadros elétricos, o sistema de controle e vigilância de máquinas (MCAS) e o trabalho de integração. Um contrato de £ 68 milhões foi assinado pela DE&S com a MTU para fornecer os 48 grupos geradores em abril de 2015. O contrato inclui um pacote completo de logística, peças sobressalentes e treinamento inicial. O HMS Sultan, o estabelecimento de treinamento de engenharia mecânica da RN, receberá equipamentos e manuais eletrônicos para que possa fornecer treinamento relevante para os MEs que atendem às Type 23 atualizadas.
A Hitzinger UK ganhou um contrato de £ 12 milhões para os conversores de tensão e a Rolls-Royce assinou um contrato de 18 milhões de libras em janeiro de 2016 para entregar o MCAS atualizado. A Babcock Marine and Technology é responsável pela integração dos novos sistemas a bordo dos navios e foi premiada com um contrato de 3,6 milhões de libras para esta tarefa. O projeto inclui a instalação de 600 metros de novas tubulações em cada navio, juntamente com mais de 8 km de novos cabos. A Sala de Máquinas Auxiliares Superiores (UAMR) e as Salas de Máquinas Auxiliares Avançadas (FAMR) precisam ser quase totalmente removidas e novas fundações de máquinas e tomadas e decapagens devem ser instaladas.
O novo pacote de propulsão montado nas Type 23 não apenas melhorará a disponibilidade do navio, a eficiência do combustível e a potência disponível, mas também proporcionará uma experiência útil para o RN, já que grupos geradores MTU similares estão sendo equipados com as futuras fragatas Type 26.
Embora a Type 26 seja uma evolução do sistema de propulsão da Type 23, existem diferenças significativas. A Type 23 utilizou um arranjo CODLAG – Combined Diesel Electrical AND Gas Turbine.
Tanto os motores que acionam os grupos geradores quanto as turbinas a gás Spey precisam estar on-line para atingir a velocidade máxima. A Type 26 é CODELOG – CODELOG Combined Diesel-Electric OR Gas Turbine. A única turbina a gás MT-30 sozinha é suficiente para acionar o navio a toda velocidade sem a necessidade dos motores, e nesse modo os grupos geradores podem fornecer energia puramente para as necessidades elétricas dos navios.
Embora as turbinas a gás Spey da Type 23 não o façam, o novo sistema de propulsão MTU atende aos requisitos da diretiva de emissões da Organização Marítima Internacional (IMO) III. O cumprimento dos padrões de emissões civis é um desafio para os requisitos exclusivos dos navios de guerra, mas é obviamente desejável maximizar a eficiência de combustível e reduzir as emissões.
A RN utilizou vários novos recursos hidrodinâmicos para minimizar o arrasto em seus cascos de navios. Estes foram incorporados na fase de concepção dos modernos navios Type 45, os porta-aviões e a Type 26, mas as mais antigos Type 23 sofreram algumas modificações no serviço, incluindo revestimentos anti-incrustantes de auto-polimento no casco e pás das hélices, cunhas de popa e melhores designs de hélice.
A intenção é que as fragatas Type 26 estejam totalmente em conformidade com os regulamentos MARPOL (Óxidos de Nitrogênio) NOx da IMO e serão equipadas com um sistema SCR (Redução Catalítica Seletiva) juntamente com os eficientes geradores a diesel MTU4000 20V e Turbinas a Gás MT-30.
Observar no gráfico abaixo (clicar na imagem para ampliar) o cronograma de entrada em serviço das novas fragatas Type 26/Type 31 e de desativação das Type 23.