Corvetas Tamandaré: Indústria vai precisar de proteção da Marinha para garantir conteúdo local, defende fabricante

58
Concepção em 3D da Corveta classe Tamandaré

Concepção em 3D da Corveta classe Tamandaré

Concepção em 3D da Corveta classe Tamandaré
Concepção em 3D da Corveta classe Tamandaré projetada pelo CPN

Por Danilo Oliveira

Com as oportunidades de encomendas para projetos de renovação da esquadra da Marinha, fornecedores nacionais estão atentos à possibilidade de pedidos de isenção de conteúdo local por parte dos proponentes finalistas da construção das corvetas Tamandaré. Apesar de a Marinha ter negado qualquer solicitação de waiver, alguns fornecedores defendem que o conteúdo local seja assegurado. O diretor da Asvac, César Prata, observa que a indústria local vai precisar muito da proteção da Marinha, para defendê-la de proponentes mais preocupados em gerar empregos em seus países e desviar encomendas para fora.

“É natural que os europeus tentem deixar todos os itens de alto valor agregado nos seus próprios quintais. Não vai ser diferente neste projeto”, afirma o executivo, cuja empresa fabrica bombas industriais e navais e fornece para Marinha brasileira desde 1983. Para o empresário, só existem dois momentos para garantir esse conteúdo local alto: no edital e na execução. Ele considera que a primeira etapa correu razoavelmente bem, restando a fase de agora para as definições finais.

Prata contou que, na abordagem das consultas, é possível perceber intenções de se buscar waivers futuramente na execução. Ele acrescentou que os proponentes que estão ligados a estaleiros nacionais, mais acostumados a cumprir conteúdo local, parecem mais confortáveis com o edital. “A desculpa da ‘transferência de tecnologia’ é a pior de todas. Já vimos este filme. Na prática, ela nunca acontece ou, quando acontece, é de tecnologia obsoleta”, disse.

O empresário acredita que o conteúdo local das novas corvetas só será baixo se a Marinha não estiver atenta e com diálogo aberto com fornecedores nacionais. Ele observa que as especificações dos proponentes europeus foram colocadas no mercado com seus respectivos projetos, seguindo regras e dados dos seus países de origem. “São quatro projetos tão diferentes que, honestamente, difícil saber sob quais parâmetros a Marinha vai compará-los para decidir”, ponderou.

Ele avalia que a Marinha poderia, por exemplo, ter imposto seus próprios níveis de choque, ruído e vibração para haver certa uniformização de características. Por outro lado, ele supõe que essa liberdade de projeto permitiu considerar navios comuns de cada país e produtos costumeiros dos estaleiros europeus, possibilitando melhores preços. “Prevejo que, na execução, nossos equipamentos já desenvolvidos para atender nossa marinha em projetos anteriores, poderão sofrer restrições de alguns proponentes, por esta característica do processo”, analisa.

A indústria de fornecedores acredita no potencial de fornecer, entre outros itens, equipamentos de serviços navais, bombas, motores elétricos, cabos, tubos, estruturas, instrumentação, amarras e cascos. Historicamente, o conteúdo local de navios de guerra costuma ser baixo. Os fabricantes locais reconhecem que armamentos e sistemas militares têm peso alto no conjunto e devem ser importados.

Prata lembra que a indústria nacional aprendeu a fazer equipamentos para navios militares a partir da construção das corvetas classe Inhaúma e nos navios de apoio logístico, com auxílio da diretoria de Engenharia Naval (DEN) da Marinha. “A DEN nos ensinou como calcular absorção de impacto, nos cedeu normas da MIL Standard e nos guiou até o fornecimento, com grande índice de conteúdo local nestes projetos”, recorda-se. Ele ressaltou que muitos destes fabricantes continuam no mercado e podem atender este projeto se forem convocados e permitirem sua participação.

Os quatro finalistas fizeram consultas e indagaram sobre os reais índices de conteúdo local, provavelmente para apurar suas planilhas. Numa primeira impressão, Prata disse que os alemães são os mais detalhistas na parte técnica e pedem informações bastante aprofundadas. Já os franceses colocaram índices de choque mais altos, que não são comprováveis por laboratórios brasileiros.

O diretor da Asvac conta que os italianos fizeram consultas no início do processo e não voltaram a fazer questionamentos. Já os holandeses/suecos são os mais práticos, na medida em que reuniram todos os fornecedores locais logo no começo do processo, tiraram dúvidas e padronizaram todos os equipamentos. “Sintetizaram as especificações para facilitar a seleção de maquinas pelos fabricantes. Ficou mais fácil atendê-los”, comentou.

FONTE: Portos e Navios

Subscribe
Notify of
guest

58 Comentários
oldest
newest most voted
Inline Feedbacks
View all comments