Sucessão no Comando da Marinha: nomeação de Ilques trará de volta estilo Moura Neto
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
A possível indicação do chefe do Estado-Maior da Armada, almirante de esquadra Ilques Barbosa Júnior, para o Comando da Marinha, pode representar uma guinada de 180º no trabalho de condução da Força que o atual chefe, almirante Eduardo Leal Ferreira, vem realizando.
Segundo o Poder Naval pôde apurar junto a várias fontes, Ilques é considerado um militar de convicções profissionais muito próximas às do ex-Comandante Moura Neto, que liderou a Marinha do Brasil (MB) entre 2007 e 2015. O que deve ser entendido como um gosto particular por projetos de grande porte e visibilidade, como porta-aviões, fragatas e submarino nuclear.
Tal comportamento é diametralmente oposto ao de Leal Ferreira que, apesar de ter assumido o cargo logo após Moura Neto, com um estilo low profile e medidas de extrema cautela financeira, revelou-se um conhecedor profundo de sua corporação.
Mais do que isso: mostrou-se atento às oportunidades, fato que se traduziu (a) na compra do porta-helicópteros Atlântico, (b) na finalização da aquisição (iniciada por Moura Neto) do navio-doca Bahia, (c) no encaminhamento da obtenção de um grande navio de apoio logístico que a frota do Reino Unido irá disponibilizar em 2019, (d) na obtenção de três navios de Apoio Oceânico, (e) no resgate de um patrulheiro Classe Macaé que se encontrava em processo de construção dentro de um estaleiro fluminense falido, (f) na manutenção (a duras penas) dos processos de obtenção dos submarinos da classe francesa Scorpène, (g) na priorização de recursos para a encomenda de quatro navios Classe Tamandaré, e (h) na continuidade dos serviços de conservação dos cinco submarinos de tecnologia alemã tipo IKL.
O candidato de Leal Ferreira ao Comando da Marinha é o atual secretário-geral da Força, almirante de esquadra Liseo Zampronio, ex-comandante da Força Aeronaval, oficial tido como ponderado (“pé no chão”) e muito cuidadoso no trato com os subordinados.
Visita – Nos bastidores do processo sucessório na Marinha, Ilques Barbosa Júnior foi extremamente ousado: aproveitando-se de uma viagem de seu chefe Leal Ferreira ao exterior (mas com o conhecimento deste) ele, na condição de chefe do EMA (e nº 2 da Força), fez uma “visita de cortesia” ao presidente eleito Jair Bolsonaro, que se encontrava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, recuperando-se de cirurgias por causa do atentado a faca que sofreu em Minas Gerais.
O lobby de Ilques nas redes sociais, sobretudo utilizando-se de amigos da reserva, também tem sido significativo.
Esses aliados do chefe do EMA manifestaram ao PN a impressão de que o novo chefe da MB irá priorizar a recuperação dos meios de superfície, acelerando a desativação de unidades desgastadas das classes Niterói e Greenhalgh, como forma de economizar recursos em gastos com reparos e combustível.