Almirante Leal Ferreira diz que não tem candidato ao Comando da Marinha
Por Roberto Lopes
Especial para o Poder Naval
O Comandante da Marinha (CM), almirante de esquadra Eduardo Leal Ferreira, negou, nesta quinta-feira (15.11), que tenha preferência por algum nome do Almirantado para sucedê-lo na liderança da Força a partir de janeiro do ano que vem.
No início da tarde da quinta, um texto de autoria deste jornalista publicado no Poder Naval – Sucessão no Comando da Marinha: nomeação de Ilques trará de volta estilo Moura Neto – informou que, segundo diferentes fontes, o CM gostaria de ver em seu lugar o atual secretário-geral da corporação, almirante de esquadra Liseo Zampronio.
Às 20h20 de ontem, o Chefe do Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), contra-almirante Luiz Roberto Cavalcanti Valicente, chamou este colaborador pelo telefone celular, para dizer que Leal Ferreira e o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante de esquadra Ilques Barbosa, haviam ficado “aborrecidos” com a reportagem (que até as 10h30 desta sexta-feira já havia angariado 30.205 visualizações).
A argumentação de Valicente, em tom de queixa – mas em termos corteses – resultou numa conversa de 40 minutos que versou, inclusive, sobre outros assuntos de importância para a Força. Eis alguns dos seus principais trechos:
Poder Naval – Quais são as reclamações?
CA Valicente – O seu texto passa a impressão de que o Almirantado está dividido entre o almirante Ilques [oficial mais antigo do Almirantado] e o candidato do almirante Leal Ferreira, o que não é verdade. O Almirantado está bastante coeso, e trabalhando de comum acordo, como tem sido a tônica deste grupo de quatro estrelas…
PN – Mas o texto não está centrado em competição alguma, e sim na possibilidade de a escolha, recaindo no almirante Ilques, representar uma volta a uma Era de grandes projetos para a Armada, protagonizada no passado pelo almirante Moura Neto, antecessor de Leal Ferreira…
CA Valicente – Mas aí o artigo comete uma grande injustiça, ao apresentar a visita feita pelo almirante Ilques ao presidente eleito Jair Bolsonaro, quando ele ainda se encontrava no hospital, como uma forma de lobby do chefe do EMA para se posicionar no processo de indicação do novo Comandante da Marinha…
PN – E não foi isso que aconteceu…
CA Valicente – Não! Claro que não! Aliás foi o contrário… Estando fora do Brasil na época, foi o almirante Leal Ferreira que pediu ao seu substituto imediato, almirante Ilques, para fazer uma visita de cortesia e solidariedade ao presidente eleito.
PN – O senhor deve ter lido o artigo de uma revista eletrônica aparentemente controlada por oficiais da reserva do Exército intitulado “ficar em CIMA DO MURO” fez com que a Marinha perdesse o Ministério da DEFESA, diz militar.
CA Valicente – Li, mas isso foi uma palhaçada. Desde o início de seu Comando o almirante Leal Ferreira está determinado a encerrar a carreira ao final da gestão. A prioridade dele agora é estar mais perto da família, que em parte mora fora do Brasil, e cuidar da mãe que é idosa. Todos que o cercam na Força sabem disso.
PN – O senhor pode dizer, com segurança, que o processo de substituição do almirante Leal Ferreira está indefinido?
CA Valicente – Completamente indefinido, e nem o almirante Leal Ferreira foi consultado sobre esse assunto. Pelo menos até agora.
PN – Assunto que não foi tocado nem mesmo durante a visita do deputado Bolsonaro ao Comando da Marinha na semana passada…
CA Valicente – Não, não, havia muita gente nessa ocasião… em determinado momento todos os quatro estrelas foram convidados ao gabinete do Comandante, para cumprimentar o presidente eleito…
PN – E essa oportunidade serviu para que Leal Ferreira ou seus colegas do Almirantado defendessem mais verbas para esse ou aquele projeto? Para a construção dos navios da Classe Tamandaré, por exemplo…
CA Valicente – Não, e nem o presidente Bolsonaro aludiu a projeto algum em particular. Ele só repetiu, por mais de uma vez, que tem a preocupação de apoiar todos os projetos estratégicos das Forças Armadas…
PN – À imprensa ele falou no fim do contingenciamento dos orçamentos da Defesa…
CA Valiciente – Essa é uma boa notícia, sem dúvida, mas nós queremos mais do que isso, queremos mais orçamento também…
PN – O senhor confirma o plano da Marinha de entregar o PMG dos submarinos classe IKL Tamoio e Tapajó aos cuidados da ICN [Itaguaí Construções Navais] no complexo naval militar de Itaguaí?
CA Valicente – Deixa eu explicar uma coisa. Você sabe que eu trabalhei no PROSUB [o contra-almiranteValicente foi, até o início deste ano, Assessor-Chefe do Programa de Submarinos da Marinha]. No começo de 2018, quando eu ainda estava por lá, fiquei sabendo de um estudo para determinar a exequibilidade de a MB confiar à ICN a manutenção de grande porte dos submarinos Classe IKL, mas os problemas para que isso fosse equacionado eram muitos…
PN – Seria necessário, por exemplo, transferir para Iperó parte dos técnicos que fazem esse serviço, hoje, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro…
CA Valicente – Com regimes de contratação diferentes daqueles adotados pela ICN, que é uma empresa privada. Mas não é só isso. As instalações de reparos para submarinos em Itaguaí são modernas, mas estão configuradas para uma outra classe de submarinos [Scorpène, francesa], que nada tem a ver com a tecnologia alemã dos IKL-209. Seria necessário uma adaptação muito significativa, que eu nem sei dizer se é possível fazer a preços que a Marinha poderia pagar…
PN – De qualquer forma, a Marinha está preocupada com a possibilidade de Itaguaí gerar receitas novas para a ICN, fala-se no reparo de navios offshore também…
CA Valicente – E aí sobrevém outro problema: é que, hoje, a ICN é uma Sociedade de Propósito Específico. Isto é, ela foi criada para produzir quatro submarinos convencionais e um nuclear. Para que ela se lance em projetos de outra natureza precisará alterar esse modelo de organização. Sei que a ICN está estudando realizar a modificação, para aceitar contratos de reparos de embarcações, mas não sei em que estágio esse processo se encontra.